segunda-feira, 6 de julho de 2009
Uma paisagem para Cinda
Da minha janela não vejo nenhuma paisagem
que não fosse tua, mas quem és tu?
Vejo a Serra e o céu perfeitamente nu -
ai, que divina e infinita coragem
gozam as nuvens e gozam as montanhas,
nesta janela pequena vejo as velas passar
no velho Tejo vejo navios de Ultramar
e sempre de novo as balsas alaranjadas -
um desassossego de noite e dia,
enquanto ouço bem distante uma melodia:
“Que coração tão duro, seco e frio
Se poderá livrar do sentimento,
Vendo com saudoso movimento
Fugir as claras aguas deste rio?”
Madragoa, 04.VII.09
que não fosse tua, mas quem és tu?
Vejo a Serra e o céu perfeitamente nu -
ai, que divina e infinita coragem
gozam as nuvens e gozam as montanhas,
nesta janela pequena vejo as velas passar
no velho Tejo vejo navios de Ultramar
e sempre de novo as balsas alaranjadas -
um desassossego de noite e dia,
enquanto ouço bem distante uma melodia:
“Que coração tão duro, seco e frio
Se poderá livrar do sentimento,
Vendo com saudoso movimento
Fugir as claras aguas deste rio?”
Madragoa, 04.VII.09
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15 comentários:
Olá, Dirk!
Hoje, estou triste... não sei o que te dizer! Gostei do poema e fiquei comovida. Acho que vou para a Arrábida para a gruta de Frei Agostinho da Cruz... queria sentir o verde e a calma daquela paisagem e respirar aquele mar imenso.
Grata Dirk.
Recebe um grande Abraço.
"Lembrei-me de ti sem querer
Entrei num bar e bebi
Paguei a conta de dois
Não consigo perceber
Porque me lembrei de ti
Todo este tempo depois
Fui à rua onde vivias
Vi a tua luz acesa
Apeteceu-me beber
Fui ao bar onde tu ias
E sentado à mesma mesa
Lembrei-me de ti sem querer
Perguntei sem reparar
Com quem vivias agora
Se alguém sabia de ti
Mas antes de alguém falar
Levantei-me, fui-me embora
Entrei num bar e bebí
Que feitiço ou que loucura
Voltar a sentir ciúme
Todo este tempo depois
Andar à tua procura
E nos sítios do costume
Pagar a conta de dois
Rua em rua, bar em bar
Já não sei se te esqueci
Se não te quero esquecer
O que procuro encontrar
Para me perder de ti
Não consigo perceber
Lá em cima continua
A tua janela acesa
Como quando te perdi
E no bar da tua rua
Há dois copos sobre a mesa
Porque me lembrei de ti
Em tantas noites iguais
Perdoei o que tardaste
Quando vivemos os dois
Não te perdoo nunca mais
A noite que me estragaste
Todo este tempo depois"
"Foi na Travessa de Palha
Que o meu amante um canalha
Fez sangrar meu coração
Trazendo ao lado outra amante
Vinha a gingar petulante
Em ar de provocação
Na Taberna de friagem
Entre muita fadistagem
Enfrentei os seus rancores
Porque a mulher que trazia
Concerteza não valia
Nem Sombra do meu amor
A ver quem tinha mais brio
Cantámos ao desafio
Eu e essa outra qualquer
Deixei-a a perder de vista
Mostrando ser mais fadista
Provando ser mais mulher
Foi uma cena vivida
De muitas da minha vida
Que não se esquecem depois
Só sei que de madrugada
Após a cena acabada
Voltamos para casa os dois"
Linhas II
Sei que estas linhas não quebrarão o cimento da nossa história,
nem nos darão uns olhos aliviados das lentes da memória.
No entanto, sei também que te amo
com a efervescência de uma fórmula cabalistica,
com uma moura melancolia de laranjas e de espadas,
com o nó na garganta das identidades silenciadas.
Amo-te com o desejo sincretico de ser eu e tudo ao mesmo tempo,
com uma nudez de papel de arroz a que alguns chamam ingenuidade.
Sei que estas palavras nao acenderão lanternas nas cicatrizes do teu espirito.
Sei que é tua a angustia das almas que se engolem a si mesmas
para escapar ao peso de um céu que desaba
sobre um país sem montanhas nem surpresas,
assim como é minha a ansiedade de um povo pendurado na falésia,
sobre sí as mandibulas de uma ganância triunfante,
debaixo de sí a espumosa sanguessuga, o vácuo aspirador de um mar
agora povoado de detritos.
No entanto, é impossivel resistir ao apelo da mémoria que circula nas
minhas veias,
ao eco de uma promessa por cumprir que é segredada a cada novo ser que
nasce entre nós,
os degredados na própria patria,
os que só encontram a paz na impermanência.
Essa promessa é a sintese das diferenças,
dos fragmentos de um todo primordial.
É por isso que ouso amar-te,
o meu amor um grito planando pelo vale sem um eco que o acompanhe.
O meu amor é fibra tecida no cordão da Historia,
é transformação alquímica,
é entrega ao Universal.
encantado. tudo aqui é belo. o poema, os fados... tudo.
Amo-te desde o dia em que te despi
A ambivalência da escrita
"Escrevendo, eu existia, eu escapava às grandes personalidades; mas eu existia apenas para escrever e se dissesse eu, isso significava, eu que escrevo."
A tensão da ausência-presença.
Um must imperdível!
A fragmentação é una no movimento da paisagem. Viajar...
Explicar as cores a cegos é inútil. Sempre foi...
Vou ler... futilmente.
"Doce quietação de quem vos ama,
Em serviços, Senhor, que tanto quanto
Amado sois, tão longe o fim de tanto,
Subindo mais, e mais, mais se derrama:
Ardendo por arder em viva chama
De amor do vosso amor, a voz levanto;
Sinto, suspiro, choro, colho, e planto
Ao som doutra suave que me chama.
Onde se vai, Senhor, quem vos ofende?
Donde levais, Deus meu, a quem vos segue?
Onde fugir se pode uma de duas?
Morto por quem o mata que pretende,
Ou que extremos de amor há que nos negue
Quem culpas nossas chama ofensas suas?"
.
a
am
amo
amo-
amo-te
amote
amo-te
amo-t
amo-
amo
am
a
.
Comentem os poemas...
Por favor, sempre que aplaudirem, ponham-se de pé!
A Cinda é uma paisagem deslumbrante: nela tanto vês o céu como a fundura onde estão enterradas as rainhas... Esta é, seguramente,uma dedicatória muito merecida que só hoje vi.
Mas gostei muito de vê-la.
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