O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 12 de maio de 2010

Uma Reflexão Pertinente!

[...] Pessoa pode permanecer ainda refém, como Agostinho da Silva, até certo ponto, de uma derradeira forma de messianismo nacionalista ou patriótico, ao afirmar Portugal como a única nação que tem como missão deixar de o ser para se converter no próprio universal... Este messianismo nacionalista-patriótico latente e reiterado na cultura portuguesa é algo que tem de ser crítica e rigorosamente ponderado, pois dá azo, na melhor hipótese, a toda a espécie de ingénuos erros de óptica e, na pior, que geralmente a acompanha, a todo o tipo de perversos aproveitamentos, manipulações e instrumentalizações político-ideológicas.

Paulo Borges, in Uma Visão Armilar do Mundo

5 comentários:

Paulo Borges disse...

Sei disto por experiência própria...

Abraço

Ana Margarida Esteves disse...

Para ser sincera, tenho um certo receio do que poderá acontecer com o legado de Agostinho da Silva. O facto de não ter sido um pensador "sistemático" libertou a sua criatividade mas também (des-)estrutuou o seu pensamento de um forma que permite que as suas palavras, quando retiradas do contexto, possam ser interpretadas de uma forma completamente oposta ao seu espírito libertário e emancipatório...

Para ser ainda mais sincera, acho que muito mais poderia ter sido feito para evitar essa traição da sua memória.

Aqui não há "vilões" nem "vítimas". Apenas cúmplices, mais ou menos voluntários.

Ana Margarida Esteves disse...

Já do Pessoa nem se fala...

Não seremos nós que idealizamos esses pensadores e vemos nele um pendor emancipatório que se calhar nunca fez parte dos seus propósitos?

Querermos novamente ver grandeza onde ela não existe, pois não aguentamos o confronto com a nossa pequenez enquanto indivíduos e comunidade histórica?

Kunzang Dorje disse...

julgo que meditar liberta, se não nos prendermos na mesma meditação... julgo que toda esta loucura desvendada começa a fazer sentido assim que nos desviarmos deste mesmo sentido e não fizermos dele crenças dogmáticas... Como perceber o V Império, o Espírito Santo, o nada que é tudo, Deus, adeus, o Grande Espírito, D. Sebastião morto e renascido, Aquele que É, a Visão, se não meditas, se não oras, se não aprendes a libertar energia kundalínica, se não praticas reiki, se tens relações sexuais para pura satisfação do ego, se matas animais teus companheiros para alimentar a gula, se não aprendes simplesmente a acalmar e estabilizar a mente? E agora outra pergunta: como estabilizar a mente num mundo cada vez mais repleto de estímulos que fomentam cada vez mais o sentimento de cisão sujeito/objecto, aquilo que nos agrilhoa à existência?
Acredito que Pessoa e Agostinho da Silva não foram grandes nem pequenos: foram simplesmente pessoas cujo projecto de vida foi partilhar com a humanidade um estado de consciência que caso seja desvendado por todos nós poderá conduzir a humanidade a um mundo de paz e de fraternidade entre todos os seres, humanos e não humanos.

Paulo Borges disse...

Concordo em geral com o Kunzang. Acho que nem devemos idealizar/divinizar nem demonizar quem quer que seja, mas apenas compreender os autores criticamente e extrair da sua visão aquilo que achemos benéfico, distanciando-nos do resto e dizendo a razão. Tão simples quanto isso.