quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
vou fazer muitos poemas e engatar muitas raparigas. e fazê-las
pensar que sou daqueles que passo horas em frente ao mar, a estudar
o voo ascendente dos peixes, a deitar gotas de
cio nas palavras para
que se sintam desejadas. vou fazer muitos poemas de amor, tantos
quantos possíveis para engravidar todas as raparigas solteiras do
mundo que me queiram ler. e ter filhos
que mais tarde vêm ter
à minha porta e ver que eles são aquilo que inventei para serem.
ter nos versos um certo desgosto para que tenham pena e me
atirem beijos do mar em que estão. quando me sentar para
escrever quero ser homem aos poucos, ter a felicidade de uma
rameira ao finalmente chegar a casa, pôr o fogão no mínimo,
abeirar-se da cama e sonhar com o milagre das coisas boas.
vou fazer muitos poemas, tantos que a minha mãe me dirá
para parar se não quiser enlouquecer. mas eu digo-lhe, que
assim seja, que me afunde contra as palavras e o mundo seja
apenas um verso
em que arrisco a vida.
as raparigas solteiras vão ficar palermas ao ler os meus poemas
que falam e soletram
aquilo que elas escondem debaixo das suas saias. vão querer
tatuar frases minhas no fundo das costas para que junto delas
reclame direitos de autor.
e vou rimar fogo e água no mesmo coração,
e vou tirar as botas às letras
maiúsculas, depois abrir a torneira aos dias claros e existir longamente.
as raparigas solteiras não vão querer ficar menstruadas no dia em
que fizer poemas, e o meu pai bater-me-á
se cometer uma qualquer discordância ortográfica, e nem me deixará mudar de linha
enquanto a noite tiver escárnio na língua. as casadas que me perdoem
mas vou fazer muitos poemas para as raparigas solteiras, tirar-lhes
as medidas letra a letra e acabar nos seios delas com uma
menção honrosa. quando escrever quero mijar no tempo
para não perder demora, fazer de conta que a vida me fascina
e ser a terra onde o cão esconde o osso.
inventarei um morto
e roubarei ao Herberto Hélder sangue e luz dos seus livros
para assim cantar como canta o fogo
Vou fazer muitos poemas, tantos que a caneta ejaculará a
sua tinta azul fluorescente por toda a página e as raparigas
solteiras pensarão que a proeza foi toda minha, e
perguntarão à minha mãe onde vou morrer esta noite,
onde guardo o nome dos remédios valiosos
vou escrever nos bilhetes de comboio,
nos manuais de instruções,
nos peitos das aves,
nos sinais de trânsito,
no coração da luz,
no cu do judas,
no céu do meu quarto,
vou ter grandes erecções
só de pensar que nenhum crítico me vai ler, que nas estantes
bibliotecárias só os poetas loucos me dirão, podes vir.
ah, vou fazer tantos poemas que os animais vão querer provar desse pasto,
a lua vai-se algemar e a solidão vai fugir com um italiano.
vou dar cabo das religiões,
entrar no fogo da simbologia,
abrir o túmulo do Fernando Pessoa e sacar-lhe inéditos. e as raparigas
solteiras vão-me admirar toda a eternidade, vão querer casar com
todos os meus eus, os meus mins que andam de cá para lá algures
entre o crânio e os carpos. e eu, assombrado como um deus
a aprender o instinto, a ter amor em cada palavra
e matar
a anterior.
E as raparigas solteiras que não sabiam que matar
era morrer, choram, ao perceberem que o poema afinal, acaba mal
pensar que sou daqueles que passo horas em frente ao mar, a estudar
o voo ascendente dos peixes, a deitar gotas de
cio nas palavras para
que se sintam desejadas. vou fazer muitos poemas de amor, tantos
quantos possíveis para engravidar todas as raparigas solteiras do
mundo que me queiram ler. e ter filhos
que mais tarde vêm ter
à minha porta e ver que eles são aquilo que inventei para serem.
ter nos versos um certo desgosto para que tenham pena e me
atirem beijos do mar em que estão. quando me sentar para
escrever quero ser homem aos poucos, ter a felicidade de uma
rameira ao finalmente chegar a casa, pôr o fogão no mínimo,
abeirar-se da cama e sonhar com o milagre das coisas boas.
vou fazer muitos poemas, tantos que a minha mãe me dirá
para parar se não quiser enlouquecer. mas eu digo-lhe, que
assim seja, que me afunde contra as palavras e o mundo seja
apenas um verso
em que arrisco a vida.
as raparigas solteiras vão ficar palermas ao ler os meus poemas
que falam e soletram
aquilo que elas escondem debaixo das suas saias. vão querer
tatuar frases minhas no fundo das costas para que junto delas
reclame direitos de autor.
e vou rimar fogo e água no mesmo coração,
e vou tirar as botas às letras
maiúsculas, depois abrir a torneira aos dias claros e existir longamente.
as raparigas solteiras não vão querer ficar menstruadas no dia em
que fizer poemas, e o meu pai bater-me-á
se cometer uma qualquer discordância ortográfica, e nem me deixará mudar de linha
enquanto a noite tiver escárnio na língua. as casadas que me perdoem
mas vou fazer muitos poemas para as raparigas solteiras, tirar-lhes
as medidas letra a letra e acabar nos seios delas com uma
menção honrosa. quando escrever quero mijar no tempo
para não perder demora, fazer de conta que a vida me fascina
e ser a terra onde o cão esconde o osso.
inventarei um morto
e roubarei ao Herberto Hélder sangue e luz dos seus livros
para assim cantar como canta o fogo
Vou fazer muitos poemas, tantos que a caneta ejaculará a
sua tinta azul fluorescente por toda a página e as raparigas
solteiras pensarão que a proeza foi toda minha, e
perguntarão à minha mãe onde vou morrer esta noite,
onde guardo o nome dos remédios valiosos
vou escrever nos bilhetes de comboio,
nos manuais de instruções,
nos peitos das aves,
nos sinais de trânsito,
no coração da luz,
no cu do judas,
no céu do meu quarto,
vou ter grandes erecções
só de pensar que nenhum crítico me vai ler, que nas estantes
bibliotecárias só os poetas loucos me dirão, podes vir.
ah, vou fazer tantos poemas que os animais vão querer provar desse pasto,
a lua vai-se algemar e a solidão vai fugir com um italiano.
vou dar cabo das religiões,
entrar no fogo da simbologia,
abrir o túmulo do Fernando Pessoa e sacar-lhe inéditos. e as raparigas
solteiras vão-me admirar toda a eternidade, vão querer casar com
todos os meus eus, os meus mins que andam de cá para lá algures
entre o crânio e os carpos. e eu, assombrado como um deus
a aprender o instinto, a ter amor em cada palavra
e matar
a anterior.
E as raparigas solteiras que não sabiam que matar
era morrer, choram, ao perceberem que o poema afinal, acaba mal
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