O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Viva a Vida plena!

Vimos como a religião grega era essencialmente uma religião de Alegria; os deuses amavam as festas e elas eram para o cidadão as solenidades de que toda a tristeza estava ausente; danças e cantos, grandes cortejos cheios de beleza, tempos claros e de vivo colorido, estátuas de rítmico corpo - tudo dizia o amor, a alegria de viver.

Mas viver de que modo? Apenas a vida comum, com os seus prazeres e suas dores, apenas a vida que dura umas dezenas de anos, a vida limitada e individual? De modo algum: o que dava ao grego esse sentimento extraodinário de Alegria era a compreensão de que a verdadeira vida é a Vida de toda a Natureza e de todos os indivíduos unidos nela e com ela; a Vida plena em que os homens e estrelas, planetas e deuses, terras e céus, palpitam no mesmo ritmo de Beleza e de Amor; Vida universal estendida a todas as coisas, à água das fontes que as Ninfas animam, aos fortes carvalhos que habitam as Dríades, às rochas escalvadas, domínio das Oréades; a Vida que embriagava Pã e os Sátiros e fazia que nas suas flautas reproduzissem o canto dos pinheirais - não por imitação, mas por uma íntima e profunda identidade de natureza. Era a consciência de se sentir irmão da terra e das ondas que dava ao grego a alegria jovem que sempre estava na sua alma.

 - Agostinho da Silva, in A Religião Grega

Sem comentários: