O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Saudade e Cantigas de Amigo

Uma experiência do mundo como uma unidade amorosa, onde a música, o canto e a dança surgem associados às próprias poesias, num ritmo de sístole e de diástole, movimento do coração. Aqui se revela o tormento da ausência e a alegria do amor.
António José Saraiva

Aqui, a cultura medieval portuguesa é retratada como uma religião do Amor. Mundo paradisíaco porque Deus é bom para quem tem amor. Uma religião do imanente em oposição a uma religião do transcendente.
Afonso Botelho

"Elemento fundamental da saudade portuguesa são as cantigas de amigo, poesia galaico-portuguesa, anterior à poesia provençal. O pensar como se se fosse a coisa amada."
É esta religião do amor que vamos encontrar em Camões, com centramento da experiência erótica, fortemente acentuada na Ilha dos Amores.
Paulo Borges

20 comentários:

João de Castro Nunes disse...

Um tema... que é um poço sem fundo! JCN

João de Castro Nunes disse...

De saudades eu me sinto
morrer a cada momento;
de saudades me alimento:
digo a verdade, não minto!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Desde que um dia sofri
duma chaga de saudade
todos os outros senti
uma igual enfermidade!

JCN

João de Castro Nunes disse...

A saudade é uma ferida
que possui certa doçura
e que uma vez contraída
terá tudo... menos cura!

JCN

João de Castro Nunes disse...

De saudade... adoeci
indo parar ao hospital
mas aos médicos pedi
para morrer desse mal!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Sou neto de trovador
dos tempos de D. Dinis;
por isso morro de amor
em cada trova que fiz!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Tenho no peito um espinho
que tem nome de saudade;
trato-o com todo o carinho,
pois me dá... felicidade!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Ai que saudades eu tenho
do tempo em que era feliz!
não sei como me sustenho
sem a minha... Beatriz!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Como Neruda dizia,
a saudade é como a eiró
que se evade, fugidia,
sem de ninguém sentir dó

JCN

Estudo Geral disse...

Pois se sou seu amigo
Cantarei junto consigo
Mais a sua Beatriz
E o Rei D. Dinis

Se me sinto seu amigo
Porque não hei-de cantar
Saudades de navegar
conjuntamente consigo

Aprecio o seu cantar
As histórias de Camões
A sua musa inspiradora
Trazem trovas aos milhões

João de Castro Nunes disse...

Sendo a saudade um tesouro
que trago dentro do peito
hei-de trancá-lo a preceito
com sete chavetas de ouro.

JCN

João de Castro Nunes disse...

Saudade, tanta saudade,
saudade da minha vida,
hei-de morrer da ferida
que como um cancro me invade!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Para cantar a saudade,
Amigo meu Luís Santos,
há lugar em paridade
para si mais outros tantos.

JCN

João de Castro Nunes disse...

Saudade, minha saudade,
saudade do meu futuro,
que mau destino te auguro
e minha alma te adivinha!

JCN

João de Castro Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João de Castro Nunes disse...

Para cantar-te, saudade,
já não há em Portugal
um trovador ou jogral
que te saiba a identidade!

JCN

João de Castro Nunes disse...

Tu já morreste, saudade,
tendo sido o Pascoaes
que te fez os funerais
na maior intimidade!

JCN

João de Castro Nunes disse...

E vejam lá que o Pessoa
não largando o escritório
onde leva vida boa
nem sequer foi ao velório!

LCN

João de Castro Nunes disse...

Mas mesmo morta, saudade,
nunca serás esquecida,
pois estás comprometida
com a portugalidade.

Só é pena que os poetas
não te tratem como devem
porque ao certo não percebem
tuas raízes... concretas!

Se não fosse o Luís Santos
em paridade comigo
ninguém hoje nos seus cantos
se importaria contigo.

Mas por mais que a gente morda
e nos maltrate à pedrada
podes estar descansada:
por aqui... não parte a corda!

Como nas velhas cantigas
quer de amigo quer de amor
terás trato de favor
e faremos boas migas.

Ai flor, ai flor do verde pinho!
por ti morro de saudade,
morro de amor... que não há-de
mingar um só bocadinho!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Coimbra, 21 de Novembro de 2009.

Estudo Geral disse...

Parabéns, amigo João. A passagem do testemunho saudoso também passa, e bem, por Coimbra. Impossível que assim, saudade e portugalidade, morram.