O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Notas sobre António Quadros

A propósito de «Ficção e Espírito»*, de António Quadros
A auto-biografia

(...) Porquê a auto-biografia? Porque ela é a possível autenticidade. A impossível verdade. Porque nela se procura a súmula do escritor-autor, porque é a verdadeira existência a exprimir-se e a revelar-se depois da vida, depois do erro, depois da obra. Já não é o livro a construir-se, é a lucidez a confessar-se, é a suma existencial a dizer-se. (...)
*(Livro de António Quadros, de 1971, ainda ensaístico mas entrecortado de páginas memoralistas.)

3 comentários:

Joana Serrado disse...

antónio quadros fala sobre aquestao da autobiogrfia? Em geral, entre genero literario e filosofico? gostaria de saber mais. Ando a estudar isso. Obrigada pela dica.

Anónimo disse...

Sim, em «Ficção e Espiríto» de 1971. Onde reflecte, entre outros assuntos, sobre as biografias de Ruben A., André Malraux, Nikos Kazantzaki, Jung e Berdadiev. Deste último, esta passagem (que António Quadros recupera) parece-me particularmente interessante.

“Este livro que escrevo sobre mim próprio não contém invenção, mas é uma interpretação e um conhecimento filosófico do meu eu e da minha vida. Esta interpretação e este conhecimento não são uma reminiscência do passado, mas, sim, um acto criador que se produz no momento presente. O valor desse acto é determinado pelo grau da sua elevação acima do tempo existencial, isto é, na eternidade. A vitória sobre o tempo mortífero foi a ideia essencial da minha vida. Este livro é franca e conscientemente egocêntrico, mas aqui o egocentrismo, sempre desagradável, é compensado pelo facto de que de mim e da minha vida faço um objecto de conhecimento filosófico.”

Joana Serrado disse...

obrigada!é-me muito útil