domingo, 16 de agosto de 2009
Uma ética para a civilização tecnológica
"Verificando-se que vivemos hoje, em permanência, à sombra de um utopismo não desejado, automático, que faz parte do nosso modo de funcionamento, somos perpetuamente confrontados com perspectivas finais cuja escolha positiva exige uma sabedoria suprema - uma situação impossível para o homem como tal, porque ele não possui essa sabedoria, e em particular impossível para o homem contemporâneo, que nega a própria existência do seu objecto, a saber, a existência de um valor absoluto e de uma verdade objectiva. A sabedoria é-nos o mais necessário precisamente quando nela menos cremos.
Se portanto a natureza inédita do nosso agir reclama uma ética da responsabilidade a longo termo, comensurável ao alcance do nosso poder, ela reclama então igualmente, no próprio nome dessa responsabilidade, um novo tipo de humildade - não uma humildade da pequenez, como a de outrora, mas a humildade que exige a grandeza excessiva do nosso poder que é um excesso do nosso poder de fazer sobre o nosso poder de prever e sobre o nosso poder de avaliar e de julgar. Face a este potencial quase escatológico dos nossos processos técnicos, o desconhecimento dos efeitos últimos torna-se ele próprio a razão de uma contensão responsável - o segundo melhor bem após a própria sabedoria"
- Hans Jonas, Das Prinzip Verantwortung [O Princípio Responsabilidade. Uma ética para a civilização tecnológica], Frankfurt am Main, Insel Verlag, 1979, pp.54-55.
Um contributo para que a cultura portuguesa e lusófona se sintonize com as grandes questões do nosso tempo. Aqui, como em quase tudo de essencial, há que voltar a Antero, significativamente descartado pela maioria da dita "filosofia portuguesa"...
Se portanto a natureza inédita do nosso agir reclama uma ética da responsabilidade a longo termo, comensurável ao alcance do nosso poder, ela reclama então igualmente, no próprio nome dessa responsabilidade, um novo tipo de humildade - não uma humildade da pequenez, como a de outrora, mas a humildade que exige a grandeza excessiva do nosso poder que é um excesso do nosso poder de fazer sobre o nosso poder de prever e sobre o nosso poder de avaliar e de julgar. Face a este potencial quase escatológico dos nossos processos técnicos, o desconhecimento dos efeitos últimos torna-se ele próprio a razão de uma contensão responsável - o segundo melhor bem após a própria sabedoria"
- Hans Jonas, Das Prinzip Verantwortung [O Princípio Responsabilidade. Uma ética para a civilização tecnológica], Frankfurt am Main, Insel Verlag, 1979, pp.54-55.
Um contributo para que a cultura portuguesa e lusófona se sintonize com as grandes questões do nosso tempo. Aqui, como em quase tudo de essencial, há que voltar a Antero, significativamente descartado pela maioria da dita "filosofia portuguesa"...
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18 comentários:
O Santo Antero...
O Hans-Jonas é um arauto do fim do mundo. A não fiar.
A reencarnação do Hitler, budista, veganista,amigo dos animais e megalómano salvador do mundo. Trate-se professor.
Pastor: o que é que o cu tem a ver comas calças? Há já anos que tens essa cegueira. Amistosamente.
As calças tapam o cu e tornam o olhar interior.
Não haverá um comentário inteligente, que discuta as ideias, sem a fraqueza do insulto?...
Joana: eu discuti as ideias. Acho que o Hans Jonas é um alarmista e que portanto o texto é inócuo. Ele diz que hoje temos poder para destruir o mundo e que por isso precisamos de uma ética nova. Tem medo de uma guerra nuclear.
E não tem razão!?
Temos esse poder, não quer dizer que o usemos. Ok, talvez tenha um pouco de razão, mas não deixa de ser alarmista.
Um alarme é alarmista?
Se a ética tiver em conta o outro que é próximo por contacto directo, em vez d oque é distante, funciona melhor - "longe da vista, longe do coração". Ainda não cumprimos a ética antiga, pois não aprendemos a realcionar-nos bem com os que nos são próximos, e queremos partir para o distante. Então se ele fala na ética d aresponsabilidade global, como de resto Singer fala em Um só mundo (prefiro o Ética prática), eu falo de uma ética da proximidade.
Um alarme é alarmista se for falso alarme.
Trabalhei num hospital e tudo o que via era sofrimento. Depreendi que tudo é sofrimento, erradamente, porque a minha amostra era pequena tendo em conta a totalidade da população. O mesmo é o caso para uma guerra nuclear. Possível, mas improvável. Ou talvez dependa da diplomacia... A propósito de guerras nucleares: durante a guerra fria a URSS só não lançou a bomba porque o "homem do botão" não cumpriu a ordem.
Para um coração infinito o mais distante é infinitamente próximo. Não viver isso é infinitamente pior que a destruição do mundo.
Claro, mas se não aprendes a empatia e compassividade através dos que te são próximos, serás incapaz de senti-la pelos que te são distantes.
Alguém que apenas se "preocupa" com o distante, vê as notícias e diz "coitados" e borrifa no próximo não tem uma conduta ética, isto é, nem correcta nem incorrecta. A menos que reflicta sobre isso, mas (in)felizmente não podemos entrar nas mentes uns dos outros.
Não há próximos nem distantes. Larga as etiquetas e ama. Sê amor e perde todos os limites.
Amor, ódio, desapego: os três ais do anjo caído. Que triste terra! Não se ouve nenhuma voz...
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