O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 16 de maio de 2008

Novas Lendas – Velhos Alfabetos



Os «sussurradores do cavalo» ReUNiAm-Se para o voo das Serpentes. Os alfabetos traçaram linhas rectas para gravar na árvore o segredo dos ventos e da neve. Livres, desenhavam no ar curvilíneas asas que desapareciam no espaço.Chegaram à margem do Anna, onde Serpes dormia. Deixaram as terras de Ophiuso com lágrimas petrificadas. Ao olhar as águas as letras dissolviam-se no azul. O alfabeto cónio soltava os ventos, as runas desapareciam no mar.
As vozes segredavam mistérios. Avieno repetia:
Diz-se que desde aqui [do Promontório Sagrado/Cabo de São Vicente] até ao rio Ana [Guadiana] há um percurso de um só dia…
Para as Serpentes aladas, era a distância de um segundo. O herói chegou a tempo das primeiras colheitas, tendo como aliado Zéfiro, amigo dos Lysis dessas terras a ocidente da península. Avieno chamou-lhe Ofiusa, “terra da serpente”. Serpentes seria uma antiga tribo de iniciados numa via antiga.
O povo de Apolo, adoradores de Odin, e o povo de Oestrimini não esqueceram o idioma. Mas os Strymonioi foram viver para as terras trácias perseguidos pelas serpentes.
Em Olissipo foi construído um templo em cada colina.
Quando Ulisses iniciou a viagem de regresso, de novo a voz se ouviu:
Se alguém cruza, de barco, o maciço de Zéfiris e se dirige para o Mediterrâneo, é empurrado sem parar pelas rajadas do vento Favónio.
Os povos do Norte e os povos da primitiva escrita cónia conservaram afinidades e cultivaram o seu fascínio pelo mar e pelas viagens.
Ainda hoje se ouve no Cabo consagrado o som do velho «sussurrador de cavalos» que adormeceu sobre a pedra branca do tempo.
A Serpente Emplumada dizia na voz do poeta: «Eu, da raça dos Navegadores, desprezo tudo o que seja menos do que descobrir um Mundo Novo !» E a palavra fez-se caminho.


8 comentários:

Anónimo disse...

Muito obrigada, Saudades do Futuro, por teres publicado este texto. Adorei!

Anónimo disse...

Pode-se saber mais sobre os Oestrímnia e os Oestrímnios ?

Anónimo disse...

Cara curiosa,

Rufio Avieno na sua “Ora Marítima” refere a existência de uma região, um pais, «os dos Oestrimnios» (vv, 154-157) povo habitante do noroeste peninsular, zona que teria ficado deserta por causa de uma invasão do serpentes. Crê-se, contudo, que estes animais seriam totémicos para esse povo. Avieno usa o termo Ophiusa, país das serpentes, para designar a península ibérica no seu conjunto.

Para nós é um espaço para a construção ficcionada de um sonho que alguém teve por nós. Não sou especialista… mas, se procurar, encontrará novos dados.

Anónimo disse...

E alguém saberá o significado de "Oestrímnios" ?

Anónimo disse...

Caro curioso,

In Latin poetry Oestreminis ("Extreme West") was a name given to the territory of what is today modern Portugal, comparable to Finis terrae, the "end of the earth" from a Mediterranean perspective. Its inhabitants were named Oestrimni from their location.

«Ophiussam ad usque. rursum ab huius litore
internum ad aequor, qua mare insinuare se
dixi ante terris, quodque Sardum nuncupant,
septem dierum tenditur pediti via.
Ophiussa porro tanta panditur latus
quantam iacere Pelopis audis insulam
Graiorum in agro. haec dicta primo Oestrymnis est
locos et arva Oestrymnicis habitantibus,
post multa serpens effugavit incolas
vacuamque glaebam nominis fecit sui.»

De qualquer modo, obrigada pelo comentário.

http://gl.wikipedia.org/wiki/Conversa:Oestrimnios

Anónimo disse...

Curioso, sempre pensei que tivesse a ver com o "oïstros" grego, o furor provocado pela picada do moscardo, que se tornou num termo técnico para designar o transe dionisíaco e de onde vem o nosso "estro", a inspiração criadora...

Anónimo disse...

...picada de moscardo ou picada de tarântula...(ainda hoje se fazem cerimónias, rituais pagãos cristianizados, sobretudo na Itália meridional)muitos caminhos podem ser seguidos dos antigos rituais dionisíacos...
Nós somos desse lugar...
Mas a história acaba sempre na "picada do amor"...

Unknown disse...

segundo Rufo Festo Avieno serpente era como os oestrymnios designavam os celtas (seus inimigos).