segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
JANTAR
Jantei ontem na casa da Aurora. Entre corredores e portas habitam quadros, livros, estantes. Preso ao tecto, no hall de entrada dança uma mandala azul, feita de lixo reciclado.
No caminho para a casa de banho pensei nas voltas que dou à procura de um espaço para respirar. Não fosse o lavagante à minha espera no prato e teria ficado mais um bocado sentada na sanita, ganhando folego.
Existir, nem sempre é fácil. Aqui todas as paredes estão decoradas. Aqui habita a cultura arrumada em prateleiras. Os castiçais são originais. Uns tem mais velas que outros. Perguntam-me se festejei o Hanukkak, no dia 2 de Dezembro. Como o poderia? Nunca sei a data. A última vez que o celebrei foi na escola primária.
- O lavangante reclama tua presença!
Na sala de jantar, no canto direito um pinheiro lembra o Natal. No meu prato, um lavangante morto faz-se acompanhar de uma salada verde. Em seguida, um perú completa a festa dos animais sacrificados. Estamos na quadra onde todos fazem votos de felicidade. Enquanto ela corta a perna do animal, ele levanta o cálice em nome do amor ao próximo.
Na sala partilha-se um passado que me esqueci. Ele reclama, ela exclama. Se eu pudesse regressava à casa de banho. Não consegui contar todos os azulejos. Uns são mais verdes que os outros. Não sei quantos são.
- Vocês fizeram obras na casa?
- Só na casa de banho. Colocámos as máquinas, lá. Assim ficam longe da cozinha.
Lembro do forno. Dentro dele, restos de perú guardados. No lixo, as cascas dos lavagantes.
Peço desculpas, estou cansada e já passa da meia-noite. Despeço-me agradecida.
Entre abraços e beijos, ansiosa pergunto:
- Não se importam que eu volte cá um dia destes? Preciso acabar de contar os azulejos mais verdes.
A noite está fria. Na minha casa respiro entre quatro paredes namoradeiras. Um dia corro o risco da sala se transformar num corredor, tal é a tentação dessas paredes serem só uma.
No caminho para a casa de banho pensei nas voltas que dou à procura de um espaço para respirar. Não fosse o lavagante à minha espera no prato e teria ficado mais um bocado sentada na sanita, ganhando folego.
Existir, nem sempre é fácil. Aqui todas as paredes estão decoradas. Aqui habita a cultura arrumada em prateleiras. Os castiçais são originais. Uns tem mais velas que outros. Perguntam-me se festejei o Hanukkak, no dia 2 de Dezembro. Como o poderia? Nunca sei a data. A última vez que o celebrei foi na escola primária.
- O lavangante reclama tua presença!
Na sala de jantar, no canto direito um pinheiro lembra o Natal. No meu prato, um lavangante morto faz-se acompanhar de uma salada verde. Em seguida, um perú completa a festa dos animais sacrificados. Estamos na quadra onde todos fazem votos de felicidade. Enquanto ela corta a perna do animal, ele levanta o cálice em nome do amor ao próximo.
Na sala partilha-se um passado que me esqueci. Ele reclama, ela exclama. Se eu pudesse regressava à casa de banho. Não consegui contar todos os azulejos. Uns são mais verdes que os outros. Não sei quantos são.
- Vocês fizeram obras na casa?
- Só na casa de banho. Colocámos as máquinas, lá. Assim ficam longe da cozinha.
Lembro do forno. Dentro dele, restos de perú guardados. No lixo, as cascas dos lavagantes.
Peço desculpas, estou cansada e já passa da meia-noite. Despeço-me agradecida.
Entre abraços e beijos, ansiosa pergunto:
- Não se importam que eu volte cá um dia destes? Preciso acabar de contar os azulejos mais verdes.
A noite está fria. Na minha casa respiro entre quatro paredes namoradeiras. Um dia corro o risco da sala se transformar num corredor, tal é a tentação dessas paredes serem só uma.
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