O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sacralização da Mulher

Ao procurarmos todavia possíveis fontes desta notável sacralização da mulher e do amor a ela, numa obra que se destaca pela narrativa do aprendizado de Cristo no Oriente bramânico e budista, não podemos todavia esquecer aquela tradição que, seja hindu ou budista, tem como uma das características principais o reconhecimento e a veneração da divindade ou sacralidade da mulher, assumindo ainda plenamente a vocação da sexualidade para a abertura religiosa e espiritual da consciência. Referimo-nos à tradiçao tântrica que, embora com diferenças no hinduísmo e no budismo, faz da mulher e do simbolismo feminino feminino do absoluto, objecto de uma devoção particular. Se no primeiro existem rituais preliminares à união sexual em que a consorte é venerada como uma deusa, no segundo, a par disso, o décimo-quarto interdito tântrico, nas escolas budistas tibetanas da Nova Tradução, é o de "Desprezar as mulheres", que, pelo contrário, devem ser consideradas como manifestações da "sabedoria" e como "dakinis" (entidades femininas subtis). Toda a forma de misoginia é assim uma falta grave. Há nas palavras de Issa, a nosso ver, uma nítida atmosfera tântrica, sendo bastante plausível, a verificar-se uma veracidade histórica do manuscrito descoberto por Notovich, que este Cristo desconhecido haja sido iniciado nas fontes espirituais daquela que é poventura a sabedoria mais profunda de todas as regiões por si visitadas - se bem que os primeiros textos tântricos propriamente ditos sejam posteriores, é de supor que tradição oral os precedeu -, ou que a narrativa acerca da sua viagem ao Oriente haja sido objecto de uma parcial releitura tântrica.

Paulo Borges, Prefácio O Cristo Desconhecido, in Nicolas Notovich, A Vida Desconhecida de Jesus Cristo, Lisboa, Mundos Paralelos, 2005, pp.29-30

3 comentários:

Paulo Borges disse...

O que é que este tipo (PB) sabe do assunto?

"Mais vale experimentá-lo que julgá-lo, / Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo" - Luís de Camões

Anónimo disse...

ahahah!!!!!
Paulo, teve que ser.
É espontâneo. Não há como evité-lo.
Vamos lá "sacudir" um pouco as penas da Serpente. 'Estamos sempre a tempo de nunca havermos voado'

:))))))))))))))))))))))))

Saúde, Amigo!

Anónimo disse...

(Evitá-lo, ressalvo ;)))))
Já que "vitelo" é outro (o Mesmo) Departamento.;)

Agora ri bem e muito
Grata.