O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Helena, esquecida, largou a estação da vida

As cores definidas, o contorno do olhar desenhando a fronteira do nosso esquecimento. Ao longe- gargalhadas. Foi na ilha, que ouvi  contar, a história de Helena Serena.
A campainha insistente soou feito um lamento contínuo, sofrido. Helena Serena esqueceu o presente. Abriu a porta e como se fosse um jogo,  escondeu-se noutro tempo. Passou a conjugar o presente no  passado. Helena, esquecida, largou a estação da vida.
- Senhor Manuel, quanto custa o aipim?
- O senhor Manuel, morreu Helena Serena…
Nebuloso o olhar triste de Helena. Seu realejo cantou a saudade doutro tempo. Desafinado, embalou o engano.Nunca soube o fim da história.
Andei pelo bairro da Boa Morte, perguntei por Helena. Na rua os meninos gritaram:
- Brasileirinha. Branca. Helena viveu num tempo inventado. Serena se foi numa hora sem hora. Perdida perdeu-se no espaço…Brasileirinha, procuras que tempo?
- Procuro o tempo… que Helena perdeu
- Vens de onde, brasileira?
- Venho de um compasso desafinado. Procuro quem roubou o tempo de Helena, que também era meu
- Brasileirinha olha o horizonte, vês?
-….
- Vês o sol a dizer até amanhã?
-….
- Sempre o mesmo todos os dias. Enquanto te perdes por Helena Serena, perdes quem te visita todos os dias.
O galo acorda as seis da manhã. Na roça, o cacau está quase maduro. Seis da tarde, há peixe pescado na rede do pescador. Meu olhar desenha o contorno da vida, tão presente o sorriso dela. O sol é tão laranja!

1 comentário:

Glimpse disse...

O sol dirá sempre até amanhã. Ao mesmo tempo que diz, bom dia.