O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 18 de maio de 2010

Questões

Tudo o que a humanidade tem feito, ao longo de milénios de civilização, foi para ser feliz ou para deixar de ser infeliz. Porque o não conseguiu? E porque continua a fazer o mesmo, se assim o não consegue? O que é que isso nos diz sobre quem somos e o que fazemos?

6 comentários:

platero disse...

masoquismo genético
ou
incapacidade incontornável de aprender?

abraço

Anaedera disse...

perguntas simples que conduzem a respostas introspectivas,
nas quais a História indica pontos auxiliares,
tais como a felicidade ser um estado efémero de encontro ou cuidado mútuo,
como se tudo o resto apenas se tratasse de um processo de aprendizagem para lá chegar,
em acções consequentes das escolhas e face a um determinado cenário de espaço e tempo.

Recordando as palavras do poeta do século XIV, Lydgate,
cujas referências de doença e sujidade e corrupção, talvez se assemelhem às nossas preocupações "actuais" de saúde e ambiente na vivência da cidade,

Talvez as ambições possam ser sempre as mesmas mudando apenas a perspectiva?!

Kunzang Dorje disse...

Talvez a humanidade continua a fazer o mesmo pois julga que ser feliz é receber em vez de dar... e o que temos feito ao longo da história é seguir, de forma cega, fluxos que nos induzem a ter, dominar, escravizar, consumir para de seguida perder, ser dominado, ser escravo e produzir. E assim andamos presos neste ciclo, cujo motor são forças, energias das quais não temos a mínima percepção, energias que ilusoriamente fazem o homem crer que existe tal coisa como felicidade e sofrimento. O que somos? Somos ignorantes. O que fazemos? Procuramos algo cuja ignorância não permite desvendar e cegamente cremos na sua existência. Talvez seja necessário desvendar a fonte das energias acima mencionadas, contemplar a sua forma actuação no mundo e no homem e assim libertarmo-nos delas.

rmf disse...

"Nós juramos eterna fidelidade à nossa cidade.
Declaramos gratidão infinita para com os edifícios que escolhemos viver dentro com óptima capacidade.
Florescemos como pequenas flores no rio.
Nós voamos próximos da capacidade inigualável do gerador pulsando no centro como um coração magnífico. Além de Ember a escuridão vai infinitamente em todas as direcções.
A nossa cidade é a única luz no mundo escuro." in City on Ember.

City of Ember é um filme futurista cujo tema central é a vida quotidiana numa cidade subterrânea. Para salvar a espécie humana, as pessoas criaram então uma cidade chamada Amber, cidade até aí com apenas 200 anos de existência. Agora, com tempo quase esgotado, o poderoso gerador de Ember começa sistematicamente a falhar, e as pessoas, começam a encontrar uma forma alternativa para sobreviver... Um bom filme, suportado por não menos excelentes actores, entre os quais, Tim Robbins, Bill Murray, , Martin Landau (o velhinho dp espaço 1999), Saoirse Ronan, Harry Treadaway, Marianne Jean-Baptiste, Toby Jones, Mary Kay Place, entre outros.

Achei interessante divulgá-lo aqui, tenha muito ou pouco a ver com as questões levantadas.

Abraços

Anónimo disse...

A humanidade parece não encontrar um caminho para a libertação da "dor de viver". A angústia de ser do Céu e da Terra, ao mesmo tempo, mas de forma incompleta. A tropeçar como uma criança que ainda não soubesse como caminhar; como quem não sabe (por esquecimento?) o caminho da Origem, nem o que querer da vida, nem como não querer da vida mais do que a Vida: o milagre mais rasgadamente belo; o Mistério mais ofuscante! O Homem é como um cego perdido no firmamento de si e caído da altura na terra mais pesada da existência.

O homem tem aprendido com mais facilidade a matar do que a morrer. A pensar do que a viver. Dir-se-ia que, desconfiado, sempre, da Alegria e da dádiva da Vida, o homem ainda não tenha nascido e esteja sempre para nascder, num devir infinito, num mundo sempre à flor das águas. Sempre a um milionásimo de segundo de estar...

A humanidade é como se etivesse sempre a cometer os mesmos erros, omo se esse errar fosse a constituição do seu ser. Os paliativos para a "melancolia", para a angústia da "queda" e da "perda", parecem não ser suficientes para ser contagiantes da Saúde.

Precisamos de um Homem novo. De um Homem acabado de nascer num mundo igualmente novo: sem tempo, sem espaço, sem querer...

Somos da condição do "gasto", do "pesado"... Precisamos de não ser para "ser" sem sermos...

Precisamos de aprender sem dar por isso. Será possível nascer, acordar de ser? Imparciais e puros?
...
Será possível a impossibilidade?

Anaedera disse...

Vivendo o impossível,
criando a possibilidade,
de um nascer fora do tempo.