O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Andrómeda



Escultura de A. Rodin


Quando olho estas estrelas

aquilo que vejo não são as coisas

são rastilhos que accionam as memórias.

Não vejo, visiono. Ver é só receber imagens.

Visionar é já criá-las.

Sei que nesse instante a minha vida arde

liquefeita de ponta à ponta.

Vou a esse bosque buscar larvas candentes

que me servem

para atiçar o que dorme.

A minha fronte emite as próprias formas.



(António Cândido Franco, Corpos Celestes, Ed. Limiar, 1990,)

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