domingo, 30 de novembro de 2008
ensaio sobre a cegueira
O único filme que até agora não desiludiu (sendo uma adaptação de livro).
Uma interpretação fantástica da Julianne Moore, bem como do excelente elenco de actores que dão vida às palavras de Saramago.
Tudo está ali como imaginei. Excepção para um pormenor ou outro. O livro é mais rico, porque aprofunda momentos e explora outras situações.
A não perder.
O livro e o filme.
Numero de Identificação Fiscal
Que nos aquece o corpo
Que nos dá forças para continuar
Porque sentimos quem somos
E somos muito mais do que isto!
Somos
Imortais viajantes
Nesta infinidade de coisas
Neste universo infinito
Somos alguém, finalmente!
o jogo da tua vida
Em certa medida são robots, têm gestos e atitudes mecânicas, e vocês não confundam instinto com mecânica, pois eles são mais mecanizados do que propriamente instintivos, e já nem vou meter aqui a racionalidade ao barulho!
A vida parece um jogo qualquer cujo o objectivo é o jogador conseguir libertar-se, passando assim, de nível! Mas muitos perdem-se nos labirintos do materialismo e em muitos outros labirintos.
As maternidades são o hall de entrada de novos jogadores, daí são encaminhados para secções onde lhes serão transmitidas as regras do jogo, procuram transmitir-lhes leis em todos os campos da sua existência, espiritual, alimentar, comunicação, etc.
Muitos não conseguem ultrapassar essas leis, por isso nunca chegam à libertação, acabando por ser suprimidos, ao passo que outros, estão já no final do jogo olhando para a meta, esperando que surjam os jogadores que faltam!
Bardo - a Fernando Pessoa, no dia da sua transfiguração
Por não ser tua a Hora que anunciaste.
Tiveste teus olhos quentes de água
Por em ti não chegar Quem esperaste.
Que houveste tu,
da névoa e da saudade,
senão a mui grande coita
em que por vida andaste,
e a alterosa dor,
em ti sofrida,
da pátria e do povo
que cantaste?
Repousa, amigo,
que mais que o incerto sopro
foste o divino anseio
humano feito,
e,
por haveres desejado e não tido,
deste ao tempo a Hora
em que por tua obra
se conheça o Eleito.
- in Trespasse, Lisboa, Edições do Reyno, MCMLXXXIV, p.74.
"Amanhã, a estas horas, onde estarei" / "Dá-me os óculos..." - derradeiras palavras de Fernando Pessoa, que partiu em 30 de Novembro de 1935
[...] o facto é que me creio o primeiro a entregar a palavras o absurdo sinistro desta sensação sem remédio"
- Bernardo Soares, Livro do Desassossego.
Silêncio (in Regatos de Ternura)
Até o nome universal dos tempos,
até o som dos silêncios
nada existe:
tudo é húmido vapor,
língua do ar.
Na dor cósmica apaream-se
as linhas da saudade
e a vida;
a energia
deita
longos caminhos
contra o caos.
Nada.
Apenas dor.
Ave que dizia amor
no tempo primitivo,
o da criação,
do verbo.
E tudo era tudo,
tudo era.
Fluido de existência,
energia do círculo,
da onda,
do número ínfimo
que mudou
para computar
em carne erótica
o átomo prequântico
dos beijos universais.
A concepção incolora
da cor,
a gestação insípida
do sabor,
o nascemento inodoro
do odor:
selvagem ternura das hidronímias
na terra dos rios
para o mar.
sábado, 29 de novembro de 2008
confiar
Gente a morrer de fome
Mal pagos e abandonados
E ainda assim confiais as vossas vidas
Nas mãos de quem vos quer destruir!
Não sabeis vós, discernir?
Não ouviste tu, falar da vida
Que é o contrário dessa efermidade
Que ternamente abraçaste!
Porquê?
Na tua irracionalidade
Milhões perecem, na culpa que tentas ocultar!
Ser vivo, tu?
Não tens tu, coração?
Não és tu, racional?
Parece-me que não, pelo que tenho observado!
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
a existencia
Até hoje, o ser humano, na sua generalidade trabalhou sempre, derramando sangue alheio e transpirando o suor dos que o rodeiam, nas religiões proclamam outros, não da melhor das formas, na política trabalham com o dinheiro dos outros, mas não da forma mais correcta. Quando o ser humano foi chamado a fazer algo que fosse verdadeiramente seu, nada fez, porque os que o rodeiam nada tinham feito daquilo que lhes foi solicitado. Tudo o que é grande, é fruto do individuo, e não das massas. Feitas as contas, a humanidade até à data nada fez, que não fosse feito com o esforço alheio. Foi tudo mero oportunismo e falsas promessas, quando os recursos acabam o ser humano fica muito mal despido, e revela a sua insuficiência. A história da humanidade é comparável à história daquela criança que encontra um doce, que quando acaba, deixa a criança num choro interminável. Toda a existência humana revela-se, a nível construtivo, em vão. Apenas foi comendo os doces até que estes acabassem! É triste ser humano! |
Livre de ti e de ser
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Acredito na Utopia, mesmo acordado.
Conspiro porque acredito. Nas coisas da humanidade sou um pinga amor. Esta contradição de mundo atroz não me faz desviar um décimo que seja dessa conspiração e deste acreditar em utopias quase impossíveis.
Dou mil passos para um quase nada
E todos os passos são um simples passo
Que passo de passo em passo a caminhada
Para um dia me encontrar nesse compasso
Ás vezes, emociono-me sempre, quando leio algo "que mais importa", "que desde sempre urge".
JSL
A vida
Entre nascer até à morte
É sobretudo aos que verão
Uma ingrata e grata sorte
É muito mais que não se sabe
A sua mestra mestra até ignorância
O não saber-la é sabor que não sabe
É um saber tão curto e sem distância
E depois tem na dor muitos sintomas
É é sangue e tripas ... indisposições
São abortos eutanasias e são comas
E antes dela (a morte) só confusões
E tudo porque não tem de comer
Para matar a fome a si mundo
Para ter o privilégio de viver
Uma vida vivida a fundo
De: José Lourenço
Poema homenagem à poesia/filosofia de Agostinho da Silva
www.agostinhodasilva.blogtok.com
Jigme Khyentse Rinpoche em Lisboa, 30 de Novembro - Pela Libertação!
É com enorme prazer que vos informamos da presença de Jigme Khyentse Rinpoché em Lisboa, a convite da Fundação Kangyur Rinpoché, para um dia de Ensinamentos Públicos e Sessões de Meditação Shamata.
A data é 30 de Novembro, o local o Hotel Tiara Park Atlantic (R. Castilho, 119 - Lisboa) e decorrerá entre as 14h30 e as 18h00. A contribuição será de 10 euros, não sendo necessária inscrição prévia.
Fundação Kangyur Rinpoché
http://www.krfportugal.org
Visitar também:
http://www.songtsen.org
www.chanteloube.asso.fr
“Certain Rinpoches, those known as great teachers, would by definition be the ultimate bad partner, from ego’s point of view. If one approaches such great masters with the intention of being gratified and wishing for a relationship of sharing, mutual enjoyment, etc., then not only from ego’s point of view, but even from a mundane point of view, such people would be a bad choicer. They probably will not bring you flowers or invite you out for candlelit dinners.
If someone goes to study under a master with the intention to achieve enlightenment, one must presume that such a student is ready to give up his or her ego. You don’t go to India and study with a venerable Tibetan master expecting him to behave according to your own standards. It is unfair to ask someone to free you from delusion, and then criticize him or her for going against your ego. I am not writing this out of fear that if one doesn’t defend Tibetan lamas or Buddhist teachers, they will lose popularity. Despite a lot of effort to convince the world about the pitfalls of the dharma and the defects of the teachers, there will still be a lot of masochists who have the misfortune to appreciate the dharma and a crazy, abusing teacher who will make sure to mistreat every inch of ego. These poor souls will eventually end up bereft of both ego and confusion.”
Dzongsar Khyentse Rinpoche
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Festas Bacanais
Borrachas, borrachões assinalados,
Que de Alcochete junto a Vila Franca,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram inda além de Peramanca:
Em pagodes, e ceias esforçados,
Mais do que permite a gente branca,
Em Évora cidade se alojaram,
Onde pipas e quartos despejaram:
II
Também as bebedices mui famosas
Daqueles que andaram esgotando
O império de Baco, e as saborosas
Águas do bom Louredo devastando;
E os que por bebedices valorosas
Se vão das leis do Reino libertando;
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar Baco, e não Marte.
III
Cessem do Novelão, do grã Barbança
As grandes bebedices que fizeram;
Cale-se do Rangel e do Carranca
A multidão de vinhos que beberam,
Que eu canto doutra gente e doutra lança,
A quem frascos de vinho obedeceram:
Cesse tudo o que a musa antiga canta,
Que outro beber mais alto se alevanta.
IV
E vós, bacanais ninfas, pois criado
Em mim tendes a sede tão ardente,
Se sempre em largo copo espraiado
Festejei vosso vinho alegremente,
Dai-me agora um bom papo despejado
Para beber à perda co'esta gente,
Porque de vossas águas Baco ordene
Um rio para bêbados perene.
V
Dai-me uma vasilha mui cheirosa,
Seja de bom licor, não saiba a arruda,
De Peramanca seja que é gostosa,
O peito esforça, a cor ao gesto muda;
Dai-me igual nome às taças da famosa
Gente vossa que Baco tanto ajuda;
Que se espalhe, e se cante no universo,
Se tanta bebedice cabe em verso.
- Festas Bacanais,
Conversão do primeiro canto d'Os Lusíadas do Grande Luís de Camões
Vertidos do humano em o de-vinho por uns caprichosos actores:
o Dr. Manuel do Vale, Bartolomeu Varela, Luís Mendes de Vasconcelos e o Licenciado Manuel Luís, no ano de 1589.
Lisboa, Apenas Livros, 2007
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Intelectualidade: Benção ou praga?
Será que surge de alguma predisposição natural que faz com que os seus autores só se realizem inventando fórmulas, livros, máquinas, quadros, esculturas e ensaios? Porquê estas formas e não outras? Porquê não dar vazão a essa energia pura e simplesmente fruindo a beleza que nos rodeia até aos limites? Tornando-se pura receptividade e dissolvendo-se nela, transformando-se eles próprios nessa beleza beleza e deixando a beleza tornar-se neles mesmos?
Será que a arte, a ciência, a filosofia e a literatura têm ao invés origem nalguma incapacidade dos seus autores de fruirem a vida em plenitude?
Será que a inadaptação que atinge tantas "grandes cabeças" será resultado de alguma falha inata, de um qualquer defeito orgânico que os torna aquilo que são, "grandes cabeças"? Ou será resultado de uma má-vontade intríseca do "homem comum" que só pensa em satisfazer suas necessidades e curtir um lazer massificado? Da sua incompreensão e inveja em relação ao que supostamente o ultrapassa, condenando assim as "grandes cabeças" à solidão e neurose, quando não à auto-destruição?
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Annwyn
e falavam da eterna Avalon,
a ilha das maçãs e as fadas,
onde sempre sobreviveu o teu olhar perdido,
nos mil rostos, nos mil brilhos
do fruto que mordemos numa longa noite
do mês de Abril,
na primavera das revoltas.
A primeira maçã tinha o cheiro de Genebra,
e tinha o sabor de Lancelote.
Confundiam-se na cópula os rostos,
os nomes, as palavras,
o sentir profundo
que deixava eternidade,
os passados revoltos,
que encarnavam o corpo novo
das peles rubricadas
e os corações rotos nos cantos,
nas forças, nos sonhos,
nas múltiplas sementes de luz.
O bem e o mal eram na maçã tempo,
o rancor e a compaixão,
o afecto na ponta do triângulo,
o amor, o desejo.
Choviam fios de paz e esperança
e desciam em comum dos nossos lábios
num beijo de luz
que podiamos morder, sentir
de boca cheia, de lua nova
na macieira de Avalon,
nossa Avalon,
Annwyn a doce..
Yukio Mishima, "A Senhora de Sade"
Lançamento de A TELA DO MUNDO : 6 DEZEMBRO, 17h MUSEU DO FADO
Por motivos que me são totalmente alheios e, como noticiado pelos órgãos de comunicação social, ocorreu o encerramento da que era propalada como a maior livraria do país,a livraria Byblos, situação que me apanhou totalmente de surpresa, obrigando-me a alterar o dia e o local do lançamento do meu livro A Tela do Mundo para o Museu do Fado (Largo do Chafariz de Dentro, n.º1, Bairro de Alfama, Lisboa), dia 6 de Dezembro, às 17 horas.
Com um renovado entusiasmo e desejo que venham partilhar o nascimento da obra A Tela do Mundo, quase ferida de morte por quem não honra compromissos, pois fui tão apanhado pela "bomba" do fecho da Livraria como todos vós e cujos estilhaços me perfuraram por dentro: o ânimo, a vontade.
Porém gestos generosos , mensagens de múltiplos quadrantes de apoio e incentivo, respeito e convicção pela qualidade do meu livro, pelas pessoas que tanto se têm empenhado em planear e sonhar o seu evento (a produção de imagens prodigiosa de Inês Apolinário, o empenho da criadora de jóias contemporâneas Inês Nunes, da Mónica Cunha, da Cíntia Gonçalves, a colaboração de vários artistas plásticos , da Direcção da Cultura da Câmara M. de Lisboa, na pessoa, minha amiga, de Drª Laurentina Alves P, da Directora do Museu do Fado, Drª Sara Pereira, da Professora Doutora Isabel Clemente (autora do posfácio da obra) e que fará a apresentação do meu livro, de tantos outros, porém, dizia-vos, toda essa dinãmica ditou, com a força de um kantiano imperativo categórico, que o meu livro seja lançado, num espaço lindíssimo, num evento com um prelúdio musical de três guitarristas exímios (Isabella's Bop), com a apresentação de uma especialista maior em filosofia/estética e história de arte, com a leitura polifónica de poemas do livro tendo por fundo a projecção de imagens que serviram de rampa à construção poemática, com um fecho sublime protagonizado na guitarra portuguesa por Luísa Amaro (companheira de vida e de palcos do saudoso Carlos Paredes) e do primeiro clarinetista Gonçalo Lopes, que interpretarão uma composição inspirada nesta obra A tela do Mundo.
Depois haverá autógrafos e, sobremaneira, as dedicatórias sinceras e gratas que quero deixar nos vossos livros, que serão a vida do meu livro, e, finalmente, um beberete oferecido pelo Museu do Fado.
A Todos agradeço. A muitos, desejo e acredito, até dia 6 de dezembro no Museu do Fado para co-celebrarmos o nascimento de A Tela do Mundo.
domingo, 23 de novembro de 2008
Labaredas de Sal
Porque sabem que o fogo
Devora a mãe e as palavras que não arrefecem
Alastram pelos rios em chamas
E um combóio vai por entre as labaredas
Abrir novas sepulturas,
Reabrir as nossas valas.
Jurei que o vento havia de alastrar nessas fogueiras,
Mas para o rosto interrogado
Não se calaram os pássaros
Nem suspenderam o tempo, as grinaldas passadas.
Com um caule de sal é que esmagamos a voz,
A voz magnificada entornada em terreno de lágrimas.
Haverá velocidades interiores para corredores
Onde o tempo ainda não chegou.
Esperam-me, sôfregas, as rosas,
E há uma campânula que se abre com veemência
Nas pálpebras dos jarros e das tintas.
Ainda havemos, amor, de atear madeiras frias
E construir espaços ilimitados para os pássaros
Hão-de medir a altura do vento com uma vara de cristal
As rosas entornadas em cima da mesa hão-de escorrer
Pela garganta do ar, servidas de morte
Em grinaldas do vento, ateadas no fogo.
Ocaso
Não há o princípio não há o fim
do que em mim se levanta com o sol
em tudo arde o fogo de não ter sido
um crisol de luz e pranto um jardim
florido o coração um girassol
com todas as manhãs florescido
um incêndio de nada acontecer
madrugada cristalida a arder
a brisa matutina entardecendo
precipita a manhã no anoitecer
e consuma o tempo já transcorrido
e faz com que, mesmo sem o sabendo,
os seres se aquietem no pesado olvido,
na saudade perene do não-ser
sábado, 22 de novembro de 2008
Recital de Pedro Casteleiro e Manu Clavijo na Corunha
Vale a pena, amigos, voltar da mão de um amigo. Aqui vai este recital que recentemente nos deram Pedro Casteleiro e Manu Clavijo na Corunha.
http://www.udc.es/dep/lx/cac/sopirrait/sr090.htm
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
GRITO
como o gladiador
que é transportado à arena para enfrentar as feras
saudar o imperador
com um Imperial
Manguito
Ontem foi o Dia Mundial da Filosofia.
o caminho faz-se caminhando...
"... em absoluto livre e desprendida, como Deus em Si mesmo é desprendido e livre"
- Sermão "Intravit Jesus in quoddam castellum et mulier quaedam, Martha nomine, excepit illum in domum suam. Lucae II. (Lc 10, 38)", in Mestre Eckhart, O Abismo Eterno, antologia de tratados e sermões escolhidos e prefaciados por Jorge Telles de Menezes e Paulo Borges, tradução do alemão de Jorge Telles de Menezes, Lisboa, Paulinas, 2009 [no prelo].
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
navegação matutina
A harpa do silêncio dedilhada pelo vento
O esquecimento lavrado p'la espera
É sem regresso o que nunca partiu
Austera ânsia de em cada momento
Não ter nada mais que a esperança sincera
Do mundo se tornar mar e navio.
E inventar viagens nas ruas caladas
Fazer chegadas nas praças sombrias,
Ilhas de espanto na desolação
Das vidas mais firmes e sossegadas,
Na dormência da passagem dos dias
Recusar a paz e a continuação
Aportar em todas as madrugadas
E ter como rota a perdição.
Shiva e Buda - Quem tu vês e o que sentes
Quadro de João Teixeira da Motta, intitulado e enviado pelo próprio, de Nova Iorque. Segundo as suas palavras: "O quadro é mágico no sentido de que se o olhas com intenção durante uns minutos as imagens ganham vida e mudam, adquirem várias expressões e comunicam contigo, pelo menos essa é a minha experiência..."
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Medita
Estamos apresentando
Gostaria de ir ao debate abaixo publicitado mas tenho o carro na inspecção.
Conversas de Bairro… Às Voltas com a Nação - Hoje, 18.30, na Bulhosa (Campo de Ourique)
Convidados: José Neves e Paulo Borges
Moderador: Rui Duarte
Debate com José Neves (Autor do livro "Comunismo e Nacionalismo em Portugal no século XX") e Paulo Borges (Co-Director da Revista Nova Águia, Presidente da Associação Agostinho da Silva e da Comissão Coordenadora do Movimento Internacional Lusófono)
Numa época em que a independência real das nações é vista e revista a cada momento, convidamos dois oradores com visões bastante diferentes sobre o tema. Mais do que discutir Portugal e o seu papel, é a própria ideia de nação que se pretende ver debatida.
Rua Tomás da Anunciação, nº 68 B
1350-330 Lisboa
terça-feira, 18 de novembro de 2008
lá fora... é amanhã*
Um dia fiz-me actriz e representei para o mundo o meu único papel.
Nesse dia, vi voar a minha alma em liberdade;
Nesse dia, eu própria me libertei do mundo.
E que bom foi saber que ainda há tanto para ver!
Ainda há tanto para representar!
Que não cabe num só mundo.
Foi esse o dia em que nasci...
E é esse o dia em que vou partir...
Para longe do mundo
E representar outras coisas.
CONVITE A TODOS OS COLABORADORES DA SERPENTE EMPLUMADA (29 novembro, 18h45, Livr. Byblos, amoreiras
A Tela do Mundo, livro de estreia de Luís Filipe Pereira nos meandros da poesia, propõe-nos um diálogo entre a palavra poética e um conjunto de pinturas e pintores contemporâneas (de Vieira da Silva, Antonio López, Helena Almeida, Miró, Chagall, Cézanne, até aos desenhos do Poeta António Ramos Rosa, Graça Morais, Frida Kahlo, Tàpies, Júlio Resende, Paul Klee, Edward Hopper, João Vieira, Laura Cesana (uma pintura sua, expressamente realizada para o livro, dá rosto à capa idealizada como uma tela) Helena Almeida, De Chirico, van Gogh, Magritte entre vários outros).Um livro que explora o enlace ou concerto de duas artes: a poesia e a pintura, numa reinvenção da linguagem segundo o mote lançado por P. Klee para a arte moderna: "dar a ver o invisível" e convertido pelo autor de A Tela do Mundo em versos como:"O encontro dos lábios/ com a paisagem dos dedos". Este livro, como se tela em branco a ser pontilhada pelos sulcos de cor recriados pelo olhar dos leitores, nascerá no dia 29 de Novembro, às 18h45, na Livraria Byblos das Amoreiras, com apresentação da Professora Doutora em Filosofia/Estética A. Isabel Clemente (autora do Posfácio da obra), num evento pautado pela interartisticidade, pelo "encontro inesperado do diverso" (M. G. LLansol), por hibridismos de artes e polifónicos modos de dar a ver sob o signo do Poético em sua amplitude poiética e aiesthésica.
"Universo poético, rico, muito rico, que é preciso ir descobrindo, linha a linha, poema a poema, em que nos vamos deixando enlear e cuja magia persiste para lá da leitura." (Isabel Clemente)
"Tal como um homem enlaçado pela sua amante nada mais sabe do exterior nem do interior..."
[Candala e Paulkasa são duas categorias de "intocáveis" ou sem-castas na sociedade indiana]
- Brhadaranyaka-Upanishad, IV, 3, 21-22.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Pur’Amor
Há imagens que só têm silêncio, disparam flashes facultando vistas de que não se sabe falar. Há coisas que se vêem luminosas de que não se lhes consegue arrancar a obscuridade. Não está nos sentidos, se os quisermos delimitar, porventura estará nos inomináveis, e com certeza está no que se sente, nas Estações da Hora, do Dia, da Vida. Primavera, Verão, Outono e Inverno, cada uma dirigindo-se e mergulhando na outra de si nunca deixando o que percorre ou penetra de ser outra coisa que não o que sempre foi, é e será, impenetrável por natureza.
Às vezes falamos não sobre o que vemos mas de um reflexo que fala connosco: ouvi uma paisagem Pacífica e Bela cuja reflexão tomou os seguintes termos: Esta Vida que (nos) Mata…
domingo, 16 de novembro de 2008
"A morte é uma flor"
Descubro as escadas, porque não sei se a morte é uma forma de descer ou de subir. Depois talvez possas escolher, como quando te ensinava, o caminho. O caminho é sempre teu. A direcção, o rumo deixo que o escolhas porque te quero sempre entregue à liberdade do pensamento. Mesmo quando arrefeces e as palavras são mais frias dentro de nós, elas indicar-te-ão, vestidas no manto branco do silêncio perene, um norte ou um desnorte. Creio que andarás ainda por perto do reino dos vivos, mas não faças mais como nós fazemos, porque somos sonâmbulos que se perdem da relação entre a vida e a morte. Faz agora o teu caminho e não nos imites ou te deixes chamar mais uma vez.
Penso neste lugar. Parece mais abaixo mas pode ser também um útero em que a terra se levanta para te erguer ou uma morada em que sintas que, como o mar e as ondas, a terra te embala e é a grande mãe onde te fundes. Um útero dentro da terra para descobrires outras mães e outras mulheres fecundas onde inscrevas a luminosidade do teu riso brilhante. Um riso de louco pode parir uma estrela…acho que nunca te ensinei o sentido último deste pensamento, mas sei que te falei deste autor. Ouve-lo? Anda como tu por entre as paisagens do sul e desertas e nunca ouviu vivos. Chegas ao seu reino e, se o encontrares, recebe dele e de Ensor uma máscara para dançares e bailares nos espaços eternos onde a luz nunca é tão breve como aqui. E o teu sorriso não terá fim…
Antes que chegues, certifico-me que te deixei a árvore para ouvires os pássaros e os nomes com que na Terra os homens bons renomeiam a beleza e o instante. Quero que sorrias com a nossa capacidade, quase inexistente, de iluminarmos o fugaz e o passageiro que os pássaros cantam. A árvore é uma parte do bosque e nela moram as palavras inauditas e aquelas com que daqui em diante podes escutar a Terra vista desse lugar longínquo e desse lugar sem tempo. A luz doura-as, às folhas, e com elas espero-te neste lugar fundo da saudade para te soprar os versos que aprendi a ler nos movimentos de Klimt. Klimt não pintava nem escrevia. Deixava-se vagar pelo atelier à espera dos que apareciam ainda com a aura de beleza e juventude intactas. Retirava os movimentos restantes e repousava os mortos na imobilidade de uma visão imemorial. Esse repouso, esse descanso, cobria-o ele soprando a cor do que é eterno sobre os vossos corpos frios. Por isso todos os seus mortos estão revestidos desse brilho que ele conhecia e nenhum de nós partilha: recebia os mortos com folhas de ouro, douradas, que soprava e onde iam escondidas as sílabas do outro mundo. Esta noite soprarei neste atelier onde Klimt e tu descem ou sobem, não sei, os versos órficos que trouxe guardados dos teatros gregos por onde ouvi Sófocles e Ésquilo. Esta noite, e para ti, não serei nem Isabel nem a tua professora, serei como Cassandra, a do grito incontido. Klimt repreender-me-á como a uma sombra viva que o atrapalha. Desviarei o grito para não perturbar os sopros e, no vento, te deixar as múltiplas direcções com que vivos e mortos se podem ainda cruzar.
Dizem-me que inexistes, e, no entanto, ainda és dentro de mim fechado num grito e num espasmo. Um rosto vibrante e aberto por onde te digo, na última lição, a saudade. Queria dizer-te que um túmulo é outra porta e que a minha saudade te oferece o portão da espera, da espera infinita, a Idade de Ouro onde Klimt te pinta, Nietzsche te espera em gargalhadas furiosas e eu deposito a minha amizade numa lágrima que entrego à raiz desta árvore com sede de ti e de nós. E, quando pensares que o lugar onde te espero é ainda escuro, olha para ti e verás que eras tu que polias com folha de ouro a nossa tristeza.
Dizem-me que morreste e eu vejo Klimt andando pelo atelier com folhas douradas para te receber e grito, prometo, noutra direcção. Aqui. Ofereço as lágrimas a um pintor que queira limpar os pincéis com que se escreveu sobre a morte. E a morte é uma flor, como sabia o Celan…
Esta desce sobre ti e não sei onde vai cair ou subir. Mas ela sabe como te encontrar no caminho.
Em memória do meu aluno Diogo Costa, o mais feliz dos alunos que tive, o do sorriso mais feliz e permanente e a quem agradeço a imensa alegria com que contagiou os meus dias e os da turma. À turma que me chamou para estes lugares mais fundos, a Morte e a Saudade, que são a grande sala metafísica da Vida, em particular ao João Moita e à Teresa Neves que estão ou na base da escadas ou no topo das escadas e confiam no que encontro e não procuro. Por confiarem na minha memória e no amor com que nos enlaçamos nas orlas da eternidade.
Comunicação
Vê. Que perfume vem do não ter sido
Que alvoradas te semeiam de espanto
No centro do teu peito está a luz
Essa luz que me traz anoitecido
A mesma luz que brilha no meu pranto
tudo em mim transfigura essa luz
Vê. Sempre essa luz alva e dançarina
Sempre sem mácula e alucinante
Tudo é na luz pouco mais que neblina
Uma vaga impressão um breve instante
Vê. O tempo é um voo para além
Não existe o que resiste à mudança
Não há morte. Vê. Que perfume vem
Do Longe que nenhum olhar alcança?
_________
(Para o Luís. Quando eu tinha 16 anos o seu irmão morreu quase sozinho no hospital Pulido Valente. Só lá estava eu e o meu medo sem nome. No sábado passado lembrei-me do olhar vazio do Zé e do sorriso triste do Luís. Minutos depois soube da sua morte. Uma morte do mundo.).
Fantasma
Já não sabia se era homem, se tinha um espírito livre, no vento; ou se alguma vez tinha meditado, pois a mente balbuciava-lhe um turbilhão de inquietações, angustiantes. E o corpo, dorido, era fustigado por um cansaço enorme e cada passada, parecia uma chicotada.
Contudo, tinha fé...fé de que poderia ainda chegar a tempo. Dentro de si, uma réstea de luz, um trajecto de vida alicerçado na busca de paz. Pois bem, era o que agora também pretendia, afinal, o que sempre quis: luz e paz, envoltas em sabedoria, na prática da compaixão.
Num pote, sagrado, levava as cinzas de quem fisicamente, amara. Como era possível que o ser humano ficasse assim reduzido? Chorava, por dentro. Emudecido, sentia ainda um nó na garganta provocado pela dor da perda. Queria também morrer, parar de sofrer. Cobardia? Talvez sim... E contrariava, sem dúvida, tudo o que tinha aprendido no mosteiro.
Diante de si, o barco que o levaria, rio fora, até ao oceano gelado, e profundo. Já se poderia imaginar a navegar, quase sem rumo (por que rumo, há sempre - por desconhecido que seja!). Seria a partir de hoje, e sempre, um monge eremita. Isto se não morresse, em corpo.
Precisava parar, do mundo, se afastar... Mas restava-lhe o sonho como bálsamo para a saudade, constantes lembranças que o atordoavam noite, e dia. Seria então um fantasma, coabitando com os seus mais íntimos.
Dura solidão, pura loucura, almejo de felicidade... Este é o trajecto de um homem, na sua senda de verdade.
sábado, 15 de novembro de 2008
Dança(s) com o Vento *
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas
E. E. Cummings
Na distância mora o fim dos meus rumos
O que dá às romãs o esquecimento
Do seu sabor ser apetecido
É treva densa a irromper do húmus
No vago torpor de cada momento
O princípio sempre já acontecido
A eterna saudade de não ter sido
Alucinação rubra e continuada
O pó da estrada de me perder
A noite revisitada da amurada
De ter partido um dia sem saber
Que a sorte não tem norte nem um porto
Chegar é quase ser tudo e estar morto
Lavrado de longes sou sem querer
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
nexo
50 000 anos depois da Europa
o sapiens - que é a maioria de nós próprios hoje -veio precisamente de África.
Não do Quénia-
da Etiópa, de Rift, ou de lá próximo.
Obama talvez seja
um regresso às origens da civilização
Dirigir o olhar
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Terras do Quinto
ESBOÇO DE UMA SERPENTE
a víbora que hei de vestir;
um sorriso, que o dente espeta
e de apetites vem luzir,
sobre o jardim se arrisca e vaga,
e o meu triângulo de esmeralda
atrai a língua do réptil...
Besta sou, porém besta arguta,
cujo veneno, embora vil,
deixa longe a sábia cicuta!
Suave é este tempo de prazer!
Tremei, mortais, ao meu valor
quando, sem me satisfazer,
bocejo e quebro o meu torpor!
A esplendidez do azul aguça
esta cobra que me rebuça
de uma animal simplicidade:
vinde a mim, ó raça aturdida!
Que estou prestes e decidida,
semelhante à necessidade!
Ó Sol, ó Sol!... Falta estupenda!
Tu que mascaras o morrer,
sob o azul e o ouro de uma tenda
onde as flores vão se acolher;
em meio a mil delícias baças,
tu, o mais feroz dos meus comparsas,
dos meus ardis o mais perfeito,
aos corações não deixas ver
que este universo é só um defeito
na puridade do Não-Ser!
Ó Sol, que soas as matinas
do ser, e em fogos o acompanhas,
que num fatal sono o arrepanhas
todo pintado de campinas,
fautor de fantasmas risíveis
que prendes às coisas visíveis
a presença obscura da alma,
sempre me agradou a mentira
que tu sobre o absoluto espalhas,
rei das sombras tornado pira!
A mim o teu calor brutal,
onde a minha preguiça gelada
vem devanear sobre algum mal
próprio à minha índole enlaçada...
Este amável lugar me seduz
onde cai a carne e produz!
Aqui meu furor ama dura;
e eu o aconselho, e eu o refaço,
e me escuto, e em meio aos meus laços
minha meditação murmura...
Ó Vaidade! Causa primeira,
que domina os Céus e os conduz,
de uma voz que já foi a luz
abrindo o cosmo sem fronteira!
Lasso de Seu puro espectáculo,
o próprio Deus rompeu o obstáculo
de tão perfeita eternidade;
ele se fez O que dispersa
em consequências Seu começo,
em estrelas Sua Unidade.
O Céu, Seu erro! E o Tempo, a ruína!
E o abismo animal alargado!
Queda naquilo que origina,
fagulha em vez do puro nada!
Mas o primeiro som do Seu Verbo,
EU!... dos astros o mais soberbo
que disse o louco criador –
eu sou!... Eu serei... E ilumino
esse diminuir divino
dos fogos do grão Sedutor!
Radioso objecto de minha ira,
Tu, que amei de um amor flamante,
e que da geena decidiste
conceder o império a este amante,
nos meus escuros Te remira!
Que ao veres Teu reflexo triste,
troféu do meu espelho negro,
tenhas tão funda comoção,
que sobre a argila o Teu ofego
seja um suspiro de aflição!
Em vão moldaste nessa lama
a prole dos fáceis infantes
que dos Teus actos triunfantes
a eterna louvação proclama!
Tão logo secos – e perfeitos,
são da Serpente já desfeitos,
filhos que o Teu criar produz.
Olá, lhes diz, recém-chegados!
Homens que sois, e andais tão nus,
animais brancos e abençoados!
Odeio-vos, que do execrado
à semelhança fostes feitos,
tal como ao Nome que tem criado
esses prodígios imperfeitos!
Eu sou o agente da mudança,
retoco o peito que se afiança,
de um dedo exacto e misterioso!
Transformaremos essas obras
e as evasivas, moles cobras
em répteis negros, furiosos!
Meu intelecto inumerável
toca no humano coração
o instrumento de minha raiva,
que foi feito por Tua mão!
E Tua Paternidade alada,
todo aquele que, na estrelada
câmara ela acolha que a afague,
sempre o excesso dos meus assaltos
lhe traga uns longes sobressaltos
que seus propósitos estrague!
Vou e venho, deslizo, enfronho,
desapareço em peito puro!
Houve jamais seio tão duro
onde não possa entrar um sonho?
Quem quer que sejas, não sou esta
complacência que te requesta
a alma, desde que ela se ame ?
Ao fundo sou de seu favor
este inimitável sabor
que de ti em ti se derrame!
Eva! que eu tenho surpreendido
em seus primeiros pensamentos,
o lábio aos hálitos rendido
que das rosas se evolam lentos.
Quão perfeita me apareceu,
de ouro coberto o flanco seu,
sem temor ao sol nem ao homem;
ofertada aos olhos da brisa,
a alma ainda estúpida, tal como
perplexa ante a carne, indecisa.
Oh, massa de beatitude,
és tão bela, prémio veraz
para toda a solicitude
das almas boas e das más!
Para que aos lábios teus se prendam,
basta que a um sopro teu se rendam!
Tornam-se piores os mais puros,
logo se ferem os mais duros...
Também a mim teus dons encantam,
de quem vampiros se levantam!
Sim! De meu posto entre a folhagem –
réptil que de ave se fingia –,
enquanto a minha pabulagem
uma armadilha te tecia,
eu te bebi, surda beldade!
Prenhe de encanto e claridade,
eu dominava, sem tremer,
fixo o olho em tua lã dourada,
tua nuca obscura e carregada
dos segredos do teu mover!
Presente estive, qual odor
que a alguma ideia corresponda,
cujo fundo, insidioso negror
não se elucida nem se sonda!
Pois eu te inquietava, ó candura,
carne molemente segura,
sem ter de mim nenhum temor,
a tremer em teu esplendor!
Logo eu te tinha, eu te levava,
e tua nuance variava!
(A soberba simplicidade
demanda infinitos cuidares!
Sua transparência de olhares,
tolice, orgulho, felicidade
guardam bem a bela cidade!
Procuremos criar-lhe azares,
e traga o mais raro artifício
ao peito puro o seu motim.
Eis minha força, o meu ofício,
a mim os meios do meu fim!)
Ora, de uma baba ofuscante
fiemos os suaves assaltos
que façam com que Eva, hesitante,
se envolva em vagos sobressaltos.
Que sob a seda da surpresa
palpite a pele dessa presa,
acostumada ao azul puro!...
Mas de gaze nem uma trama,
nem fio invisível, seguro,
além da que meu estilo trama!
E ditos, língua, redourados,
dá-lhe os mais doces que conheças!
Alusões, fábulas, finezas,
e mil silêncios cinzelados,
emprega tudo o que a seduza:
nada que a não bajule e induza
a se perder nas minhas vias,
dócil aos declives que guiam
para o fundo das azuis bacias
os veios que nos céus se criam.
Oh, quanta prosa sem parelha,
quanto espírito não recoso
e lanço ao dédalo sedoso
dessa maravilhosa orelha!
Penso: lá nada é sem proveito,
tudo importa ao suspenso peito!
O triunfo é certo, se o propor,
da alma espreitando algum tesouro,
como uma abelha a alguma flor,
não deixa mais a orelha de ouro!
“Só o que o meu sopro lhe confere,
a ela, é a própria voz divina!
Uma ciência viva fere
o corpo do fruto maduro!
Não ouças o Ser velho e puro
que a breve mordida abomina!
Que, se a boca se põe a sonhar,
a sede que à seiva se atreva,
esta delícia por chegar,
é a eternidade fundente, Eva!”
Ela bebeu minha mensagem,
que tecia um estranho arranjo;
seu olho perdeu algum anjo
por penetrar minha ramagem.
O mais hábil dos animais
que se ri de seres tão dura,
ou pérfida e cheia de males,
é só uma voz entre a verdura!
– Mas Eva muito séria estava
e sob o galho ela a escutava!
“Alma, eu lhe disse, doce pouso
de tanto êxtase condenado,
não sentes este amor sinuoso
que foi por mim ao Pai roubado?
Tenho esta essência celestial
a fins mais doces do que o mel
reservado tão suavemente...
Apanha o fruto... Oh, que se estenda
a tua mão e, ardentemente,
te faça dele uma oferenda!”
Que silêncio – o bater de um cílio!
Que sopro no peito soçobra,
que a árvore mordeu de sua sombra!
O outro brilhava qual pistilo!
– Silva, silva! – ele me cantava!
E eu sentia fremir as mil
dobras do meu dorso subtil,
saindo então do meu abrigo:
rolaram atrás do berilo
de minha crista, até o perigo!
Ó génio! Ó comprida impaciência!
Eis chegado o instante em que um passo
em direcção à nova Ciência
fluirá de um fino pé descalço.
Aspira o mármore, o ouro enxambra!
Tremem as bases de sombra e âmbar
na véspera do movimento!...
Ela vacila, a grande urna,
de onde emana o consentimento
dessa aparente taciturna!
Do vivo prazer que antegozes,
belo corpo, cede aos apelos!
Que a sede de metamorfoses
em torno da Árvore dos Zelos
engendre a cadeia de poses!
Vem, sem vires! Ensaia passos
vagos, como ao peso de rosas...
Não penses! Dança nos espaços...
Aqui há causas deliciosas
que bastam ao curso das coisas!...
Oh, quanto é infértil a fruição
que me ofereço, com demência:
de ver tão suave compleição,
fremir em desobediência!...
Breve, emanando seu sustento
de sabedoria e ilusões,
toda a Árvore do Conhecimento,
esguedelhada de visões,
no amplo corpo que investe rumo
ao sol, bebe do sonho o sumo.
Grande Árvore, Sombra das Alturas,
irresistível Árvore de árvores,
que os sucos amáveis procuras
na fragilidade dos mármores,
ó tu, que os labirintos cevas
por onde as constrangidas trevas
se percam no marinho lume
da sempiterna madrugada,
doce perda, brisa ou perfume,
ou pomba já predestinada,
Cantor, secreto bebedor
das mais profundas pedrarias,
berço do réptil sonhador
por quem já Eva tresvaria,
grande Ser, pleno de saber,
que sempre, como por mais ver,
ao alto apelo de teu cimo
cedes, e ao ouro puro os braços
estendes, teus esgalhos baços,
de outra parte, cavando o abismo,
Podes o infindo repelir,
feito só de teu crescimento,
e, da tumba ao ninho, sentir
que és inteiro Conhecimento!
Mas este velho amante do impasse,
de uns secos sóis no inútil ouro,
vem em tua copa enroscar-se –
seus olhos fremem teu tesouro!
Frutos de morte, de incerteza,
de desespero ali sopesa!
Bela serpe, suspensa aos céus,
sibilo, com delicadeza,
ofertando à glória de Deus
o triunfo da minha tristeza...
Basta-me, nos ares tranquilos,
que a ânsia do amargo fruto os filhos
do barro ponha em desvario...
– A sede que te faz tamanha
até ao Ser exalta a estranha
Toda-Potência do Vazio!
(Tradução de Renato Suttana)
N.T.: Agradeço a Sephi Alter pelas valiosas sugestões a esta tradução
A Pedra, a Estátua e a Montanha ou da actualidade do V Império
A partir daqui podemos vislumbrar a sempre fecunda actualidade do imaginário quinto-imperial, não só no plano histórico-civilizacional e teológico-político em que tem sido predominantemente interpretado, mas também no da nossa vida pessoal e do nosso crescimento espiritual. Pois não se aplicará a história da pedra, da estátua e da montanha ao nosso presente histórico, com seus impérios, globalizações, padrões de pensamento e ficções em aparência tão esmagadoramente triunfantes e incontornáveis, mas afinal tão frágeis, desde já minados pela ausência de verdadeiro fundamento e à mercê da ínfima pedra que contra eles subitamente se levante, contendo em si uma imensa montanha ? Pois não seremos potencialmente todos e cada um de nós essa mesma pedra, essa mesma tomada de consciência e essa mesma força que imprevisivelmente pode surgir e derrubar pela insustentável base tudo o que interior e exteriormente nos amedronta, violenta e escraviza, sem outro alicerce senão as falsas projecções da nossa ignorância, medos e expectativas, convertendo-se na ou revelando-se a inabalável montanha da descoberta da nossa natureza íntegra e primordial, único fundamento sólido de uma nova sociedade e de um novo mundo ?"
- excerto da Introdução a A Pedra, a Estátua e a Montanha. O V Império no Padre António Vieira, Lisboa, Portugália Editora, 2008. Livro apresentado na 4ªfeira, dia 12, pelas 18.30, na Igreja de São Roque (Largo Trindade Coelho ou da Misericórdia, em Lisboa).
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Convites para o V Império, a Saudade como Libertação e a Gnose
Caras Amigas e Amigos,
Tenho imenso gosto em vos convidar para o lançamento do meu último
livro "A Pedra, A Estátua e a Montanha. O V Império no Padre António
Vieira" (Ensaios e Antologia), na próxima 4ª feira, dia 12 de
Novembro, às 18.30, na Igreja de São Roque (Largo Trindade Coelho),
onde o grande orador proferiu muitos dos seus inspirados sermões.
A apresentação será feita pelo Padre António Vaz Pinto, SJ, que na
ocasião também apresentará o livro "Sermões de Santo António do Padre
António Vieira", organizados e introduzidos pelo Prof. Abreu Freire.
No dia 13 será também apresentado, por Rui Lopo, o meu livro Da Saudade como Via de Libertação, na Fauldade de Filosofia da Universidade de Santiago de Compostela, bem como o segundo número da Nova Águia. Este programa repete-se no mesmo dia, às 21h30, na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo.
No dia seguinte, 14 de Novembro, os mesmos lançamentos repetem-se integrados no programa de um Colóquio que vivamente aconselho:
Colóquio internacional
GNOSE E GNOSTICISMO – GENEALOGIAS, EMERGÊNCIAS
Porto - 14 e 15 de Novembro de 2008
Ateneu Comercial do Porto
PROMOTORES
Instituto São Tomás de Aquino
Centro de Estudos do Pensamento Português (CEPP)da Universidade Católica Portuguesa
Grande Oriente Lusitano (GOL) – Maçonaria Portuguesa
Instituto Investigación sobre Liberalismo, Krausismo y Masonería, da Universidade de Comillas
Comissão Científica:
Antonio Piñero - Universidad Complutense de Madrid
José Augusto Mourão - Instituto S. Tomás de Aquino, Universidade Nova de Lisboa
Arnaldo Pinho - Grupo de Estudos do Pensamento Português, Universidade Católica Portuguesa
Francisco Teixeira - Escola Secundária Francisco de Holanda
Enrique Menéndez Ureña - Instituto Investigación sobre Liberalismo, Krausismo y Masonería, Universidade de Comillas
Pedro Alvarez Lázaro - Instituto Investigación sobre Liberalismo, Krausismo y Masonería, Universidade de Comillas
Paulo Borges - Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Organização:
Arnaldo Pinho
Belmiro Sousa
Fr. José Filipe Rodrigues - 210312300; 965168245
Francisco Teixeira - 914 786 581
José Augusto Mourão
Luis Moutinho
Programa:
Dia 14 – sexta-feira
9.30 Horas:
Conferência plenária de abertura:
José Augusto Mourão - Cibergnose
Gnoses cristãs:
Arnaldo Pinho - S. Ireneu e a Gnose do seu Tempo
José Manuel Fernandes - A Sagrada Escritura na polémica contra os gnósticos. Tertuliano e a sua obra "De praescriptionibus adversus haereses omnes"
Abel Pena – Julião, o Apóstata
14. 30 Horas:
Gnoses não cristãs:
Paulo Borges - Os três corpos do Cristo gnóstico e os três corpos de Buda
Carlos Silva - A IDEIA ARCAICA – Do originário da Gnose pré-cristã
Clara Calheiros – Os krausismos ibéricos e a maçonaria
18 Horas:
Lançamento da revista Nova Águia, Nº 2.
Apresentação de Renato Epifânio e Paulo Borges.
18.30 Horas
Lançamento do livro Da Saudade como Via de Libertação, de Paulo Borges, Ed. QuidNovi. Apresentação de Rui Lopo.
Dia 15 – sábado
9.30 Horas:
Gnoses na cultura portuguesa:
Ricardo Ventura - Prisciliano e priscilianismo: contributo para a discussão do conceito de "gnose"
Rui Lopo - Ecos e ressurgências da Gnose na cultura portuguesa contemporânea
Afonso Rocha - A Gnose de Sampaio Bruno: perspectivas, manifestações e referências
Luís Filipe B. Teixeira - A Gnose em Fernando Pessoa
14. 30 Horas:
Gnoses hoje:
Francisco Teixeira - Gnosticismo e Maçonaria
Jorge Martins Rosa - Transmissões ocultas: A fantasia gnóstico-científica em Philip K. Dick
Jorge Leandro Rosa - O Aprisionamento Cristalino. Alguns Temas Gnósticos em Peter Sloterdijk
Intervalo
Conferência plenária de encerramento:
António Piñero - El estado actual sobre la investigación del Evangelio de Judas
domingo, 9 de novembro de 2008
9 de Novembro - nascimento
P.S E se não acabo isto a tempo... já será futuro o nascimento que é.
Levanto a minha taça e festejo a vida. Estamos sempre a tempo da alegria de nunca ter nascido...
Perdoem-me a mudança de tom em relação ao post anterior, mas... não fui eu quem escolheu o dia de partilhar convosco.... Se a minha mãe soubesse... tinha-me proíbido de ser a professora em que me querem tornar...
Escuta, Zé ninguém!
É pena que não se saiba que existem funcionários que ganham menos de 500 euros por mês e que estão numa situção precária há muitos anos. Não estão vinculados, não têm uma carreira, não podem ver a sua situação sócio-profissional melhorada, mas são submetidos a uma avaliação que não os vai beneficiar em nada. O ambiente entre os funcionários das escolas piorou muito desde que começaram a ser avaliados de acordo com as novas regras.
O mesmo se passa com milhares de professores contratados. Estão no início daquilo que deveria ser uma carreira, mas vêem-se obrigados a aceitar ordenados de 300 euros, 400 euros, enfim... Têm horários incompletos, muitas vezes longe de casa e aceitam-nos na esperança de que possam ter uma colocação melhor nos próximos anos. Esperam que a estupidez abandone a vida política. Mas a tenacidade da estupidez é a sua maior virtude. Agarra-se aos lugares. Porque a estupidez é o contrário da utopia. E esperam. E são excelentes professores, jovens e com ideais. Mas vêem-se cada vez mais nas margens do sistema. Mesmo assim, no ano passado foram "avaliados".
O que esse universo de Zés ninguém que serve de referente ao termo eleitorado, uma das palavras preferidas pelos agentes da estupidez, não sabe nem sonha é que a escola pública está a ser desmantelada. O sector que está na vanguarda desse processo é a área anteriormente designada por "educação de adultos". No que respeita aos adultos a escola transformou-se numa fraude. "Ensinar" está fora de questão e "aprender" é um verbo sem presente e sem futuro, inconjugável com a vida e com a elevação cultural dos cidadãos. "Validar competências", é esse o eufemismo que hoje serve para abrir aos adultos as portas das escolas e de uma série inenarrável de centros de formação. Aí já não há professores, mas sim "formadores". É a "venda" de certificados a pataco. Certificados de competências que, até aqui, estavam reservados aos atrasados mentais.
Há professores que se enganam. Recebem as turmas dos cursos EFA e começam a tentar ensinar, para serem repreendidos de imediato: "o que conta não são os conteúdos, mas sim as competências." Mesmo que o aluno faça mal, o aluno fez, logo sabe fazer. Imagine-se numa fábrica um operário fabril recém-licenciado em saber-fazer, completamente ilustrado em "boas práticas", tem que carregar num botão verde duma máquina qualquer, com botões coloridos. O homem em vez de carregar no botão verde, carrega no vermelho. Estraga a produção diária de coisas (pode ser de chinelos, cafeteiras, água destilada, bobons de natal, efim...). Acabará promovido porque fez o que tinha que fazer, carregou num botão. O conteúdo simbólico do mesmo é indiferente, é quase como pedir Macieira e receber São Domingos, isto se o taberneiro for "ilustrado".
Esta "lógica" vai ser aplicada a todo o sistema. Ao nível do ensino pré-escolar, a coisa ainda poderá funcionar. A inteligência dos miúdos ainda está muito acima da dos governantes, por isso não haverá por aí muito mal. Depois é que há que incutir a ignorância activa nos até há pouco tempo designados por "alunos". Como se sabe, na internet está tudo e tudo pode ser metido em portefólios. Hoje em dia, estudante que cumpra este viático de bestial a besta tem que fazer portefólios. Em vez de meter conteúdos na pinha, aprende a preparar papeladas para a reciclagem, pois temos que salvar o Planeta, e o areal da Caparica, para que os nossos filhos, se não se enganarem no orifício, poderem nascer num mundo mais porreiro do que o nosso.
Um mundo com TGVs e aeroportos da Ota em Alcochete e muita gente com licenciaturas tiradas a preceito, antes das universidades fecharem as portas.
Neste momento tenho uma aluna doente, confirmadíssimamente doente, que vai ter que se subtemer a um exame global quando regressar às aulas porque, devido à doença (já alguém viu algum exemplar do Homem Novo, ou seja, algum membro do governo, doente? Não? Ora aí está, a doença é uma coisa sem importância) faltou ao seu dever de assiduidade. Eu acho bem, porque como professor também não posso ir para casa doente. Se adoecer não poderei ser avaliado com Muito bom ou Excelente. O que é natural. Toda a gente sabe que a doença é uma coisa vergonhosa porque aumenta o défice da Segurança Social.
Mas ainda temos o Inem. É claro que corremos o risco de, se sentirmos que estamos quase a ter um enfarte, as meninas lá da central nos mandarem um barco salva-vidas. Pena é não vivermos em Veneza. Mas aí os genéricos para o reumático estariam muito mais caros. O que seria mau.
Ora, a avaliação dos professores transformou-se num processo quase kafkiano. Convém deixar o Kafka fora disto, porque algum zeloso agente do SIS pode pensar numa qualquer diatribe islâmica no seio da comunidade docente.
Em relação à minha avaliação, enquanto professor, estou à espera da anunciada quartelada para reparar as injustiças junto da instituição militar. Se a tropa conseguir sair dos quartéis sem se esfrangalhar perante a risota geral, acho que até seria bom termos um novo 25 de Abril. Se fosse em Abril, até se poderia aproveitar o feriado.
Mas há uma coisa que não entendo: não era melhor esperar pela coisa, antes de se começar a nacionalizar bancos? E não era melhor começar por nacionalizar o banco que desse mais lucros? Os senhores assessores que usam o Magalhães acho que não teriam problemas em fazer contas... Para que é que servem os Magalhães afinal?
E já agora... não podiam ter dado ao tal computador o nome dum navegador que tivesse concluído a viagem? Uma qualquer viagem? Por exemplo: Sr. António Pinto, Mestre de Cacilheiro. Hum?!
(As fotos são da manifestação de ontem, 8/11/2008, que reuniu uns 120.000 professores).
sábado, 8 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
LANÇAMENTO do livro de poesia de Luís Filipe Pereira: A Tela do Mundo, 29novembro, 18h45, Byblos amoreiras
"Universo poético, rico, muito rico, que é preciso ir descobrindo, linha a linha, poema a poema, em que nos vamos deixando enlear e cuja magia persiste para lá da leitura."
Isabel Clemente
Aqui fica o meu desejo, em jeito de convite, para que os serpentinos colaboradores
desta Serpente Emplumada queiram dar-me a honra de vir partilhar o nascimento do meu livro
Trans-Pátria - Por uma educação lusófona e universalista ao serviço de uma formação integral
"XI – Redignificar, com exigência, os professores e todos os profissionais ligados à
educação, tornando esta e a cultura – não só tecnológica, mas filosófica, literária,
artística e científica - o investimento estratégico do Orçamento de Estado e da
governação. Os vários níveis de ensino visarão a formação integral da pessoa, não
a sacrificando a uma mera especialização profissional. Neles haverá uma forte
presença da cultura portuguesa e lusófona, bem como das várias culturas
planetárias. Um português culto e bem formado deve ter uma consciência lusófona
e universal, não apenas europeia-ocidental"
Este é um dos pontos que mais acarinho e que vejo mais conformes à nossa tradição histórico-cultural de povo em diáspora planetária. Resume algumas das motivações fundamentais do Professor Agostinho da Silva e deveria ser ponto de honra de todos os portugueses e lusófonos, em especial dos aderentes a este movimento. Exorto todos ao esforço por conhecermos melhor a cultura lusófona e aliarmos isso à abertura da mente e do coração às culturas planetárias, como forma de colhermos daí perspectivas renovadas sobre a formação integral do homem e a realização das suas superiores possibilidades. Sem isso não é possível cumprir o grandioso projecto de converter Portugal e a Lusofonia em mediadores do diálogo e harmonia entre todos os povos, culturas, civilizações e religiões do mundo. Sem isso não é possível criar um movimento de opinião e de pressão que leve os nossos responsáveis políticos e culturais a incluir estes imperativos nos currículos de todos os níveis de ensino, desde o primário ao superior. Sem isso não podemos fazer do MIL uma efectiva transformação das mentes e das vidas.
Para tal, proponho que os professores aderentes a este movimento criem um grupo de trabalho que elabore um projecto para a implementação deste objectivo no ensino público. A partir daí podemos inscrevê-lo na bandeira de uma reivindicação concreta e procurar apoio social para ela. Esta reivindicação deve surgir associada à da redignificação social, profissional e humana dos professores e de todos os profissionais da educação. Temos de inverter o processo bárbaro em curso que visa destruir a Cultura hostilizando os agentes da sua transmissão e fazendo da carreira docente, sobretudo no secundário, um tormento e uma sujeição a todas as tarefas menos a de aprender e ensinar. Alguém toma a iniciativa de se oferecer para a comissão coordenadora deste grupo de trabalho?