O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 11 de julho de 2009

Ergue-te na noite, despido de ti e do mundo! E canta uma vitória nua, sem vencidos, nem vencedores, nem testemunhas.

26 comentários:

Laura disse...

Já fiz isto algumas vezes. Soube-me lindamente.

lógico disse...

Quem canta vitórias é porque venceu, mestre. A frase está mal estruturada.

cantarei na soledad? disse...

ergue-te na solidão.

vence na solidão.

vence a solidão na solidão.

sê a solidão.

cobre-te de treva.

não estejas.

interpretativa disse...

Ilumina-te.
Ama.

nudez jubilosa disse...

veste-te de júbilo.

torrão disse...

A minha lanterna é de mineiro!

contramina disse...

tenho as luzes apagadas.

está-se bem na escuridão.

cegueta disse...

E está. Os olhos enganam-te. Dizem-te como as coisas tentam ser... A luz atrapalha a visão.

soberba disse...

e nós tentamos ser, à luz, o que os olhos querem ver.

erro crasso. e é um grande combate lutar contra ele.

talvez seeja o que os cristãos chamam de soberba, a vaidade.

crista disse...

Não me faças rir mais...

mercador disse...

não lhe dês ouvidos

Anónimo disse...

Vendilhões!

Victoria Huga disse...

Miseráveis!

Alo disse...

Não comentem. Sejam.

pecadora disse...

"Tudo o que não é ser Santo, é não ser..."
Pe. António Vieira

Em que ficamos?

Anónimo disse...

o que é ser santo?

Anónimo disse...

«despido de ti e do mundo!» como seria libertador conseguir despir-me de mim e do mundo, dos medos ilusórios que me asfixiam, dos desejos que me aprisionam, da crítica e do elogio que me ofuscam, ... despir-me dos véus que me fazem viver. Quando morrer, então sim, cantarei a vitória.
Grato:)

ideia morta disse...

Não sei.
É ser Deus pessoalmente?

Anónimo disse...

não sei o que é ser Deus pessoalmente. é ser Deus? o que é ser Deus?

Paulo Feitais disse...

Paulo, não resisto a comentar este teu post.
É que uma das coisas que considero mais difícieis é libertar-me do "complexo do espectador", o estar sempre a agir e a pensar em função do que os outros pensem acerca disso, como se estivesse sempre a ser observado, para ser aprovado ou desaprovado.
Acho importante o erguermo-nos, porque a nossa mais vera natureza exije de nós o mais profundo respeito, mas isso não significa querermos estar mais alto do que qualquer um.
E o mundo é o nosso avesso, a capa mais coerciva do nosso ego. O pequeno escravo da insuficiência.
Quanto à vitória, entendo-a apenas como o deixar fluir da Força (Vis)que nada pode conter, nós próprios, na nossa insuficiência egótica, nem o mundo, na sua inconsistência ôntica.
É o que eu entendo por perdão: per-donare (não sei se está bem escrito, mas para as urtigas o que quer que isso queira significar), ou seja, dar em torno, deixar que o que advém se espalhe em redor, como as sementes da mão calejada do semeador, mão capaz de colher, e com isso sofre as agruras do trabalho incessante, mas mão que consegue afagar, e só os raros sabem o sabor dos afagos das mãos torturadas (lembro-me do meu avô materno) pelas agruras da vida: dão sem quererem nada em troca.
:)

trocar trocados disse...

Um santo verdadeiro é um palhaço triste que, na tentativa de amar o que julga ser Deus, torna-se Deus à imagem e semelhança do que julga ser um humano perfeito, isto é, total; consistente; forte; cósmico; profundo; isento de ego e, por isso, competente com todos os cactos e urtigas que magistralmente envolve em faixas de perdão para amortizar a aceitação do que possa ser execrável; soberbo de paciência e misericórdia para com o seu semelhante que não considera seu semelhante, mas um meio de progressão da Virtude, se possível levada ao limite; livre porque não ama mais do que Deus que, no fundo, é ele próprio e portanto em franco desapego com o resto do Universo a que ele chama Amor porque é fácil amar seres distantes na ideia de nós… E inscreve o seu nome a sangue frio num céu em ruínas que acredita, um dia, desabará para o salvar.

Depois há os outros santos que não são verdadeiros, mas nomeados por alguém a quem foi conferida a capacidade de nomear… Rótulos acrescentados tardiamente no epitáfio porque os anos vestem a memória de fantasia…

Observadora disse...

Falas bem mas apenas falas bem, porque falas de fora. Não há verdade, só talento, no que dizes.

Semente disse...

Caro Paulo,

São momentos raros na minha vida, se é que posso dizer com clareza e firmeza que, de facto, existiram.

Mas tenho sempre alguma dificuldade em juntar as duas coisas num só momento.

Explico:
Sinto que, por vezes, me consegui despir de mim, embora não me tenha despido do mundo. E, outras vezes, despida do mundo, não me despi de mim mesma...

Para dizer a verdade, as minhas maiores vitórias foram nuas, nesse sentido fabuloso que escreveu. Sem vencidos, sem testemunhas, sem vencedores.
São as únicas que sei reconhecer em toda a minha vida.

Grata pelas palavras que deixou*

Paulo Borges disse...

Grato eu, cara Sereia, pela sua partilha do essencial.

Saudações

testemunha disse...

Partilhar sem testemunhas. Ninguém a ver... Também é muito bonito.

moscardo disse...

Metamorfoses...