O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 13 de setembro de 2009

MISSÃO CUMPRIDA!

Morrer, fechar os olhos, devagar,
vencido pouco a pouco pelo sono,
suavemente, sem dramatizar,
como folha caída em fim de outono;

morrer assim, dizendo adeus a todos
sem mágoas de maior nos corações,
as mãos nos apertando com bons modos
londe de mútuas recriminações;

era o maior dos bens que eu poderia
de Deus haver, quando chegar o dia
do meu regresso à bem-aventurança!

Ao retornar ao mundo donde vim,
nada mais quero que deixar lembrança
de haver amado... mesmo até ao fim!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Coimbra, 12 de Setembro de 2009.

1 comentário:

João de Castro Nunes disse...

No último verso da segunda quadra, corrijo a gralha "londe" por "longe". JCN