O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

FESTA

Entre touros e porcos - sangue
O homem trabalha todos os dias
Num só, mata a sede e a fome
O corpo treme e fode

Aquele morreu de morte matada
Na cela o grito seco, calado
No corpo, a dor não revelada
Um buraco na terra
Dentro dela, a mulher adúltera
No rosto, a vergonha explorada
Na mão do justiceiro, pedras
Na procissão, um anjo de cera
Nas costas, o peso
 
Entre touros e porcos -  sangue
Ordena a tradição, submissão
Grita o porco por compaixão
Na mão do homem - faca afiada
De morta matada
Morreu apedrejada
Um é preto, outro pobre
Criança sem nome, com fome
Na rua, a procissão
Nas costas, um anjo
Pobres de espírito
Pobres, sem nome
 
Dia de festa

Dá-me teu corpo suado, em nome do Homem
Rega meu ventre de vinho, em nome do Homem
Rasga-me por dentro, em nome do Homem
Amanhã parte, em nome da Liberdade

Ama.

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