Amanhã nada disto existirá
A bailar no veio translúcido do instante
A insuportável exsurgência da manhã
A distante evanescência das quimeras
De ter sido na imponderabilidade do vento
Nada disto consiste em querer ou ter ou poder
Uma fome alada que resiste
Na planície úbere do não ser
E viro a página
Estar vivo é só a possibilidade de perdição
E em ondas de luz que de cima me revelam
Só o que ficou o resto da alba que não houve
Tudo se precipita em abismos de lume
Na alvorada nova do esquecimento
O cheiro a creolina no charco de ter nascido
O aqui envolto em turvação
Ganha pé o mais ambárico dos vinhos
Não são de fiar as coisas demasiado perfeitas
Tudo vem de fábrica plastificado
E esterilizado
Já nada se gasta só por ser usado
A não ser a habituação a nós
Torna-se espessa e ganha um corpo subtil
De cave fechada repleta de inutilidade
Em fundo uma música quase ignorada
Dos codeine velvet club torna desculpável a decisão
De desfazer os baús na feira da ladra
Da escrita
4 comentários:
regresso à boa forma
abraço por isso
Que belo mostruário de caixeiro-viajante de metáforas! JCN
antes caixeiro-viajante que ouriço-caixeiro!
Abraço, caro Platero,
quanto ao caro JCN,
um cumprimento de longe...
os picos...
Caro Poeta Paulo Feitais: mesmo assumidamente ouriço-caixeiro... longe de mim pretender picá-lo! Por quanto me vende ou cede uma ou duas das suas brilhantes e "reclamadas" ou "anunciadas" metáforas ?!... A boa mercadoria... paga-se bem! JCN
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