quinta-feira, 9 de julho de 2009
"Pascoaes é um ser terrível..."
"Pascoaes é um ser terrível e a sua poesia, uma coisa imensa e prestigiosa, tornou-se-me fonte de tormento. Quando penso nas dificuldades extraordinárias a vencer para dar dela uma ideia digna, interpretar qualquer outro poeta em Portugal torna-se uma brincadeira.
[...]
No momento em que a Europa cientificada e tecnificada via o pomo da felicidade amadurecido na sempre enganosa árvore da vida, Teixeira de Pascoais diz-nos, e logo no título de um dos seus livros, que, se vemos proibido o céu, nos está também a terra proibida. A Renascença Portuguesa veio e passou, incompreendida como o poeta vidente, e, a falar verdade, um pouco ridicularizada.
Há razão para isso, devemos concordar. Na verdade, o programa parecia, e parece, inexequível. Acentuar-se-ia cada vez mais, e por diversas formas, o sentimento de que o céu está longe e a convicção de que temos de viver, como vis bichos, até à morte, de um modo ou de outro. É absurdo misturar deuses e homens, árvores e almas, paganismo e cristianismo, loucura e sabedoria, melancolia e ilimitada esperança. E assim, a Saudade, no momento de despertarem já para o sentido do perdido bem os próprios infernos, não chegou a despertar os seres da terra"
- José Marinho, Teixeira de Pascoaes, Poeta das Origens e da Saudade e outros textos, edição de Jorge Croce Rivera, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2005, pp.398-399.
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No momento em que a Europa cientificada e tecnificada via o pomo da felicidade amadurecido na sempre enganosa árvore da vida, Teixeira de Pascoais diz-nos, e logo no título de um dos seus livros, que, se vemos proibido o céu, nos está também a terra proibida. A Renascença Portuguesa veio e passou, incompreendida como o poeta vidente, e, a falar verdade, um pouco ridicularizada.
Há razão para isso, devemos concordar. Na verdade, o programa parecia, e parece, inexequível. Acentuar-se-ia cada vez mais, e por diversas formas, o sentimento de que o céu está longe e a convicção de que temos de viver, como vis bichos, até à morte, de um modo ou de outro. É absurdo misturar deuses e homens, árvores e almas, paganismo e cristianismo, loucura e sabedoria, melancolia e ilimitada esperança. E assim, a Saudade, no momento de despertarem já para o sentido do perdido bem os próprios infernos, não chegou a despertar os seres da terra"
- José Marinho, Teixeira de Pascoaes, Poeta das Origens e da Saudade e outros textos, edição de Jorge Croce Rivera, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2005, pp.398-399.
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4 comentários:
Em Pascoaes ecoa a dolorosa alegria do mundo e dos seres. Em Pessoa as angústias do ego a dizer que não existe.
Os seres não podem despertar de estarem despertos.
"Pascoaes é um ser terrível..." oiço-me re.ecoar... "coisa imensa e prestigiosa" é a sua poesia...
"Misturar" homens e deuses, toda a Saudade, em uma fundíssima e incompreendida,indizível impossibilidade possível: a palavra e a sua sombra, a sombra de uma original voz, de uma primeva flor... vivê-la...
É um poeta terrível, Pascoaes, uma ampulheta de vento e de vidro, para a voz do tempo presente...
Um deus carregado de pureza!
Terrível pode ser tudo aquilo que mexe connosco se não quisermos ser mexidos. Também pode ser maravilhoso.
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