O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 4 de abril de 2010

Se a minha Alma falasse

Não se entenderia com a linguagem dos Homens,

Cegos e surdos,

Em veredas (des)amparados.



Pedaços de mim lançam-se por esse Mundo incógnito,

Soltos,

Completamente soltos

Como se o puzzle a que um dia pertenceram

Se tivesse desfeito, para sempre,

Na anarquia caótica dessas gentes que escondem

Os sorrisos de gratidão,

As lágrimas de felicidade,

Os aplausos, a um só ritmo,

Que não soam mais nos timbres da harmonia

Dos tambores da Paz e da Justiça

Que, outrora, me consolavam a Alma,

Viandante,

Que parte e fica num mesmo lugar,

Num outro e mesmo lugar qualquer,

Algures perdido na imensidão do Universo.



Ah, se encontrasse, um dia, esse meu topos,

Esse lugar natural que me foi destinado,

Esse espaço só do Tempo e só do Espaço,

Apenas para mim guardo,

Só para mim colhido e não para mais ninguém!



Mas a podridão dos sentires putrefactos

Sempre se eleva,

Sempre fala mais alto

Pelas aquelas vozes ignóbeis

Da maledicência propositada.



Isabel Rosete

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