domingo, 11 de abril de 2010
Carta ao Director do "Público" sobre a mentira acerca da Marcha pelos Animais de 10 de Abril
Exmº Sr. Director
Tinha 14 anos em 25 de Abril de 1974 e saí à rua com o mesmo entusiasmo de milhões de portugueses para saudar a restauração das liberdades fundamentais dos cidadãos, entre as quais a liberdade de imprensa. Depois disso desiludi-me com a política convencional, a meu ver demasiado estreita, e dediquei-me sobretudo à docência universitária. Há cerca de um ano faço parte da Comissão Coordenadora do Partido Pelos Animais e foi nessa qualidade que apoiei a Marcha pelos Animais, em 10 de Abril, e que fui entrevistado pelo vosso jornal. Lendo a afirmação do jornalista de que "centenas" de pessoas estiveram presentes, não posso reprimir a minha indignação: como podem "centenas" de pessoas, em filas de cerca de dez, encher completamente o percurso do Saldanha ao Marquês de Pombal, dar a volta a esta Praça e entrar ainda na Rua Braancamp, como muitas fotos e videos documentam? Como pode alguém reduzir a "centenas" as 3000 pessoas que, no mínimo, estiveram presentes?
A minha indignação é tanto maior quando vejo o "Público", cuja qualidade prezo, fazer coro com outros jornais de qualidade muito inferior e ficar atrás dos canais televisivos, que deturparam ligeiramente menos a realidade, falando de "mil" pessoas...
Compreende-se que os órgãos de comunicação social não estejam interessados nos animais, que felizmente não lêem jornais nem vêem televisão, como se compreende que o poder e as forças políticas não se interessem por quem não vota e é apenas vítima passiva e silenciosa de todo o tipo de maus-tratos e abusos. Não se compreende é que os media tenham o despudor de insultar com tamanha mentira o crescente número de cidadãos que se erguem para dar voz a quem não a tem e que colocam a defesa dos direitos dos animais como condição para uma sociedade humana melhor e mais evoluída. Assim o comprova, além dos milhares de pessoas que saíram à rua no dia 10 de Abril, a recente entrega de uma petição contra a criação de uma secção de tauromaquia no Conselho Nacional de Cultura, de que sou primeiro subscritor, e que obteve 8200 assinaturas em menos de dois meses.
Sinceramente, Sr. Director, não foi para isto que a liberdade de imprensa foi restaurada em Portugal! Tenho hoje 50 anos e sinto o meu entusiasmo adolescente traído por ver a liberdade de imprensa convertida em liberdade de manipular a opinião pública. Não esperava era ver o "Público" ir tão despudoradamente neste rumo...
Paulo Borges
(Professor na Universidade de Lisboa)
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1 comentário:
claro que " O Público" vai ficar caladinho que nem rato.
Só as Corridas de Toiros movimentam milhões, com destinatários diversos - em que é difícil tocar.
Imagine-se o que seria intentar esgrimir contra o fenómeno Futebol
(não sei se também da tutela da Cultura) ou contra as Corridas "clandestinas" sobre a Ponte Vasco da Gama.
Parece sempre aconselhável não levantar muitas ondas se o que se pretende é evitar tsunami
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