O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Salmo

Ninguém nos moldará de novo em terra e barro,
ninguém animará pela palavra o nosso pó.
Ninguém.

Louvado sejas, Ninguém.
Por amor de ti queremos
florir.
Em direcção
a ti.

Um Nada
fomos, somos, continuaremos
a ser, florescendo:
a rosa do Nada, a
de Ninguém.

Com
o estilete claro-de-alma,
o estame ermo-de-céu,
a corola vermelha
da purpúrea palavra que cantámos
sobre,
oh sobre
o espinho.

Paul Celan in "Sete Rosas Mais Tarde", Edições Cotovia, Lisboa, 1996,pp 103 - 105
(Tradução de Yvette K. Centeno e João Barrento)

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Pires dos Reys disse...

Se não me arriscasse a ser aqui mal interpretado, diria: Aaah...!

Belo "salmão" de Celan, minha Amiga!

Um beijo, Maria!
Só um - por causa do déficit público!
O resto vai em sorrisos! :))