domingo, 12 de julho de 2009
Pascoaes e Hölderlin
Poetas da profecia e da divina loucura
à procura da índia ainda distante
encontram se numa infinita despedida
na ponte do tolo de Amarante
e lembram as ruínas do continente
célticas e gregas pedras no sol-pôr
e falam das hecatombes e da dor
da ignorância do dia impertinente
que alvoreceu na Europa desencantada
onde os gritos do mercado derrubam o mito
que era tudo mesmo e que é não mais nada
do que uma velha e gorda vaca bem acabada
na lembrança, remota, do rito
com o touro divino numa praia dourada.
à procura da índia ainda distante
encontram se numa infinita despedida
na ponte do tolo de Amarante
e lembram as ruínas do continente
célticas e gregas pedras no sol-pôr
e falam das hecatombes e da dor
da ignorância do dia impertinente
que alvoreceu na Europa desencantada
onde os gritos do mercado derrubam o mito
que era tudo mesmo e que é não mais nada
do que uma velha e gorda vaca bem acabada
na lembrança, remota, do rito
com o touro divino numa praia dourada.
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40 comentários:
Pascoaes e Pessoa visionam e efectuam um novo rapto de Europa, já não para Creta, mas para as "Índias espirituais", no voo largo e célere da divina I-lusão... São os poetas-profetas do futuro oculto no eterno instante e deixam a léguas de atraso todos os velhos do Restelo que se debatem ainda nas falsas questões do Velho Mundo, terra gasta que só reflorescerá pelo seu abandono. Com eles caminhamos, não já para Ocidente, como pretendia a jovem ingenuidade de Thoreau, mas para a re-Orientação vertical, essa que mais do que nunca hoje desponta no Finisterra, esse "Oriente ao oriente do Oriente" do "Opiário" de Álvaro de Campos.
O teu alemão é cada vez mais luso. Uma revisão e fica perfeito.
Havemos de dizer este e outros poemas, a retinir saúdes e taças de verde tinto, "na ponte do tolo de Amarante". Pascoaes e Hölderlin comparecerão e dançaremos a divina loucura com todas as ninfas do Tâmega, arrebatadas e amadas até ao infinito do que não tem nome!
Saúde, Dirk!
posso ir convosco a amarante?
Saúde!
A avaliar pelo poema, sim.
Já lá fomos várias vezes. Havemos de voltar e todos são bem-vindos.
Também posso ir?
Também sei alguns poemas, gosto de pontes, de Pascoais e Holderlin, de loucuras divinas, de vinho verde, de verde campo, de contemplação e de cantar.
Venham todos e tragam amigas e amigos. Estamos à vossa espera...
Saúde!
Dirk, recordo que no "Diálogo", Hölderlin e Pascoaes encontram-se numa "floresta verde"... falam sobre a Grécia e os deuses. Sobre a Índia como "uma era perdida das ideias" e como uma "terra perdida na margem da Saudade"... tu ouves e prometes que sempre que os encontrares nos contarás os diálogos de ambos... desta vez foi em Amarante. E o próximo diálogo será já na "Índia ainda distante"?
Tão amorosos!
As baleias podem ir?
E as velhas com buço?
Eu também tenho direito?
É preciso levar merenda?
Tenho uma enciclopédia grande. Acham que vai fazer falta?
Somos um conjunto de trigémeos. Será que vamos caber?
Ó Paulito, eu sou mesmo muito magra. Tou com medo de ir e ninguém notar...
Só vou se a aurora me disser os poemas que sabe!
Somos animais. Podemos ir?
Não digo poemas às naifas.
Só às ninfas.
Quando é que vamos?
Reunimos todos e resolvemos que somos complexados e, por isso, não vamos. Temos medo. Temos medo que tenham medo. Isto é respeito.
Além disso, a aurora é racista.
Medo?! Medo de quem? O que haverá no Tâmega que possa assustar alguém?
Somos tímidos.
Ohhhh, toco e canto para vós... vinde e deixai a timidez
Tocais bem?
Naifas arrepiam.
Quero esconder-me nos caniçais enquanto estrafegas no ar, sibilante.
Medo, sim, das naifas e dos vossos egos. Na ponte de Amarante só compareço se estivermos todos incognitamente em delírio poético.
Delicadamente, na ponte, dançarei para todos vós. Vinde para a Festa. Apressai-vos...
Os poetas são ruínas.
A música desafina e a dança move-se em desarmonia carnavalesca.
Qual é a pressa? Tu sem s?
Corrigo-me: Não é "dos vossos egos" mas "dos nossos egos".
:)
Em Amarante, Holderlin não atravessaria a ponte. Lançar-se-ia ao rio, porque iria atrás dos peixes com nomes de deuses. Pascoaes sentar-se-ia numa pedra para ver chegar à tona o seu rosto branco e escrever versos sobre as máscaras e o divino. Porque os deuses, como a Morte, gostam de ser múltiplos.
Agradeço muito a ideia de juntar Pascaes e Holderlin, em Amarante e antes disso no teu pensamento.
Isabel, um :)
Anónimo,
um sorriso ainda maior. Há tantos dias sem sorrir, quase que me apetece andar por aí a semeá-los no ar...
na feira de sant'iago em setúbal. dois loucos- o pão-e-uvas e o zé maluco, disputavam, a passo, voltas ao lago.nós apostávamos no vencedor. ninguém pensava no que pensavam. será que era importante. pareciam felizes. saberiam mais do que nós?
não sei o que é saber. Mas há boas indicações na breve história sobre o sentido da alegria. E ser alegre não é ter e ser mais, por exemplo para Espinosa?!
Sooooriso
essa da multiplicidade da morte, não lembra a deus, nem ao diabo...
o espinosa sabia que estava morto antes da nascer.
Lembra a António Patrício e eu penso que a ideia é muito bela...e interessante de explorar...
Encontramo-la em "D. João e a Máscara", mas também em certas tragédias, nomeadamente nas Bacantes de Eurípides. Encontramo-la na vida e quando assistimos à morte dos que amamos nos nossos braços. São ainda outras aprendizagens das máscaras.
Um sorriso
coro e lamento, os que amamos vivem sempre ao nosso lado...
um abraço
fraternamente recebido e sem máscara.
isabel, agradeço.
Oh, acabou?!
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