O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 23 de maio de 2010




…Nada te detém,
É a noite no teu corpo…
A noite terrível no teu corpo.
Nada te detém

A noite sem forma e sem corpo,
Nada te detém,
nem os montes, nem a aurora,
nem o mar.

Nada te detém,
E te projectas,
Nos redutos da noite
(nem a noite)
.…
Nada te detém

Vim para te revelar!


Carlos Nejar, A idade da noite

6 comentários:

Médium disse...

Os meus dedinhos são parecidos com os do passaroco.

Tolentino Mendonça disse...

A penúria da língua é a sua força.
Reconhecendo nela a indigência
mais o apuro se empolga
e a submissão empolga a subtileza
do espírito, dado à obra
e a mais nada que não seja ela.
De aí que se desenvolva
uma abertura hiante de surpresa
que pede língua cada vez mais nova
e de mais adequada obediência.
Ou, se quiserem, língua peremptória.
Porque, se vinda do fundo da pobreza,
entrega apenas quanto falta. E torna
a sua falta uma abertura imensa,
indigitando o extremamente fora,
cuja ausência feliz se nos entrega.

Médium disse...

Elevo as minhas mãos até à tua poesia.
Tens mais?

Fernando Echevarría disse...

Deste género? Sobre o tema? Sim.
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Vai-se o júbilo abrindo, vesperal,
a outro, pressentido, que se estende
E há-de cumprir o ímpeto que traz
de ultrapassar-se inexoravelmente.
As fronteiras, por ora, apontam mais
do que limitam. A atenção assente
àquilo que, por dentro, a impele a andar
por um fundo sentido a resolver-se
a cada passo. E feliz se vai
explicitando, interior, até que
as fronteiras só sejam sinal
de um júbilo a chegar. Aberto sempre.

Médium disse...

Achas que o anónimo vai entender?

Poeta disse...

Não tenho a certeza. Acho-o um bocado retrógrado.