O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 31 de agosto de 2010

Da actividade

Um zoólogo que, em África, observou de perto os gorilas, espanta-se com a uniformidade da vida que levam e com a sua ociosidade. Horas e horas sem fazerem nada... Desconhecerão eles o tédio?
Esta pergunta é típica de um homem, de um macaco ocupado. Em vez de fugirem da monotonia, os animais procuram-na, e o que mais receiam é vê-la terminar. Pois ela só termina para ser substituída pelo medo, causa de todo o tipo de azáfama.
A inacção é divina. E, porém, foi contra ela que o homem se insurgiu. Apenas ele, na natureza que lhe é própria, se revela incapaz de suportar a monotonia, apenas ele quer a todo o custo que alguma coisa aconteça, seja ela qual for. Nisso, mostra-se indigno do seu antepassado: a necessidade de movimento é característica do gorila desencaminhado.

E. M. Cioran

3 comentários:

platero disse...

acho que é de Proudhom, ou coisa semelhante, o Pricepezinho dos livros para adultos
:
O DIREITO À PREGUIÇA

mais - no meu modesto entender, devia ser obrigatório logo no Jardim-de-Infância,um pouco como " A Cartilha Maternal", de João de Deus, aí pelos anos 20

Paulo Borges disse...

Grande Cioran! Não estou a localizar o excerto: podes dizer de onde é?

Kunzang Dorje disse...

claro, paulo! é de um livro intitulado "Do Inconveniente de Ter Nascido", da editora Letra Livre e com tradução de Manuel de Freitas.

abraço