O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Por que é que a cabeça do cão é maior que a de D. Sebastião?




O D. Sebastião histórico é claramente transfigurado num protagonista da loucura, da boa hybris ou desmesura, de todo o homem ou consciência que deseja a suma e insuperável "grandeza" do Despertar enquanto libertação da falsa realidade de todas as supostas condições e limites da existência no mundo. É a "certeza" dessa possibilidade que natural e necessariamente não cabe em si, pois haver um "si" é ser ou supor-se algo ou alguém no mundo, é ter uma dimensão e medida, é estar situado e logo limitado, submetido e determinado na cadeia e teia de causalidade da ordem universal. São essa loucura e essa "certeza" que afinal lhe testemunham, asseguram ou revelam a pertença ao incondicionado e assim o fazem sair de si e o ilimitam, levando-o a trespassar e transcender a (supostamente) própria condição humana e mortal, operando a transfiguração que lhe confere um outro modo de ser, actual e imortal, quenada tem a ver com o "ser que houve", tornando um cadáver jacente no "areal" de Alcácer-Quibir. O D. Sebastião a que Pessoa dá voz já não é a pessoa do rei histórico, desaparecido em Alcácer-Quibir em termos reais e simbólicos, mas antes a consciência desperta e imortal emergente do soçobro daquele ser humano mortal ou uma figura universal do homem/consciência que renasce da morte e se imortaliza.

Paulo Borges, in Uma Visão Armilar do Mundo

6 comentários:

Paulo Borges disse...

Resposta: Sinceramente não sei.

Anónimo disse...

O meu cão também tem a cabeça maior do que a minha e nem ele nem eu nos chamamos "Sebastião"!
:)

Um beijo de Saudades, Amigo Paulo!

Kunzang Dorje disse...

Recordo-me de ter ouvido o Prof Hermano Saraiva na televisão a dizer que o pintor deste quadro propositadamente desenhou a cabeça do cão maior que a cabeça do rei, uma vez que D. Sebastião foi um rei louco e imaturo que depõs a soberania portuguesa devido a caprichos de criança.

Anónimo disse...

Não creio, Kunzang, na veracidade dessa afirmação.

Prefiro crer no simbolismo da fidelidade, associado à imagem do cão, fidelidade a uma ideia, mesmo que nela se deixe esta existência, mas fica a sombra desse sonho por cumprir...

Outra possibilidade é mesmo o galgo ter a cabeça maior do que a de uma pessoa. Tenho visto galgos com cabeças muito compridas, esguias, faz parte da sua anatomia...

Não creio mesmo é que D. Sebastião, apesar de muito jovem e provavelmente por isso imaturo tenha sida aquilo que se chama (perdoem-me o uso do termo neste contexto)microcéfalo.
:)

Um abraço

baal disse...

saudades... a minha gata tem a cabeça maior do que a minha.

Anónimo disse...

Meu querido Baal,
Também o meu "Maiorca"...

Baa(linho) também com essas minúsculas o que é que querias? anjinho deleuziano?

Olha, respondo como o Paulo: "Sinceramente não sei."
Se calhar o pintor retratista desenhou o primeiro plano maior... o que é que achas??

Saudades, baal!