O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 30 de novembro de 2008

Silêncio (in Regatos de Ternura)



Até o nome universal dos tempos,
até o som dos silêncios
nada existe:
tudo é húmido vapor,
língua do ar.
Na dor cósmica apaream-se
as linhas da saudade
e a vida;
a energia
deita
longos caminhos
contra o caos.

Nada.
Apenas dor.

Ave que dizia amor
no tempo primitivo,
o da criação,
do verbo.
E tudo era tudo,
tudo era.
Fluido de existência,
energia do círculo,
da onda,
do número ínfimo
que mudou
para computar
em carne erótica
o átomo prequântico
dos beijos universais.
A concepção incolora
da cor,
a gestação insípida
do sabor,
o nascemento inodoro
do odor:
selvagem ternura das hidronímias
na terra dos rios
para o mar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Porque padecemos da saudade?

Iolanda Aldrei disse...

Padecemos saudade? É o regosto agridoce dessa dor cósmica, o ponto de energia que deixa aparear-se as linhas da saudade e a vida. A saudade de ter nascido, a saudade de morrer, o eros universal. Acho.