O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espontânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias..

As cinco letras em vidro

É um estilete de luz
a imensidade de que és feita
e contorna um azul-sonho-neve
igual aos cabelos que descobri a saírem da tua boca
- dos teus olhos de imaginação
- dos teus lábios curvos de aurora.

Saímos
enquanto as pessoas olhavam admiradas o Arco do Triunfo
deixando escorrer dos bolsos fitas e serpentinas
para tudo se passar como no pássaro
para deixar objectivamente escrito
nas margens do rio
do Mar
- o continente submerso
- o navio de todos os amantespor onde rola a carruagem em que viajamos
pintada de Liberdade e de Poesia
contigo a dormir sobre o meu peito.

POR ISSO EU SENTI SER FÁCIL O SUICÍDIO
FÁCIL E POSSÍVEL.

Fixou-se no muro da tua residência
sobre a porta que se abre ao visitante
um símbolo mágico e de cabala
- a oportunidade do meu regresso
- a história maravilhosa que te direi na viagem.

Procurei
nas folhas espalhadas pelo nosso leito
a recordação do que há-de vir
- apenas no esparso
- no diverso
- no acto simultâneo de defesa
- no viajar de aeróstato incógnito de distância
- na noite mágica

NA PRIMEIRA GRANDE NOITE MÁGICA QUE NÓS
TIVEMOS.

Abriu-se a janela que caminhava sozinha
e saiu um sonho simples de criança:

O METEORO DA TRANSFORMAÇÃO

pousado a um canto o meu Jogo de Cabala
(um montinho de quadrados,
de círculos, de triângulos,
dispostos geometricamente
sobre um tabuleiro grande)

o meu Tratado de Magia Humana

(um caminho de ogivas, um
relógio a dar horas sobreum túmulo em pé, os postes
magnéticos, os cordões da angústia)

FALO - no Laboratório Mágico ao dar-se a aparição espon
-tânea de Lautréamont e Freud que traziam sobre as
sobrancelhas um corte fino a atravessá-Ias lado a
lado:
-Ao aparecer a mulher escandalosamente
vestida de vermelho
ele dirige-se para a jovem
e os outros passeiam sobre as rochas
onde fica oculto o corpo do homem que chega continuamente

MUDO APONTA O HORIZONTE.

(In A Intervenção Surrealista)
ANTÓNIO MARIA LISBOAO Surrealismo na POESIA PORTUGUESA

organização, prefácio e notas, Natália Correia)

2 comentários:

Luiz Pires dos Reys disse...

António ponto
Maria pesponto
Lisboa catraponto!

Anónimo disse...

Ó pá!
Ó pó!
Ó pi!
:)))))