sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Blink
Esquecido no banco do vagão antigo,
um retrato imaginado através do visor da tua câmara,
havia-se escapado do portefólio.
Por uma fracção de segundo procuraste por ele
enquanto o revisor pacientemente aguardava
que lhe entregasses o passe.
É assim,
sem nada até aqui teres compreendido,
entregaste-lhe um bilhete,
pois é assim que os sonhos te aparecem…
ao veres a ideia surgir na face do pequeno talão,
estendes-lhe o braço, e acordas,
como é o hábito de todos os viajantes…
A tua memória é a fotografia…
e quando te esqueces de voltar às imagens
elas acabam por se arrumar em pilhas…
Uma sobre outra se implantam
Uma sobre outra te enformam.
Caprichoso artifício da câmara,
do oco de uma caixa preta
com uma larga correia de couro pendida,
és fruto de um dispositivo,
de um pequeno cubóide adornado por dois olhos
que através dele imaginam o que tanto anseias.
Crias-te na imagem.
Dois visores… - dirias…
um sobre o outro,
o outro sobre o lado…
como que abaulados para fora,
tal qual dois bombons de hortelã-pimenta,
como aqueles bombons de menta
que ingurgitas noite e dia.
Cursas rápido, sempre eterno,
e desembestas…
o acaso faz o resto – explicarias…
Mas… foi apenas um trémulo disparo,
um clicar meio bêbado
que te fez colocar
um quadrado virgem na célula crua
pronta a impressionar.
E eis que, mas…
é assim…
e impossível é saber-se mais que nada,
como agora meramente um símbolo,
um apenas, ou mais que um número a fixar,
mais um que retratasse esse instante
como se a memória começasse com a fotografia,
contigo,
que as fizeste notáveis,
ao chão e à paisagem,
ao céu sobre a terra,
ao mar sobre o chão,
à criança,
a ti,
a todo-o-mundo visto da plateia
a mais nada como ninguém…
Sorrias, choravas,
mas esqueceste-te de rodar a pequena peça
de alvo latão cromado, colado ao teu polegar…
É a plateia quem te observa
e não a fotografia que mais desejas.
O tempo, deve passar e passar…
Tanto no fim, como ao inicio,
todo ele é infante, dor aguda,
e isso acontece como quando tu a vês,
como quando tudo te é primeira vez.
Assistes a célula e isso faz de ti seu alguém.
É o mundo quem te cria e não a fotografia em que pensaste.
Às vezes, interrogas-te…
- talvez fosse utopia ou parte da história que eu sonhei,
e sonhei, e sonhei…
Mas, como em todas as histórias acontece,
mudas-te por fim,
subitamente de rumo,
cruzas-te por aquela rua repisada
e entras já atingido em um novo caminho
que julgas não muito estar desviado da tua própria casa,
onde hesitas,
mais-que-vacilas,
onde deixas de a reconhecer…
esqueces a cor das cortinas,
esqueces-te da forma das janelas,
esqueces-te de ti dentro do seu apartamento.
Ela, é a fotografia,
a que te abre a porta de casa
com um espelho de vidro na mão…
Havia um espelho, sim, um espelho…
e uma câmara coberta de pó colorido…
um imenso espelho decomposto em imagens,
um espelho incluso peça a peça
- e sorris…
Vês agora a janela que deixaste aberta,
vês-te por cima de uma rua deserta
onde antevês o que entanto aí se passeia…
teu inerme contorno que serpenteia,
a tremer, a tremer…
a forma do teu atelier
que rente está do chão…
no espelho sempre aberto
há essa imagem diferente
como um reflexo contínuo…
passado e presente…
Saíste para comprar tabaco
– é o que diz a fotografia
um retrato imaginado através do visor da tua câmara,
havia-se escapado do portefólio.
Por uma fracção de segundo procuraste por ele
enquanto o revisor pacientemente aguardava
que lhe entregasses o passe.
É assim,
sem nada até aqui teres compreendido,
entregaste-lhe um bilhete,
pois é assim que os sonhos te aparecem…
ao veres a ideia surgir na face do pequeno talão,
estendes-lhe o braço, e acordas,
como é o hábito de todos os viajantes…
A tua memória é a fotografia…
e quando te esqueces de voltar às imagens
elas acabam por se arrumar em pilhas…
Uma sobre outra se implantam
Uma sobre outra te enformam.
Caprichoso artifício da câmara,
do oco de uma caixa preta
com uma larga correia de couro pendida,
és fruto de um dispositivo,
de um pequeno cubóide adornado por dois olhos
que através dele imaginam o que tanto anseias.
Crias-te na imagem.
Dois visores… - dirias…
um sobre o outro,
o outro sobre o lado…
como que abaulados para fora,
tal qual dois bombons de hortelã-pimenta,
como aqueles bombons de menta
que ingurgitas noite e dia.
Cursas rápido, sempre eterno,
e desembestas…
o acaso faz o resto – explicarias…
Mas… foi apenas um trémulo disparo,
um clicar meio bêbado
que te fez colocar
um quadrado virgem na célula crua
pronta a impressionar.
E eis que, mas…
é assim…
e impossível é saber-se mais que nada,
como agora meramente um símbolo,
um apenas, ou mais que um número a fixar,
mais um que retratasse esse instante
como se a memória começasse com a fotografia,
contigo,
que as fizeste notáveis,
ao chão e à paisagem,
ao céu sobre a terra,
ao mar sobre o chão,
à criança,
a ti,
a todo-o-mundo visto da plateia
a mais nada como ninguém…
Sorrias, choravas,
mas esqueceste-te de rodar a pequena peça
de alvo latão cromado, colado ao teu polegar…
É a plateia quem te observa
e não a fotografia que mais desejas.
O tempo, deve passar e passar…
Tanto no fim, como ao inicio,
todo ele é infante, dor aguda,
e isso acontece como quando tu a vês,
como quando tudo te é primeira vez.
Assistes a célula e isso faz de ti seu alguém.
É o mundo quem te cria e não a fotografia em que pensaste.
Às vezes, interrogas-te…
- talvez fosse utopia ou parte da história que eu sonhei,
e sonhei, e sonhei…
Mas, como em todas as histórias acontece,
mudas-te por fim,
subitamente de rumo,
cruzas-te por aquela rua repisada
e entras já atingido em um novo caminho
que julgas não muito estar desviado da tua própria casa,
onde hesitas,
mais-que-vacilas,
onde deixas de a reconhecer…
esqueces a cor das cortinas,
esqueces-te da forma das janelas,
esqueces-te de ti dentro do seu apartamento.
Ela, é a fotografia,
a que te abre a porta de casa
com um espelho de vidro na mão…
Havia um espelho, sim, um espelho…
e uma câmara coberta de pó colorido…
um imenso espelho decomposto em imagens,
um espelho incluso peça a peça
- e sorris…
Vês agora a janela que deixaste aberta,
vês-te por cima de uma rua deserta
onde antevês o que entanto aí se passeia…
teu inerme contorno que serpenteia,
a tremer, a tremer…
a forma do teu atelier
que rente está do chão…
no espelho sempre aberto
há essa imagem diferente
como um reflexo contínuo…
passado e presente…
Saíste para comprar tabaco
– é o que diz a fotografia
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5 comentários:
bom produto
colheita deste ano?
abraço
Uau!
Intrigante e bonito.
muito bonito.
Muito obrigado!
I'm blink too... so happy!!!
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