quinta-feira, 12 de novembro de 2009
ESCRITO DE MEMÓRIA
1. Um pequeno depósito de incredulidade
no fundo dos teus olhos.
2. Um breve estremecimento no movimento
do coração (do meu coração).
3. A impressão de alguém olhando
-te atrás de ti.
4. Uma voz familiar
num sítio cheio de gente.
(que só tu ouves dentro de ti)
5. Um súbito silêncio entre as
sílabas de certas palavras
que fica depois a pairar perto dos lábios.
6. A ignorância de alguma coisa
que ainda não sabes que não sabes.
7. Uma palavra só, aguardando,
uma palavra que basta dizer ou não dizer,
abrindo caminho entre ser e possibilidade.
8. O que não sou capaz de dizer dizendo-me.
9. Eu (um lugar vazio) para sempre; tu para sempre.
10. Outras duas pessoas
de que outras duas pessoas se lembram.
11. Esse país estrangeiro, o tempo.
Manuel António Pina (1943)
Poesia Reunida
no fundo dos teus olhos.
2. Um breve estremecimento no movimento
do coração (do meu coração).
3. A impressão de alguém olhando
-te atrás de ti.
4. Uma voz familiar
num sítio cheio de gente.
(que só tu ouves dentro de ti)
5. Um súbito silêncio entre as
sílabas de certas palavras
que fica depois a pairar perto dos lábios.
6. A ignorância de alguma coisa
que ainda não sabes que não sabes.
7. Uma palavra só, aguardando,
uma palavra que basta dizer ou não dizer,
abrindo caminho entre ser e possibilidade.
8. O que não sou capaz de dizer dizendo-me.
9. Eu (um lugar vazio) para sempre; tu para sempre.
10. Outras duas pessoas
de que outras duas pessoas se lembram.
11. Esse país estrangeiro, o tempo.
Manuel António Pina (1943)
Poesia Reunida
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8 comentários:
"Porra, senhor abade!" Que coisa... tão sem jeito! JCN
Bom dia, Eminência!
Vejo que vindes, agora mesmo, de fazer vosso desanuviante e costumeiro gargarejo desentupidor e desensufocante de vossos prelatícios berloques e atavios.
Bendizei!
Vernaculai!
Episcoporrai, Senhor Bispo!
Para "Eminência"... falta-me o chapéu de cardeal: por enqunto... apenas e tão-só "Excelência Reverendíssima"! Não ponha o carro... à frente dos bois! JCN
Sereia, é bom colher aqui as romãs maduras da tua sensibilidade... Mais um poema daqueles que nos dizem o Profundo com palavras nuas e descomplexadas. O tempo... torna-nos estrangeiros a relação a nós próprios. O próprio de nós não existe sob a forma da propriedade... quase que parece impróprio dizê-lo.
Mas é assim que as coisas são.
Um afago de luz (retirada deste texto-clarão!).
:)
Obrigada, Paulo.
Infelizmente, uma das coisas que luto todos os dias para melhorar é a memória. A minha, a que tenho, não me chega, falha, falta, ausenta-se com alguma facilidade... e quando encontrei este "Escrito de Memória" com estas palavras que quero a tanto custo guardar... achei bonito colocar aqui e no meu blog*
:)
É... a memória também me dá alguns tropeções, mas decidi deixá-la em paz. E acho que a coisa resulta. ;)
E venham fotos!
:)
Talvez eu consiga... dar um jeito! JCN
Belo e profundo texto. Saudações, Sereia!
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