quinta-feira, 10 de setembro de 2009
A Pura Face
Como encontrar-te depois de ter perdido
Uma por uma as tardes que encontrei
Ó ser de todo o ser de quem nem sei
Se podes ser ao menos pressentido?
Não te busquei no reino prometido
Da terra nem na paixão com que eu a amei
E porque não és tempo não te dei
Meu desejo pelas horas consumido
Apenas imagino que me espera
No infinito silêncio a pura face
Pr'além de vida morte ou Primavera
E que a verei de frente e sem disfarce
- Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto, Lisboa, Caminho, 2006, 8ª edição, revista, p.42.
Uma por uma as tardes que encontrei
Ó ser de todo o ser de quem nem sei
Se podes ser ao menos pressentido?
Não te busquei no reino prometido
Da terra nem na paixão com que eu a amei
E porque não és tempo não te dei
Meu desejo pelas horas consumido
Apenas imagino que me espera
No infinito silêncio a pura face
Pr'além de vida morte ou Primavera
E que a verei de frente e sem disfarce
- Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto, Lisboa, Caminho, 2006, 8ª edição, revista, p.42.
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15 comentários:
"Sophia, na face pura o perfume..."
Como, em verdade, encontrar após haver perdido? Mas, como perder o que sequer pode encontrar-se?
E como morrer-se realmente se, morrendo, abandonamo-nos a um encontrar que, diz-se, assim idos e levados, nos encontra aturdidos ainda na procura achada em tanto desencontro?
Não há encontro que logo nos não seja antevéspera de algum prematuro despedir.
Jamais hemos de deixar, na mão fria da memória dos anseios, o que trazemos intacto desde o sempre do olhar primeiro que nos desencontrou.
É mais sem disfarce e mais defrente o que encontrássemos jamais, do que o lembrar errante de quanto empós haver imaginámos.
...É pura a face de Sophia, a dos perfumes, como jamais...
AO NATURAL
Que longe estás de mim, lá no infinito,
tão longe e tão distante que pareces
de todo indiferente às minhas preces,
como se fosses feito de granito!
Por mais que eu te deseje vislumbrar
no céu, no firmamento, em qualquer parte,
deparo sempre com um baluarte
que me impede, meu Deus, de te avistar.
Perdida a esperança de te ver
durante a vida, quase terminada,
terá de ser então quando eu morrer!
Espero não tardar... para afinal,
sem barbacã, muralha ou paliçada,
eu ver a tua face ... ao natural!
JOÃO DE CASTRO NUNES
COMO SERÁS?...
Como serás, meu Deus?... como será
teu rosto, a tua face, o teu olhar,
teu modo de sentir e de julgar
quanto de mal ou bem fazemos cá!
Que língua falarás?... será latim,
hebraico, grego antigo, português?
Seja qual for, uma de cada vez,
não fazem diferença para mim!
Não sei se hei-de ter medo ou alegria
de me encontrar contigo qualquer dia
no sítio e hora exacta que marcares.
Decerto me ouvirás em tribunal
com caridade, que é a principal
das tuas prescrições elementares!
JOÃO DE CASTRO NUNES
Creio ser quase escusado aqui dizer que onde, no meu comentário, se lê "defrente" deve obviamente ler-se "de frente".
Isto, para bem da "ortocaligrafia" (1), e por respeito para com a expressão usada por Sophia, no seu poema.
P.S.
Hum?! Não sei porquê, mas algo me faz sentir aqui um pouco como se estivesse nuns "jogos florais"...
Há sempre uma primeira vez para (quase) tudo... O que me havia de calhar...!
A sensação não é má, mas também... não é boa, digamos.
Como direi? Se não é boa nem má, há-de ser "assim assim"...
Enfim, já está dado para este "peditório"...
Ai, Sophia, os preitos por que mais te desmerecem!
(1)Parece-me que há muito quem não alcance que a escolha duma fonte gráfica equivale, de facto, a uma opção "cali"-gráfica...
Miopias! Ao natural, ou ... como seja!
És muito pequenino, pá!... Causas-me... pena! JCN
Do ponto de vista crítico, haja reciprocidade... na moderação! Freio na língua! E, sobretudo... armas iguais. Abaixo o "seixo rolado" contra o florete. Detesto jogar "à calhoada"! Não queiram fazer de mim... o pano vermelho! Sei como driblar... as investidas, ao jeito dos "jogos florais". JCN
"Atirai calhaus, medíocres!" - Rubén Darío.
Bom Dia, Dr. JdeCN.
Caso lhe falhe a memória ou a lembrança, alguém disse que desses, dos "pequeninos", seria um certo reino.
Eu, por vezes, posso parecer estar a trabalhar bem para ficar à porta.
Mas, quem sabe, antes "à porta" do que "mal entrado"...
Se não entende que o tom de quem nos fala ou fale é sempre um apelo e um convite à melhor virtude, estamos conversados.
É a última vez que nos dirigimos palavra, caro senhor.
Se ma dirigir (óbvio, poderá fazê-lo), estará, tal como aqui já, a falar sozinho.
Deve ser o que mais prefere.
Passe bem. Ponto final.
Lá "fugiu" vossemecê, uma vez mais, pela porta do cavalo! JCN
Por causa dos "jogos florais", V. Exª , temendo perdê-los, cancelou as suas proganadas e, quiçá, bem merecidas férias?!... Tenha calma, homem de Deus! Não se amofine! E, entretanto, recorra ao grego para, etimologicamente, distinguir entre "caligrafia" (o belo) e "ortografia" (o correcto). ELEMENTAR, senhor DAMIEN! Absolutamente... ELEMENTAR! JCN
P.S. - "Galhardamente", como V. Exª sói dizer, apertemos as mãos na despedida, com a recomendação de poupar à perfumada Sofia a sujeição a uns quaisquer provincianos "jogos florais". Foi um prazer dialogar consigo, cada qual ao seu jeito, ainda que diferentemente municiados. Para a próxima, se próxima houver, terei o cuidado de me prevenir com uma boa dúzia de calhaus neandertalicamente afeiçoados. Valeu?! JOÃO NUNES DE CASTRO
Uma última palavra (costumo ser sempre o último a dar por encerrada uma conversa (a vos do Mestre): "cali"-graficamente falando, o que V. Exª chama de "MIOPIAS"... eu denomino de "TRETAS"! Coisas pequeninas... para "pequeninos", que em bom castelhano gozam da afectiva designação de "párvulos". Quem me dera! JCN ou JNC
Corrijo, na segunda linha, a gralha "vos" por "voz". Pelo sim pelo não! JCN
«Espero não tardar... para afinal,
sem barbacã, muralha ou paliçada,
eu ver a tua face ... ao natural!»
Como será a face de Deus? Que barbacãs, muralhas, paliçadas são essas que nos impedem de ver a face de Deus? Ao natural... Terá Deus uma face, ou o Deus que tem face é o criador do mundo antropocêntrico, possivel para o homem havendo um outro, o (a)deus sem face e para além dos limites da visibilidade humana? Como procurá-lo se não é procurável? Como vê-lo se (a)deus é invisível?
Será que ele está tão, tão, tão distante que por mais que nos esforcemos não o conseguimos agarrar? Ou será que ele não está distante nem perto nem é agarrável e manejável sendo todo o esforço vão, inútil, entorpecidor da des-coberta de (a)deus? Não é a palavra (a)deus um esforço fútil de evocar o (in)evocável?
Quando os poetas se libertarem do jugo da crítica, quer ela seja aprazível ou dolorosa, macia como o veludo ou espinhada como os ouriços, o poeta é o poema; quando o poeta derrubar os muros construídos com tijolos de irascibilidade que o rodeiam e limitam e queimar os moldes que dão origem à forma do estuque das paredes, o poeta é poema; e ser poema é ser as estrelas, as ondas, o vento, o mar, o perfume das rosas, o olhar da mamã que vê o seu recém-nascido a sorrir pela primeira vez, as vozes ardentes dos amantes que se amam na calidez nocturna... Tudo o que um poeta é na sua essência vazia... Que esforço eu preciso de dispender para me tornar poema... Uff!
Mas olhe, senhor KUNZANG, que vale a pena fazer essse esforço, se acaso ele acabar em "poema". Essa é a questão! JCN
Eu não escrevi com ironia... Não sou livre de espírito para satirizar ou ironizar como o fazem os grandes mahasidhas. Preciso mesmo de me esforçar para me tornar poema, embora sê-lo dá-se sem esforço.
Deus o ouça! JCN
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