O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A morte da "Filosofia Portuguesa" (texto de Miguel Real sobre "Uma Visão Armilar do Mundo", publicado no JL de 25 de Agosto)



O movimento da “Filosofia Portuguesa” nasceu em 1943, em torno da publicação do livro de Álvaro Ribeiro, O Problema da Filosofia Portuguesa, reivindicando o legado espiritual de Sampaio Bruno, Teixeira de Pascoais, Leonardo Coimbra e Fernando Pessoa. Neste movimento cultural ganhou raízes um dos mais importantes grupos de pensadores portugueses do século XX – José Marinho, António Quadros, Afonso Botelho, Orlando Vitorino, Pinharanda Gomes, António Braz Teixeira… -, que revolucionaram o pensamento filosófico português. Com a recente publicação de Uma Visão Armilar do Mundo, de Paulo Borges, autor cujos primeiros livros operavam o cruzamento entre as teses da “Filosofia Portuguesa” e a filosofia de Agostinho da Silva, pode dar-se por terminado este movimento. As teses fundamentais da “Filosofia Portuguesa” sublinhavam o sentido nacional de um espiritualismo profético firmado na língua portuguesa, um providencialismo vanguardista firmado na cultura portuguesa, um serviço missionário prosélito e messiânico de regeneração de Portugal contra o positivismo, o materialismo e o cientismo europeus. O Império aí estava para garantir e recordar aos cépticos o papel de Portugal no mundo como rosto avançado da espiritualidade cristã. Porventura os mais fortes documentos históricos sintetizadores das teses do grupo serão os números 1 e 2 da revista 57. Movimento de Cultura Portuguesa (dir. António Quadros), o primeiro com o “Manifesto de 57” e o segundo com o “Manifesto sobre a Pátria”, bem como o texto O Espírito da Cultura Portuguesa (1967), de A. Quadros. Assim, em finais da década de 1950, princípios da de 60, o núcleo filosófico das teses aristotélico-cristãs alvarinas, apresentado em 1943, ganhara uma dimensão política patriótica e imperial.

Paulo Borges, sintetizando o núcleo central das teses da “Filosofia Portuguesa” a partir de cinco estudos relativos ao Quinto Império (Camões, Vieira, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva) e da transformação dos dez mitemas da cultura portuguesa de A. Quadros em “instâncias [ontológicas] de realização de si”, do “nosso ser e consciência mais universais e profundos” (p. 206), propõe uma verdadeira desnacionalização da “Filosofia Portuguesa” [“o conceito de identidade nacional é, pois, tal como o de identidade pessoal (…) uma mera abstracção que em última análise apenas funciona na lógica da ignorância dualista que predomina na mente humana”, pp. 230-231), integrando-a na lógica de um “patriotismo transpatriótico” (p. 232), universalista, superador de Portugal e da lusofonia numa comunidade ecuménica, global, de toda a humanidade.


Para Paulo Borges (cf. Manifesto “Refundar Portugal”, pp. 235 – 243), as “pátrias” fazem parte, hoje, do “círculo vicioso e infernal” (p. 232) que impede a existência de uma “cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, que hoje se sabe não poder visar apenas o bem da espécie humana, mas também a preservação da natureza, da biodiversidade e do direito à vida e ao bem-estar de todas as formas de vida animal, como condição da própria sobrevivência da espécie humana e da qualidade e dignidade ética da sua vida” (p. 236). Dito de outro modo, o nacionalismo, sobretudo o nacionalismo filosófico, é encarado hoje como um prolongamento serôdio (senão uma excrescência) do século XX. De certo modo, o novel conceito de “razão atlântica”, de A. Braz Teixeira, já apontava neste caminho, mantendo, no entanto, um vínculo ontológico forte à língua e à cultura portuguesas. Neste sentido, a uma época de globalização corresponde um pensamento globalizado, no qual, ainda que com sólido respeito pelas filosofias passadas, como o faz Paulo Borges, a busca de novas raízes e novos horizontes de transcendência superam o arreigamento aos clássicos conceitos históricos gerados em torno da rivalidade entre pátrias e nações.

Neste sentido, Uma Visão Armilar do Mundo estatui os cinco grandes autores portugueses acima citados, não como estritos pensadores da identidade nacional, como limitados “pensadores portugueses”, mas, enquanto portugueses, autores que visariam, de um modo universal, as quatro características manifestadas simbolicamente na “esfera armilar”: “perfeição, plenitude, totalidade e infinidade” (p. 10). Como se vê, não se trata de “nacionalizar” Camões, Vieira, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva, mas, ao contrário, de os universalizar como símbolos passados de um mundo novo português e lusófono, num “ímpeto de ser tudo de todas as maneiras e nisso sacrificar, esquecer e perder a própria identidade, transfigurando-a divina e cosmicamente” (p. 11). Ou seja, para que Portugal ressuscite sob formas superiores, Paulo Borges defende a morte do Portugal do século XX (o Portugal monárquico, republicano, estadonovista, socialista, social-democrata), integrando-se no grande futuro global do mundo, regido por outras e muito diferentes regras, que os antigos designaram por Quinto Império.

Importantíssimo chamar a atenção do leitor que, com este livro, Paulo Borges, sem abandonar a tematização sobre a vocação universal da cultura portuguesa, “despatriotiza” e “desnacionaliza” vincadamente o seu pensamento, marca permanente da sua filosofia desde Do Finistérreo Pensar (2001), sublinhando as características mais fundamente filosóficas (isto é, universais, ontológicas, metafísicas) e minimizando as mais explicitamente circunstanciais ou “nacionais”, ou, melhor, espiritualiza (o primado da consciência) de um modo “armilar” o que restava pertinente ou exclusivo da cultura portuguesa. Face a um pensamento assim tão pujantemente planetário, as teses da “Filosofia Portuguesa”, fundadas num aristotelismo cristão (Alv. Ribeiro), num esoterismo português (A. Telmo) ou numa “patriosofia” (A. Quadros), com uma particular apetência para o repensamento do Deus cristão (Amorim Viana, Cunha Seixas, Sampaio Bruno, Pascoaes), constituem-se como figuras tutelares, avoengos de retrato figurado nas galerias da história passada. Paz à sua alma (a “Filosofia Portuguesa”), que a vida lhe foi farta e, com discípulos como Joaquim Domingues, Paulo Borges, Renato Epifânio, Rui Lopo, António Cândido Franco e Rodrigo Sobral Cunha, a terra não lhe será pesada.

Uma Visão Armilar do Mundo. A Vocação Universal de Portugal em Luís
de Camões, Padre António Vieira, Teixeira
de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva
,
Lisboa, Editora Verbo, 2010, 243 pp., 18 euros.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O que é Portugal? - 21 de Julho, 18.30, FNAC Chiado

‎"O que é Portugal?", tertúlia com Paulo Borges, António Cândido Franco e Miguel Real, a partir do livro "Uma Visão Armilar do Mundo" (Verbo, 2010), de Paulo Borges, na FNAC-Chiado, 21 de Julho, 4ª feira, às 18.30.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Hoje, dia 15, na Feira do Livro de Barcelos, às 18 e às 21h



Hoje, dia 15, 5ª feira, estarei na Feira do Livro de Barcelos, às 18h, para apresentar a revista Cultura ENTRE Culturas e o meu livro Uma Visão Armilar do Mundo.

No mesmo lugar, às 21h, apresentarei o livro de aforismos/euforismos de Flávio Lopes da Silva, Bússola, cujo prefácio escrevi e que vivamente recomendo.

Uma oportunidade para encontrar os amigos do Norte.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dia 15, na Feira do Livro de Barcelos

No dia 15, 5ª feira, estarei na Feira do Livro de Barcelos, às 18h, para apresentar a revista Cultura ENTRE Culturas e o meu livro Uma Visão Armilar do Mundo.

No mesmo lugar, às 21h, apresentarei o livro de aforismos/euforismos de Flávio Lopes da Silva, Bússola, cujo prefácio escrevi e que vivamente recomendo.

Uma oportunidade para encontrar os amigos do Norte.

domingo, 16 de maio de 2010

Uma Visão Armilar do Mundo - Hoje, Domingo, 18.30, na Feira do Livro de Lisboa



Lá estarei hoje na Feira do Livro, a fingir que sou escritor e dou autógrafos... Um diálogo com Camões, Vieira, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva sobre o potencial universalista da cultura portuguesa, simbolizado na esfera armilar: a perfeição, plenitude e totalidade na interconexão de todos os seres e coisas, tradições e culturas, artes e saberes. Uma visão integral do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades, que promova uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, abraçando a natureza, o homem e todos os seres sencientes. O novo paradigma.

Pavilhões da Babel (A01 - A04), 18.30, na parte de baixo da Feira)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Por que é que a cabeça do cão é maior que a de D. Sebastião?




O D. Sebastião histórico é claramente transfigurado num protagonista da loucura, da boa hybris ou desmesura, de todo o homem ou consciência que deseja a suma e insuperável "grandeza" do Despertar enquanto libertação da falsa realidade de todas as supostas condições e limites da existência no mundo. É a "certeza" dessa possibilidade que natural e necessariamente não cabe em si, pois haver um "si" é ser ou supor-se algo ou alguém no mundo, é ter uma dimensão e medida, é estar situado e logo limitado, submetido e determinado na cadeia e teia de causalidade da ordem universal. São essa loucura e essa "certeza" que afinal lhe testemunham, asseguram ou revelam a pertença ao incondicionado e assim o fazem sair de si e o ilimitam, levando-o a trespassar e transcender a (supostamente) própria condição humana e mortal, operando a transfiguração que lhe confere um outro modo de ser, actual e imortal, quenada tem a ver com o "ser que houve", tornando um cadáver jacente no "areal" de Alcácer-Quibir. O D. Sebastião a que Pessoa dá voz já não é a pessoa do rei histórico, desaparecido em Alcácer-Quibir em termos reais e simbólicos, mas antes a consciência desperta e imortal emergente do soçobro daquele ser humano mortal ou uma figura universal do homem/consciência que renasce da morte e se imortaliza.

Paulo Borges, in Uma Visão Armilar do Mundo

Cultura ENTRE Culturas e Uma Visão Armilar do Mundo na Casa Bocage, Setúbal, dia 15, 21 h



Car@s amig@s ,

Gostaria de os convidar para participar na Noite dos Museus na Casa Bocage, já no próximo Sábado, 15 de Maio, às 21h00.
Para comemorar a Noite dos Museus, cujo tema deste ano é a «Harmonia Social», organizámos uma programação que dá ênfase à multiculturalidade e ao diálogo entre culturas:

Visitas acompanhadas aos espaços museológicos (Exposição «As Sete Musas de Bocage», Centro de Documentação Bocagiano e Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro);

Apresentação da exposição de desenho e escultura «Conexões», por Rui Oliveira Lopes, com a presença do autor, João Lino;

Lançamento em Setúbal do número 1 da revista «cultura ENTRE culturas», pelo seu Director, Paulo Borges;

Canto livre e improvisado de Poesia de Bocage, por Patrícia Domingues;

Apresentação da obra «Uma Visão Armilar do Mundo - A Vocação Universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva», de Paulo Borges, por Bruno Ferro;

Fado à capela, por Pedro Paz;

Confraternização e partilha;

No Dia Internacional dos Museus, 18 de Maio, entre as 14h30 e as 17h30, João Lino estará presente na Casa Bocage, para conversar com os visitantes sobre o seu processo criativo na realização da exposição «Conexões».

Um abraço cordial,

Bruno Ferro
Casa Bocage | Divisão de Museus | CMS

Casa Bocage
Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro

Rua Edmond Bartissol, 12
Tel.: 265 229 255

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Uma Reflexão Pertinente!

[...] Pessoa pode permanecer ainda refém, como Agostinho da Silva, até certo ponto, de uma derradeira forma de messianismo nacionalista ou patriótico, ao afirmar Portugal como a única nação que tem como missão deixar de o ser para se converter no próprio universal... Este messianismo nacionalista-patriótico latente e reiterado na cultura portuguesa é algo que tem de ser crítica e rigorosamente ponderado, pois dá azo, na melhor hipótese, a toda a espécie de ingénuos erros de óptica e, na pior, que geralmente a acompanha, a todo o tipo de perversos aproveitamentos, manipulações e instrumentalizações político-ideológicas.

Paulo Borges, in Uma Visão Armilar do Mundo

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Novas apresentações da Cultura ENTRE Culturas e de Uma Visão Armilar do Mundo, 3ª, 11, 18.30





UMA VISÃO ARMILAR DO MUNDO
APRESENTAÇÃO DO LIVRO
de Paulo Borges
11 de Maio (3ª) | 18h30
apresentação da obra por Risoleta Pinto Pedro
leitura de textos por Bruno Ferro e Luíza Dunas

CULTURA ENTRE CULTURAS
que diálogo entre culturas?
APRESENTAÇÃO DA REVISTA
por Paulo Borges
11 de Maio (3ª) | 19h
leitura de textos por Bruno Ferro e Luíza Dunas

Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa*
Palácio da Estefânia
Rua Dona Estefânia, 175
1000-134 Lisboa
(metro Saldanha)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Escolhas

Agostinho considera que todo o teatro grego, tragédia e comédia, provém da consciência deste conflito entre a natureza não-dual do homem e a sua orientação histórica, que marca as possibilidades e direcções opostas que coexistem no íntimo da espécie e de cada indivíduo: por um lado, o crescente desenvolvimento de uma civilização tecnocrática que dessacraliza o mundo, que o considera e aos seres vivos sua propriedade - para "usar, gozar e abusar" -, que instrumentaliza a vida para o único fim do sustento material e, privada do sentido do infinito e da totalidade, da contemplação e da adoração, da comunhão e da gratuidade, se encerra no círculo fechado do produzir para consumir e consumir para produzir; por outro lado, o impulso religioso para regressar à original inocência paradisíaca, ao sentimento da sacralidade do todo e à paz da indistinção entre "eu" e "outro", sujeito e objecto, o que Agostinho considera possível por um aprofundamento da experiência imanente do divino, culminando nessa "experiência mística" que, universal e trans-religiosamente, considera mostrar "que o auge do sentimento religioso consiste numa fusão entre objecto do culto e sujeito do culto, num transformar-se o amador na coisa amada, num aparecimento da unidade perfeita onde a dualidade existia".

 - Paulo Borges, in Uma Visão Armilar do Mundo

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Novas apresentações da Cultura ENTRE Culturas e de Uma Visão Armilar do Mundo





UMA VISÃO ARMILAR DO MUNDO
APRESENTAÇÃO DO LIVRO
de Paulo Borges
11 de Maio (3ª) | 18h30
apresentação da obra por Risoleta Pinto Pedro
leitura de textos por Bruno Ferro e Luíza Dunas

CULTURA ENTRE CULTURAS
que diálogo entre culturas?
APRESENTAÇÃO DA REVISTA
por Paulo Borges
11 de Maio (3ª) | 19h
leitura de textos por Bruno Ferro e Luíza Dunas

Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa*
Palácio da Estefânia
Rua Dona Estefânia, 175
1000-134 Lisboa
(metro Saldanha)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Lançamento do número 1 da Cultura ENTRE Culturas e de Uma Visão Armilar do Mundo - 3ª, 27, Largo do Alecrim, 70





Car@s Amig@s

Convido-vos para o lançamento do número 1 da revista Cultura ENTRE Culturas, por Frei Bento Domingues e Miguel Real, em conjunto com a apresentação do meu último livro Uma Visão Armilar do Mundo, por Paulo Teixeira Pinto. O Dr. Fernando Nobre associa-se ao evento, falando sobre o diálogo intercultural.

O acontecimento tem lugar no IADE Chiado Center - Rua do Alecrim, 70, na 3ª feira, 27, pelas 18.30

A revista Cultura ENTRE Culturas é uma revista internacional e intercultural por mim dirigida que publica ensaio, poesia e fotografia. A direcção artística é de Luiz Reys e a edição da Âncora Editora.

Comissão de Honra: François Jullien, Hans Küng, Jean-Yves Leloup, Raimon Pannikar, Matthieu Ricard e Agostinho da Silva (In Memoriam).

Publica neste número inéditos de Vilém Flusser, François Jullien, Hans Küng, Jean-Yves Leloup, Raimon Pannikar e Agostinho da Silva.

Ensaios e textos de Paulo Borges, Maria Sarmento, Paulo Feitais, Rui Lopo, Ricardo Ventura, Carlos Silva, Isabel Santiago, Amon Pinho, Miguel Real, Romana Valente Pinho e Inês Borges.

Poesia de Francisco Soares, Duarte Braga, Rui Fernandes, Luiza Dunas, Dirk Hennrich (aforismos), Francisco Soares e Donis de Frol Guilhade.

Fotografia de Beat Presser, Ilda Castro, Rui Fernandes, Francisco Soares e Adama.

O próximo número (Outubro de 2010) será dedicado a Fernando Pessoa e ao Diálogo Ocidente-Oriente, por ocasião dos 500 anos da chegada dos portugueses a Goa.

Propósitos:

1. Contribuir para o desenvolvimento de uma consciência-experiência integrais, multidimensionais, inter e trans-disciplinares do real e do que possa haver além-aquém do que como tal se designa, enriquecendo criativamente a vida e a existência mediante a compreensiva realização das suas supremas possibilidades.

2. Explorar antigas e novas possibilidades espirituais, mentais, éticas, artísticas, científicas, educativas, ecológicas, comunicacionais, sociais, políticas e económicas, alternativas à crise e declínio do paradigma civilizacional ainda dominante e que obedeçam ao soberano critério do melhor possível para todos os seres sencientes, humanos e não-humanos.

3. Promover o conhecimento e diálogo entre culturas, civilizações, religiões e espiritualidades, bem como entre estas, o ateísmo e o agnosticismo, no espírito da mais ampla imparcialidade e
universalismo.

4. Contribuir para a harmonia e a não-violência na relação do homem consigo, com a natureza e com todos os seres sencientes, capazes de sentir dor, prazer e emoções.

5. Despertar e orientar para estes fins a cultura e a sociedade portuguesas, bem como a comunidade lusófona, valorizando e promovendo as tendências que nelas mais apontem neste sentido

....

Será para mim uma honra a vossa presença.

Saudações

Paulo Borges

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Lançamento da revista Cultura ENTRE Culturas e do livro Uma Visão Armilar do Mundo, dia 27, 3ª feira, 18.30



O IADE CHIADO CENTER convida para o lançamento da revista Cultura ENTRE Culturas, apresentada por Frei Bento Domingues e Miguel Real, e do livro Uma Visão Armilar do Mundo, de Paulo Borges, apresentado por Paulo Teixeira Pinto, no próximo dia 27 de Abril, 3ª feira, pelas 18.30, na Rua do Alecrim, nº 70, em Lisboa.



Para mais lançamentos:
arevistaentre.blogspot.com

domingo, 18 de abril de 2010

Uma Visão Armilar do Mundo



Reúno aqui um conjunto de estudos e ensaios dispersos, bem como um extenso texto inédito, que versam sobre um dos rumos maiores da minha actividade enquanto investigador e docente, a reflexão acerca de Portugal e do seu sentido no diálogo hermenêutico com alguns dos seus mais destacados poetas, profetas e pensadores: Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.

Em todos eles o leitor encontrará um nítido fio condutor: por vias diversas, estes cinco autores vislumbram e assumem em Portugal, na sua dimensão simultaneamente real e simbólica, uma vocação para a universalidade. Este Portugal e esta vocação, naturalmente pensados a partir da experiência histórico-cultural dos Descobrimentos e da diáspora planetária ainda em curso, assumem duas vertentes, simultâneas e inseparáveis: 1 - designam, por um lado, a predisposição e o impulso do povo, da nação e da sua cultura para uma aventura e convivência planetárias, que nos intérpretes aqui estudados se converte na assunção de Portugal como mediador ou inaugurador de um novo ciclo cultural e civilizacional, sob o signo de uma globalização ético-espiritual, em tudo contrastante com aquela, de teor económico-tecnológico, que hoje se impõe, com todos os problemas e riscos inerentes; 2 – por outro lado, Portugal e a sua vocação para a universalidade são assumidos, pelos mesmos autores, como símbolos de algo que interpretamos como o próprio homem ou a própria consciência, em busca de uma visão-experiência mais plena do real e na aspiração a realizar integralmente as suas supremas possibilidades. Desta interpenetração de dois registos do que se designa como Portugal, o real e o simbólico, e que se prolonga na leitura feita de algumas das suas mais paradigmáticas figuras, mitos e símbolos histórico-culturais, decorre uma complexa ambiguidade, que exige um rigoroso discernimento hermenêutico e crítico. É isso que procuramos fazer ao longo deste livro, num diálogo com os autores que procura pensar com e a partir deles e dos seus temas, problematizando as suas leituras, sem deixar de lhes aproveitar as sugestões especulativas.

Seja como for, encontro nestes cinco poetas, profetas e pensadores de Portugal, do seu sentido e destino, aquilo a que chamo Uma Visão Armilar do Mundo. O que designo como tal é uma visão-experiência do mundo sob o signo de tudo o que no símbolo da esfera armilar se implica: perfeição, plenitude, totalidade e infinidade. Tudo se passa como se nestes cinco autores o sentido último de Portugal, e/ou do que como tal se simboliza, não deixasse de ser o divino globo do mundo, ou a sua divina visão, revelada por Tétis a Vasco da Gama na camoniana Ilha dos Amores. Directa descendente da Esfera do Ser em Parménides, da Esfera do Amor em Empédocles e da Esfera camoniana, além de todas as tradições que figuram o divino e o incondicionado como uma Esfera infinita e omniabrangente, a Esfera Armilar acresce a essas, no entrecruzamento das suas múltiplas armilas, o símbolo da interconexão dinâmica de todos os seres e coisas, de todas as tradições e culturas, de todas as artes e saberes.


Muito antes de se tornar a divisa de D. Manuel I, conectada com o domínio imperial e territorial do mundo, é essa a maior fecundidade simbólica da Spera Mundi – Esfera e/ou Esperança do Mundo, conforme foi interpretada – que tremula na nossa bandeira, como marca disso que Camões, Vieira, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva divisam na nossa cultura: ao contrário da atitude do nacionalismo ou patriotismo comum, luso ou lusófono, sempre tendentes a resguardar-se (agressivamente) atrás de supostos e estáticos perfis identitários e a privilegiar o mesmo em relação ao outro, a cultura portuguesa e lusófona primaria pelo impulso de converter muros em pontes, fronteiras em mediações e lugares de passagem, limites em limiares, num descentramento e abertura incircunscritos ao mundo e ao universo, a todos os povos e seres, a todas as línguas, culturas, religiões e irreligiões, a todas as formas de alteridade. Como se acentua em Pessoa e Agostinho da Silva, Portugal e a Lusofonia seriam mesmo movidos por um ímpeto de ser tudo de todas as maneiras e nisso sacrificar, esquecer e perder a própria identidade, transfigurando-a divina e cosmicamente, tal um sujeito místico que só se realiza plenamente, sendo tudo quanto pode ser, quando já não é isto ou aquilo, quando não existe, quando não é nada.

Decerto que nesta visão haverá uma boa parte de idealização optimista, que projecta na nação as próprias e supremas aspirações dos autores, pois o Portugal e a comunidade lusófona que, noutras perspectivas, surgem como reais, parecem ter sido e ser bem diferentes, para o melhor e o pior. Tudo depende, como sempre, da perspectiva que condiciona e dá forma à percepção do que chamamos real. Contudo, para além de toda a deconstrução psicológica e psicanalítica possível, permanecerá qualquer coisa por esclarecer, que é o fundo obscuro que torna esta visão reiteradamente presente nalguns dos nomes mais representativos e geniais da nossa cultura. Independentemente de esta visão armilar do mundo corresponder a uma missão, vocação, potencialidade ou aspiração, creio que ela é, indubitavelmente, a visão mais fecunda que do mundo se pode ter, sobretudo se for assumida não como mera forma de autogratificação intelectual, cultural e/ou supostamente “patriótica”, como algo de já garantido e possuído de uma vez por todas, mas antes como projecto individual e colectivo a desenvolver, dádiva, tarefa e serviço a prestar a si, à nação, ao planeta e ao universo. Porque uma visão armilar do mundo é, como vimos, uma visão-experiência do mundo sob o signo da perfeição, plenitude, totalidade e infinidade, real ou possível, convidando à abertura da mente e do coração ao entrecruzamento, intersecção e interacção armilares de todos os seres e coisas – que na verdade não são, mas entre-são, como disse Pessoa - , ela não pode senão conduzir a um Abraço solidário à natureza e a todos os entes, que seja a busca de realização do seu Bem, a todos os níveis, do espiritual e cultural ao ecológico, social, económico e político, sem discriminação de raça, sexo, religião, nacionalidade ou espécie. Uma visão armilar do mundo é uma visão-experiência integral do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades.

É sob a influência deste potente símbolo, a Esfera Armilar, e em busca de uma filosofia armilar como cumprimento da vocação de toda a filosofia, antes modo de vida do que mera teoria, que inicio com este livro um novo ciclo da minha produção filosófica e literária, numa natural metamorfose daquele antes iniciado sob o signo do Finisterra e do Atlântico [1], já antecipada num livro e na ficção sobre Agostinho da Silva [2] e emergente nas obras publicadas mais recentemente [3]. É também sob o signo da Esfera Armilar que publico aqui os três últimos ensaios, de carácter mais pessoal, onde os dois últimos apontam rumos concretos de acção e intervenção pública, inspirados no que designo como patriotismo trans-patriótico e universalista e consubstanciados no projecto Refundar Portugal/Outro Portugal.

E é o símbolo holístico da Esfera Armilar que - numa era celebrada como multicultural, mas ainda tão falha de uma visão real da interdependência ou do entre-ser universal de todos os seres, povos, nações, saberes e culturas - invoco como paradigma plenamente actual e contemporâneo de um destino por cumprir, de um potencial em aberto, de um chamamento urgente, vindo do mais fundo sem fundo de cada um de nós e do qual depende hoje a própria sobrevivência humana, a biodiversidade e o equilíbrio do planeta: ver e experimentar o mundo divinamente, ou seja, integralmente, sem cisões, exclusões ou parcialidades.

[1] Cf. Paulo Borges, Do Finistérreo Pensar, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001; Pensamento Atlântico. Estudos e ensaios de pensamento luso-brasileiro, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002.
[2] Id., Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, Lisboa, Âncora Editora, 2006; Línguas de Fogo. Paixão, Morte e Iluminação de Agostinho da Silva, Lisboa, Ésquilo, 2006.
[3] Id., Princípio e Manifestação. Metafísica e Teologia da Origem em Teixeira de Pascoaes, 2 volumes, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008; A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido (aforismos), Lisboa, Zéfiro, 2008; Da Saudade como Via de Libertação, Lisboa, Quidnovi, 2008; A Pedra, a Estátua e a Montanha. O Quinto Império no Padre António Vieira, Lisboa, Portugália Editora, 2008; O Jogo do Mundo. Ensaios sobre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, Lisboa, Portugália Editora, 2008.

Prefácio de Paulo Borges, Uma Visão Armilar do Mundo, Lisboa, Verbo, 2010.

domingo, 14 de março de 2010

Uma Visão Armilar do Mundo - Auditório da Biblioteca Nacional (Campo Grande), 3ª feira, 16, 18.30



Car@s Amig@s

Tenho o prazer de vos convidar para o lançamento do meu último livro, Uma Visão Armilar do Mundo. A vocação universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva (Lisboa, Verbo, 2010), que será apresentado pelo escritor e ensaísta Miguel Real.

Além de ensaios sobre o tema e os autores referidos no título, o livro inclui alguns dos textos mais interventivos que tenho ultimamente produzido, nomeadamente o Manifesto "Refundar Portugal", que deu origem ao Movimento Outro Portugal, um movimento informal de reflexão e acção cívica e cultural que visa reinventar um Portugal melhor para todos e mais conforme aos grandes desafios do século XXI: o pleno desenvolvimento humano, um novo e melhor paradigma educativo, social, económico e político, o diálogo intercultural e inter-religioso, a harmonia ecológica e o bem de todos os seres sencientes. Desde Novembro de 2009 o MOP conta com mais de 1300 adesões.

Segue uma breve apresentação da obra.

Conto com a vossa presença e a extensão deste convite a todos: amigos, indiferentes e inimigos! A Vida é Festa para a qual todos são convidados.

Saudações cordiais

Paulo Borges

..........................

Este livro é uma reflexão acerca da vocação universal de Portugal, em diálogo com alguns dos seus maiores poetas, profetas e pensadores: Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.
Este Portugal e esta vocação designam, num sentido, a predisposição para uma convivência planetária, mediadora de um novo ciclo cultural e civilizacional, sob o signo de uma globalização ético-espiritual, contrastante com a económico-tecnológica. Noutro sentido, esta visão de Portugal assume-o como símbolo do próprio homem em busca de se realizar plenamente.

A isto se chama Uma Visão Armilar do Mundo, conforme o símbolo que tremula na nossa bandeira: a perfeição, plenitude e totalidade da esfera e, nas suas armilas, a interconexão de todos os seres e coisas, tradições e culturas, artes e saberes. Muito antes de ser o emblema de D. Manuel I, é essa a maior fecundidade simbólica da Spera Mundi, Esfera e/ou Esperança do Mundo: ao invés do nacionalismo ou patriotismo comuns, a cultura portuguesa e lusófona tenderia a converter muros em pontes, fronteiras em mediações, limites em limiares, numa abertura ao planeta e ao universo, a todos os povos, nações e seres, a todas as línguas, culturas, religiões e irreligiões. Uma visão armilar do mundo é uma visão-experiência integral e holística do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades.

Numa era celebrada como multicultural, mas ainda tão cega para o entre-ser universal, aqui se invoca a Esfera Armilar como actual paradigma da reinvenção de Portugal como nação de todo o mundo, que vise o melhor para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, que não separe o bem da espécie humana da preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida senciente.

Paulo Borges

umoutroportugal.blogspot.com
jornaloutro.blogspot.com

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Uma Visão Armilar do Mundo no Projecto Babel, dia 6, 18 h, Biblioteca Nacional de Lisboa



Sábado, pelas 18 h, na Biblioteca Nacional de Lisboa, será apresentado este novo projecto editorial, no âmbito do qual será apresentado, junto com outros, e antes do lançamento oficial, o meu novo livro Uma Visão Armilar do Mundo. A vocação universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva (Verbo Editora).

Publico a Introdução:

Uma Visão Armilar do Mundo

Reúno aqui um conjunto de estudos e ensaios dispersos, bem como um extenso texto inédito, que versam sobre um dos rumos maiores da minha actividade enquanto investigador e docente, a reflexão acerca de Portugal e do seu sentido no diálogo hermenêutico com alguns dos seus mais destacados poetas, profetas e pensadores: Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.

Em todos eles o leitor encontrará um nítido fio condutor: por vias diversas, estes cinco autores vislumbram e assumem em Portugal, na sua dimensão simultaneamente real e simbólica, uma vocação para a universalidade. Este Portugal e esta vocação, naturalmente pensados a partir da experiência histórico-cultural dos Descobrimentos e da diáspora planetária ainda em curso, assumem duas vertentes, simultâneas e inseparáveis: 1 - designam, por um lado, a predisposição e o impulso do povo, da nação e da sua cultura para uma aventura e convivência planetárias, que nos intérpretes aqui estudados se converte na assunção de Portugal como mediador ou inaugurador de um novo ciclo cultural e civilizacional, sob o signo de uma globalização ético-espiritual, em tudo contrastante com aquela, de teor económico-tecnológico, que hoje se impõe, com todos os problemas e riscos inerentes; 2 – por outro lado, Portugal e a sua vocação para a universalidade são assumidos, pelos mesmos autores, como símbolos de algo que interpretamos como o próprio homem ou a própria consciência, em busca de uma visão-experiência mais plena do real e na aspiração a realizar integralmente as suas supremas possibilidades. Desta interpenetração de dois registos do que se designa como Portugal, o real e o simbólico, e que se prolonga na leitura feita de algumas das suas mais paradigmáticas figuras, mitos e símbolos histórico-culturais, decorre uma complexa ambiguidade, que exige um rigoroso discernimento hermenêutico e crítico. É isso que procuramos fazer ao longo deste livro, num diálogo com os autores que procura pensar com e a partir deles e dos seus temas, problematizando as suas leituras, sem deixar de lhes aproveitar as sugestões especulativas.

Seja como for, encontro nestes cinco poetas, profetas e pensadores de Portugal, do seu sentido e destino, aquilo a que chamo Uma Visão Armilar do Mundo. O que designo como tal é uma visão-experiência do mundo sob o signo de tudo o que no símbolo da esfera armilar se implica: perfeição, plenitude, totalidade e infinidade. Tudo se passa como se nestes cinco autores o sentido último de Portugal, e/ou do que como tal se simboliza, não deixasse de ser o divino globo do mundo, ou a sua divina visão, revelada por Tétis a Vasco da Gama na camoniana Ilha dos Amores. Directa descendente da Esfera do Ser em Parménides, da Esfera do Amor em Empédocles e da Esfera camoniana, além de todas as tradições que figuram o divino e o incondicionado como uma Esfera infinita e omniabrangente, a Esfera Armilar acresce a essas, no entrecruzamento das suas múltiplas armilas, o símbolo da interconexão dinâmica de todos os seres e coisas, de todas as tradições e culturas, de todas as artes e saberes. Muito antes de se tornar a divisa de D. Manuel I, conectada com o domínio imperial e territorial do mundo, é essa a maior fecundidade simbólica da Spera Mundi – Esfera e/ou Esperança do Mundo, conforme foi interpretada – que tremula na nossa bandeira, como marca disso que Camões, Vieira, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva divisam na nossa cultura: ao contrário da atitude do nacionalismo ou patriotismo comum, luso ou lusófono, sempre tendentes a resguardar-se (agressivamente) atrás de supostos e estáticos perfis identitários e a privilegiar o mesmo em relação ao outro, a cultura portuguesa e lusófona primaria pelo impulso de converter muros em pontes, fronteiras em mediações e lugares de passagem, limites em limiares, num descentramento e abertura incircunscritos ao mundo e ao universo, a todos os povos e seres, a todas as línguas, culturas, religiões e irreligiões, a todas as formas de alteridade. Como se acentua em Pessoa e Agostinho da Silva, Portugal e a Lusofonia seriam mesmo movidos por um ímpeto de ser tudo de todas as maneiras e nisso sacrificar, esquecer e perder a própria identidade, transfigurando-a divina e cosmicamente, tal um sujeito místico que só se realiza plenamente, sendo tudo quanto pode ser, quando já não é isto ou aquilo, quando não existe, quando não é nada (de finito).

Decerto que nesta visão haverá uma boa parte de idealização optimista, que projecta na nação as próprias e supremas aspirações dos autores, pois o Portugal e a comunidade lusófona que, noutras perspectivas, surgem como reais, parecem ter sido e ser bem diferentes, para o melhor e o pior. Tudo depende, como sempre, da perspectiva que condiciona e dá forma à percepção do que chamamos real. Contudo, para além de toda a deconstrução psicológica e psicanalítica possível, permanecerá qualquer coisa por esclarecer, que é o fundo obscuro que torna esta visão reiteradamente presente nalguns dos nomes mais representativos e geniais da nossa cultura. Independentemente de esta visão armilar do mundo corresponder a uma missão, vocação, potencialidade ou aspiração, creio que ela é, indubitavelmente, a visão mais fecunda que do mundo se pode ter, sobretudo se for assumida não como mera forma de autogratificação intelectual, cultural e/ou supostamente “patriótica”, como algo de já garantido e possuído de uma vez por todas, mas antes como projecto individual e colectivo a desenvolver, dádiva, tarefa e serviço a prestar a si, à nação, ao planeta e ao universo. Porque uma visão armilar do mundo é, como vimos, uma visão-experiência do mundo sob o signo da perfeição, plenitude, totalidade e infinidade, real ou possível, convidando à abertura da mente e do coração ao entrecruzamento, intersecção e interacção armilares de todos os seres e coisas – que na verdade não são, mas entre-são, como disse Pessoa - , ela não pode senão conduzir a um Abraço solidário à natureza e a todos os entes, que seja a busca de realização do seu Bem, a todos os níveis, do espiritual e cultural ao ecológico, social, económico e político, sem discriminação de raça, sexo, religião, nacionalidade ou espécie. Uma visão armilar do mundo é uma visão-experiência integral do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades.

É sob a influência deste potente símbolo, a Esfera Armilar, e em busca de uma filosofia armilar como cumprimento da vocação de toda a filosofia, antes modo de vida do que mera teoria, que inicio com este livro um novo ciclo da minha produção filosófica e literária, numa natural metamorfose daquele antes iniciado sob o signo do Finisterra e do Atlântico [1], já antecipada num livro e na ficção sobre Agostinho da Silva [2] e emergente nas obras publicadas mais recentemente [3]. É também sob o signo da Esfera Armilar que publico aqui os três últimos ensaios, de carácter mais pessoal, onde os dois últimos apontam rumos concretos de acção e intervenção pública, inspirados no que designo como patriotismo trans-patriótico e universalista e consubstanciados no projecto Refundar Portugal/Outro Portugal.

E é o símbolo holístico da Esfera Armilar que - numa era celebrada como multicultural, mas ainda tão falha de uma visão real da interdependência ou do entre-ser universal de todos os seres, povos, nações, saberes e culturas - invoco como paradigma plenamente actual e contemporâneo de um destino por cumprir, de um potencial em aberto, de um chamamento urgente, vindo do mais fundo sem fundo de cada um de nós e do qual depende hoje a própria sobrevivência humana, a biodiversidade e o equilíbrio do planeta: ver e experimentar o mundo divinamente, ou seja, integralmente, sem cisões, exclusões ou parcialidades.


Paulo Borges

Lisboa, Penha de França,
13/14 de Janeiro de 2010

[1] Cf. Paulo Borges, Do Finistérreo Pensar, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001; Pensamento Atlântico. Estudos e ensaios de pensamento luso-brasileiro, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002.
[2] Id., Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, Lisboa, Âncora Editora, 2006; Línguas de Fogo. Paixão, Morte e Iluminação de Agostinho da Silva, Lisboa, Ésquilo, 2006.
[3] Id., Princípio e Manifestação. Metafísica e Teologia da Origem em Teixeira de Pascoaes, 2 volumes, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008; A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido (aforismos), Lisboa, Zéfiro, 2008; Da Saudade como Via de Libertação, Lisboa, Quidnovi, 2008; A Pedra, a Estátua e a Montanha. O Quinto Império no Padre António Vieira, Lisboa, Portugália Editora, 2008; O Jogo do Mundo. Ensaios sobre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, Lisboa, Portugália Editora, 2008.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Uma Visão Armilar do Mundo

Publico a sinopse do meu próximo livro, a sair pela Verbo Editora e a ser apresentado no catálogo do novo grupo Babel, no próximo dia 6 de Fevereiro, data do nascimento do Padre António Vieira, pelas 18 h, na Biblioteca Nacional:

"Uma Visão Armilar do Mundo: a vocação universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva"

Este livro é uma reflexão acerca da vocação universal de Portugal, em diálogo com alguns dos seus maiores poetas, profetas e pensadores: Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.

Este Portugal e esta vocação designam, num sentido, a predisposição para uma convivência planetária, mediadora de um novo ciclo cultural e civilizacional, sob o signo de uma globalização ético-espiritual, contrastante com a económico-tecnológica. Noutro sentido, esta visão de Portugal assume-o como símbolo do próprio homem em busca de se realizar plenamente.

A isto se chama Uma Visão Armilar do Mundo, conforme o símbolo que tremula na nossa bandeira: a perfeição, plenitude e totalidade da esfera e, nas suas armilas, a interconexão de todos os seres e coisas, tradições e culturas, artes e saberes. Muito antes de ser o emblema de D. Manuel I, é essa a maior fecundidade simbólica da Spera Mundi, Esfera e/ou Esperança do Mundo: ao invés do nacionalismo ou patriotismo comuns, a cultura portuguesa e lusófona tenderia a converter muros em pontes, fronteiras em mediações, limites em limiares, numa abertura ao planeta e ao universo, a todos os povos, nações e seres, a todas as línguas, culturas, religiões e irreligiões. Uma visão armilar do mundo é uma visão-experiência integral e holística do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades.

Numa era celebrada como multicultural, mas ainda tão cega para o entre-ser universal, aqui se invoca a Esfera Armilar como actual paradigma da reinvenção de Portugal como nação de todo o mundo, que vise o melhor para todos, uma cultura da paz, da compreensão e da fraternidade à escala planetária, que não separe o bem da espécie humana da preservação da natureza e do bem-estar de todas as formas de vida senciente.

umoutroportugal.blogspot.com

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma Visão Armilar do Mundo

Publico a Introdução ao meu próximo livro, UMA VISÃO ARMILAR DO MUNDO.
A vocação universal de Portugal em Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva
, que sairá no início de Fevereiro na Editorial Verbo.


Uma Visão Armilar do Mundo

Reúno aqui um conjunto de estudos e ensaios dispersos, bem como um extenso texto inédito, que versam sobre um dos rumos maiores da minha actividade enquanto investigador e docente, a reflexão acerca de Portugal e do seu sentido no diálogo hermenêutico com alguns dos seus mais destacados poetas, profetas e pensadores: Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva.

Em todos eles o leitor encontrará um nítido fio condutor: por vias diversas, estes cinco autores vislumbram e assumem em Portugal, na sua dimensão simultaneamente real e simbólica, uma vocação para a universalidade. Este Portugal e esta vocação, naturalmente pensados a partir da experiência histórico-cultural dos Descobrimentos e da diáspora planetária ainda em curso, assumem duas vertentes, simultâneas e inseparáveis: 1 - designam, por um lado, a predisposição e o impulso do povo, da nação e da sua cultura para uma aventura e convivência planetárias, que nos intérpretes aqui estudados se converte na assunção de Portugal como mediador ou inaugurador de um novo ciclo cultural e civilizacional, sob o signo de uma globalização ético-espiritual, em tudo contrastante com aquela, de teor económico-tecnológico, que hoje se impõe, com todos os problemas e riscos inerentes; 2 – por outro lado, Portugal e a sua vocação para a universalidade são assumidos, pelos mesmos autores, como símbolos de algo que interpretamos como o próprio homem ou a própria consciência, em busca de uma visão-experiência mais plena do real e na aspiração a realizar integralmente as suas supremas possibilidades. Desta interpenetração de dois registos do que se designa como Portugal, o real e o simbólico, e que se prolonga na leitura feita de algumas das suas mais paradigmáticas figuras, mitos e símbolos histórico-culturais, decorre uma complexa ambiguidade, que exige um rigoroso discernimento hermenêutico e crítico. É isso que procuramos fazer ao longo deste livro, num diálogo com os autores que procura pensar com e a partir deles e dos seus temas, problematizando as suas leituras, sem deixar de lhes aproveitar as sugestões especulativas.

Seja como for, encontro nestes cinco poetas, profetas e pensadores de Portugal, do seu sentido e destino, aquilo a que chamo Uma Visão Armilar do Mundo. O que designo como tal é uma visão-experiência do mundo sob o signo de tudo o que no símbolo da esfera armilar se implica: perfeição, plenitude, totalidade e infinidade. Tudo se passa como se nestes cinco autores o sentido último de Portugal, e/ou do que como tal se simboliza, não deixasse de ser o divino globo do mundo, ou a sua divina visão, revelada por Tétis a Vasco da Gama na camoniana Ilha dos Amores. Directa descendente da Esfera do Ser em Parménides, da Esfera do Amor em Empédocles e da Esfera camoniana, além de todas as tradições que figuram o divino e o incondicionado como uma Esfera infinita e omniabrangente, a Esfera Armilar acresce a essas, no entrecruzamento das suas múltiplas armilas, o símbolo da interconexão dinâmica de todos os seres e coisas, de todas as tradições e culturas, de todas as artes e saberes. Muito antes de se tornar a divisa de D. Manuel I, conectada com o domínio imperial e territorial do mundo, é essa a maior fecundidade simbólica da Spera Mundi – Esfera e/ou Esperança do Mundo, conforme foi interpretada – que tremula na nossa bandeira, como marca disso que Camões, Vieira, Pascoaes, Pessoa e Agostinho da Silva divisam na nossa cultura: ao contrário da atitude do nacionalismo ou patriotismo comum, luso ou lusófono, sempre tendentes a resguardar-se (agressivamente) atrás de supostos e estáticos perfis identitários e a privilegiar o mesmo em relação ao outro, a cultura portuguesa e lusófona primaria pelo impulso de converter muros em pontes, fronteiras em mediações e lugares de passagem, limites em limiares, num descentramento e abertura incircunscritos ao mundo e ao universo, a todos os povos e seres, a todas as línguas, culturas, religiões e irreligiões, a todas as formas de alteridade. Como se acentua em Pessoa e Agostinho da Silva, Portugal e a Lusofonia seriam mesmo movidos por um ímpeto de ser tudo de todas as maneiras e nisso sacrificar, esquecer e perder a própria identidade, transfigurando-a divina e cosmicamente, tal um sujeito místico que só se realiza plenamente, sendo tudo quanto pode ser, quando já não é isto ou aquilo, quando não existe, quando não é nada.

Decerto que nesta visão haverá uma boa parte de idealização optimista, que projecta na nação as próprias e supremas aspirações dos autores, pois o Portugal e a comunidade lusófona que, noutras perspectivas, surgem como reais, parecem ter sido e ser bem diferentes, para o melhor e o pior. Tudo depende, como sempre, da perspectiva que condiciona e dá forma à percepção do que chamamos real. Contudo, para além de toda a deconstrução psicológica e psicanalítica possível, permanecerá qualquer coisa por esclarecer, que é o fundo obscuro que torna esta visão reiteradamente presente nalguns dos nomes mais representativos e geniais da nossa cultura. Independentemente de esta visão armilar do mundo corresponder a uma missão, vocação, potencialidade ou aspiração, creio que ela é, indubitavelmente, a visão mais fecunda que do mundo se pode ter, sobretudo se for assumida não como mera forma de autogratificação intelectual, cultural e/ou supostamente “patriótica”, como algo de já garantido e possuído de uma vez por todas, mas antes como projecto individual e colectivo a desenvolver, dádiva, tarefa e serviço a prestar a si, à nação, ao planeta e ao universo. Porque uma visão armilar do mundo é, como vimos, uma visão-experiência do mundo sob o signo da perfeição, plenitude, totalidade e infinidade, real ou possível, convidando à abertura da mente e do coração ao entrecruzamento, intersecção e interacção armilares de todos os seres e coisas – que na verdade não são, mas entre-são, como disse Pessoa - , ela não pode senão conduzir a um Abraço solidário à natureza e a todos os entes, que seja a busca de realização do seu Bem, a todos os níveis, do espiritual e cultural ao ecológico, social, económico e político, sem discriminação de raça, sexo, religião, nacionalidade ou espécie. Uma visão armilar do mundo é uma visão-experiência integral do mundo, sem cisões, exclusões ou parcialidades.

É sob a influência deste potente símbolo, a Esfera Armilar, e em busca de uma filosofia armilar como cumprimento da vocação de toda a filosofia, antes modo de vida do que mera teoria, que inicio com este livro um novo ciclo da minha produção filosófica e literária, numa natural metamorfose daquele antes iniciado sob o signo do Finisterra e do Atlântico [1], já antecipada num livro e na ficção sobre Agostinho da Silva [2] e emergente nas obras publicadas mais recentemente [3]. É também sob o signo da Esfera Armilar que publico aqui os três últimos ensaios, de carácter mais pessoal, onde os dois últimos apontam rumos concretos de acção e intervenção pública, inspirados no que designo como patriotismo trans-patriótico e universalista e consubstanciados no projecto Refundar Portugal/Outro Portugal.

E é o símbolo holístico da Esfera Armilar que - numa era celebrada como multicultural, mas ainda tão falha de uma visão real da interdependência ou do entre-ser universal de todos os seres, povos, nações, saberes e culturas - invoco como paradigma plenamente actual e contemporâneo de um destino por cumprir, de um potencial em aberto, de um chamamento urgente, vindo do mais fundo sem fundo de cada um de nós e do qual depende hoje a própria sobrevivência humana, a biodiversidade e o equilíbrio do planeta: ver e experimentar o mundo divinamente, ou seja, integralmente, sem cisões, exclusões ou parcialidades.


Lisboa, Penha de França,
13/14 de Janeiro de 2010

[1] Cf. Paulo Borges, Do Finistérreo Pensar, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001; Pensamento Atlântico. Estudos e ensaios de pensamento luso-brasileiro, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2002.
[2] Id., Tempos de Ser Deus. A espiritualidade ecuménica de Agostinho da Silva, Lisboa, Âncora Editora, 2006; Línguas de Fogo. Paixão, Morte e Iluminação de Agostinho da Silva, Lisboa, Ésquilo, 2006.
[3] Id., Princípio e Manifestação. Metafísica e Teologia da Origem em Teixeira de Pascoaes, 2 volumes, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2008; A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido (aforismos), Lisboa, Zéfiro, 2008; Da Saudade como Via de Libertação, Lisboa, Quidnovi, 2008; A Pedra, a Estátua e a Montanha. O Quinto Império no Padre António Vieira, Lisboa, Portugália Editora, 2008; O Jogo do Mundo. Ensaios sobre Teixeira de Pascoaes e Fernando Pessoa, Lisboa, Portugália Editora, 2008.