O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Entre partir e chegar - sentar. Apertada na poltrona cada vez mais estreita, coloco o cinto de segurança. Da janela vejo o branco que se perde na escuridão.
Tento dormir mas o queixo encontra o peito e sufoco. Fico com sono.
Tranquilo, viaja de olhos fechados. Um sorriso na face acompanha o homem sereno. Parece um poema contínuo. Sem fim. Contagia meu corpo. Endireito as costas. Pouso as mãos nas minhas coxas. Deixo-me estar. Devagar, escuto o ar que respiro. Meigo é o tempo que agora me abraça. Descoberta que emociona.
Uma lágrima dança na minha boca, como se fosse eu, o horizonte deste caminho novo.
Fecho os olhos. Sem pressa, sorrio.
Ao meu lado adormece o poema inacabado:


Dormi o sono dos justos, sem nunca ter acordado. Encontrei o sonho. Repousei os demónios.
Intervalo de tempo. Passado o engano, na fronteira do indizível encontro o silêncio. Aqui, onde o mar e o rio se unem e separam. Salgado e doce, dentro e fora, a mesma água. Repouso sem adormecer.


1 comentário:

platero disse...

lento
morno
respirado

lindo

beijo