sábado, 21 de agosto de 2010
"A identidade religiosa de Luís de Camões" - texto de António Telmo que publicamos em sua homenagem, no dia em que partiu deste mundo
Publicamos o início do texto de António Telmo que saiu primeiro nos Cadernos de Filosofia Extravagante e que sairá integralmente no nº2 da Cultura Entre Culturas:
"René Guénon nunca fala dos portugueses, mas, como muitos outros textos seus, este, que recolhi do seu famoso livro O Rei do Mundo, está intimamente ligado connosco. No âmbito do que me propus tratar neste primeiro caderno de filosofia livre, abre caminhos insuspeitados no sentido de determinar a verdadeira identidade de Luís de Camões.
É assim como se segue:
“Na Idade Média havia uma expressão, na qual os dois aspectos medulares da autoridade (régia e sacerdotal) se encontravam reunidos de uma maneira digna de nota. Nessa época falava-se muitas vezes de uma região misteriosa a que se chamava “o Reino do Preste João”. Era no tempo em que o que se poderia designar como a “cobertura exterior” do Centro Supremo era formado numa boa parte pelos Nestorianos (ou o que se convencionou chamar assim com razão ou sem ela) e os Sabeus. E eram estes, precisamente, que davam a si mesmos o nome de “Mendayyeh de Yahia, isto é, “discípulos de João”.”
Em nota ao que vem dizendo, o ilustre francês informa que “se encontraram na Ásia Central e particularmente na região do Turquestão, cruzes nestorianas que, como forma, são exactamente semelhantes às cruzes da cavalaria”
Mais adiante, esclarece o que deixou atrás: “Para que ninguém se admire da expressão “cobertura exterior” que viemos de empregar, deve ter-se em atenção, efectivamente, que a iniciação cavaleiresca era essencialmente uma iniciação de Kshatriyas (Guerreiros), o que explica, entre outras coisas, o papel preponderante que aí representa o simbolismo do amor.”
Começa já a desenhar-se a figura guerreira do poeta de Amor Luís de Camões. Esta relação com o texto não terá nada de surpreendente quando nos lembrarmos que os nestorianos na Ásia eram os cristãos de São Tomé, de São Tomé a quem o poeta dedicou nada menos do que doze estrofes d’Os Lusíadas.
Estas doze estrofes que aparecem como que engastadas no curso do Canto X todo ele em grande parte tratando de geografia, narram a vida, os milagres e a morte do apóstolo na Índia. Ainda mais estranho é o modo como Camões faz a exaltação do Santo ao referi-lo como “o núncio de Cristo “verdadeiro”. Não sabemos, dada a índole da sintaxe portuguesa, se o adjectivo se refere a núncio ou a Cristo. Se a núncio, então distingue-o como verdadeiro entre os outros; se a Cristo, então deve supor-se a existência de falsos Cristos. O último verso das doze estrofes é como uma luz que ilumina todo o relato: “Mas deixemos esta matéria perigosa.”
Perigosa porquê? Por dizer que Tomé era o núncio de Cristo verdadeiro? Por dizer também que são seus os lusitanos?
Temos de perscrutar mais fundo"
"René Guénon nunca fala dos portugueses, mas, como muitos outros textos seus, este, que recolhi do seu famoso livro O Rei do Mundo, está intimamente ligado connosco. No âmbito do que me propus tratar neste primeiro caderno de filosofia livre, abre caminhos insuspeitados no sentido de determinar a verdadeira identidade de Luís de Camões.
É assim como se segue:
“Na Idade Média havia uma expressão, na qual os dois aspectos medulares da autoridade (régia e sacerdotal) se encontravam reunidos de uma maneira digna de nota. Nessa época falava-se muitas vezes de uma região misteriosa a que se chamava “o Reino do Preste João”. Era no tempo em que o que se poderia designar como a “cobertura exterior” do Centro Supremo era formado numa boa parte pelos Nestorianos (ou o que se convencionou chamar assim com razão ou sem ela) e os Sabeus. E eram estes, precisamente, que davam a si mesmos o nome de “Mendayyeh de Yahia, isto é, “discípulos de João”.”
Em nota ao que vem dizendo, o ilustre francês informa que “se encontraram na Ásia Central e particularmente na região do Turquestão, cruzes nestorianas que, como forma, são exactamente semelhantes às cruzes da cavalaria”
Mais adiante, esclarece o que deixou atrás: “Para que ninguém se admire da expressão “cobertura exterior” que viemos de empregar, deve ter-se em atenção, efectivamente, que a iniciação cavaleiresca era essencialmente uma iniciação de Kshatriyas (Guerreiros), o que explica, entre outras coisas, o papel preponderante que aí representa o simbolismo do amor.”
Começa já a desenhar-se a figura guerreira do poeta de Amor Luís de Camões. Esta relação com o texto não terá nada de surpreendente quando nos lembrarmos que os nestorianos na Ásia eram os cristãos de São Tomé, de São Tomé a quem o poeta dedicou nada menos do que doze estrofes d’Os Lusíadas.
Estas doze estrofes que aparecem como que engastadas no curso do Canto X todo ele em grande parte tratando de geografia, narram a vida, os milagres e a morte do apóstolo na Índia. Ainda mais estranho é o modo como Camões faz a exaltação do Santo ao referi-lo como “o núncio de Cristo “verdadeiro”. Não sabemos, dada a índole da sintaxe portuguesa, se o adjectivo se refere a núncio ou a Cristo. Se a núncio, então distingue-o como verdadeiro entre os outros; se a Cristo, então deve supor-se a existência de falsos Cristos. O último verso das doze estrofes é como uma luz que ilumina todo o relato: “Mas deixemos esta matéria perigosa.”
Perigosa porquê? Por dizer que Tomé era o núncio de Cristo verdadeiro? Por dizer também que são seus os lusitanos?
Temos de perscrutar mais fundo"
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1 comentário:
quando os padres nos ensinarem as vias tântricas, voltarei a frequentar a missa pois não é o cristianismo a religião do amor?
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