NATAL -
sobre as palhinhas deitado
não fui eu que lá O pus
se fosse eu tinha cuidado
de O proteger do mau tempo
com luvas e agasalhos
um gorrinho contra o vento
uma manta de retalhos
se fosse eu tinha cuidado
de acender-lhe um lume perto
eu próprio tinha ficado
a vigiá-lO - desperto
bem lhe tinha preparado
leite quente e chocolate
e às colherinhas lhe dado
evitando o disparate
do excesso que faz bolçar
crianças da sua idade
de costas ter que O voltar
bater-lhe com suavidade
até o pobre arrotar
ou bolçar mesmo que pouco
e eu a ficar meio-louco
sem saber como O tratar
uma gemada lhe faria
com dois ovos da vizinha
e uma canja de galinha
que lhe desse a substância
que requer qualquer criança
acabada de nascer
pediria ao S. José
que fosse a Belém a pé
e lhe trouxesse farinha
Nestlé - ou sendo caro,
um pacotinho de Amparo
ou mesmo da 33
que eu tinha visto uma vez
deste produto um preparo
para alimentar um indez
e não era caso raro
entre o povo português
e S. José preparou-se
num instante e foi e trouxe
o que eu lhe tinha pedido
que dinheiro ainda tinha
dos tempos de carpinteiro
que o fisco - não como cá -
lho não levou por inteiro
assim eu teria feito
ao meu menino Jesus
e já quando homem adulto
lhe daria por conselho
que não aceitasse o insulto
de o pregarem numa cruz
outro foi o seu caminho
e há quem vá à Igreja
admirar suas chagas
chorando lágrimas vagas
pelo seu pobre Jesus
não fui eu que lá O pus
sou contra a história da cruz
só sei dizer: coitadinho
com este frio - coitadinho
3 comentários:
Tão de ternura e zelo e cuidado tratado, o "teu" Menino Jesus. Senti o agasalho do seu cobertor no meu peito tão de pertença ao mundo vizinho do cuidado maternal.
Bom Natal, Platero, meu Amigo!
imperdoável não falar na mãe do pequerrucho.
não imaginas como eu gosto de crianças. Este, com um dia apenas, seria logo tratado a canja de galinha.
vai para ti uma quadra - mais quaresmal do que natalícia - feita também hoje
:
foi na cruz que morreu Cristo
entre dores e agonias
eu morro desde que existo
sem sofrer - todos os dias
fica então, com um beijinho, como prenda de Natal
Pois é, Platero, gosto que me ofereças quadras pelo Natal, mesmo que sejam da quaresma ou do carnaval.
Sem sofrer é que a gente se entende!:)
Vou responder-te à maneira do “Obscuro” (do qual tenho saudades) e do seu irmão, “alma do obscuro” de saudosa memória:
Foi na Serpente Emplumada
Entre vozes e trovejos
Que eu trouxe o céu e a terra
P´ra te “rebentar” com bêjos.
(De sotaque alentejano)
Sorrisos, Platerito!
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