O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ciber-chulé

Uma das (curiosas?) consequências de certas botanetas para inserir em sites e blogues, que os informáticos passam o tempo a inventar, e com que nos convencem a ligar blogues a redes sociais e outros etecéteras, é a de que toda a alminha opiniosa e bicho-de-conta-de-gente comenta na rede social, e o blogue fica às moscas de comentários. Interessante.
É ver, como exemplo disto mesmo, o caso do blogue da revista Cultura Entre Culturas: não fora um ou outro obstinado resistente que por ali insiste em postar e comentar, e as mães moscas leriam os posts para as moscas-filhas. Enfim, é o frenesim e deleite da "visibilidade" social em rede. Uma maravilha de parvoeira "global"(mente) acelerada! A maioria das criaturinhas não se conhece, mas todos falam como se fossem velhos amigos, e até dão conselhos uns aos outros e botam sentença e tudo, sobre o que sabem e até sobre o que não sabem. Porreiro, pá! Em toda gente, pelos vistos, há um cripto-comentador político ou desportivo. 
O pior é o que isso tenha a ver (ou não) com a realidade: a real, claro. E a irreal, também – posto que rede social, se não é propriamente realidade, também não chega a ser irrealidade. É assim a modos que um (im)puro nem-carne-nem-peixe, a cheirar a águas turvas ou paradas, que são confundidas com o cheiro a marisco fresco. Quem nunca o cheirou, obviamente nunca o identificará, e vendem-lhe chulé com patas por marisco. É perto do mesmo, o de que aqui falo.

1 comentário:

rmf disse...

Posso partilhar?

Tudo vai da intenção, da força e da energia que depomos através dos objectos.

O meu cinzirino padece, a modos, da mesma virtude. Poucos ou nenhuns o visitam, desde sempre. Que descanso regressar a casa e ver tudo arrumadinho... às vezes, às vezes... como agora (ele há coisas...) desconfigurou-se-me o HTML da página. Há aqui alguém que me ajude?

Compreendo a sua revolta.

O suposto mundo da partilha virtual está fora destas estruturas em HTML erigidas sobre a base da ideia de folha de jornal-vivo, onde se pode, acaso se queira, modelar, contemplar, ler, reflectir, deixar uma opinião, uma ideia, ou um testamento mas, rara e dificilmente, um diálogo.

Estou com(o) 'o outro'... vemo-nos no Second Life, ou no Linkedin, ou no... (pesquise-se extensa lista de redes sociais)

É de facto um grande vazio...