O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quarta-feira, 14 de abril de 2010

Assaz

Harold Ortiz Sandova


Tudo o que precede esquecer. Eu não posso muito ao mesmo tempo. Isso deixa à caneta o tempo de anotar. Eu não a vejo mas ouço-a lá em baixo atrás. É o silêncio. Quando ela pára eu continuo. Demasiado silêncio não posso. Ou é a minha voz demasiado fraca por momentos. A que sai de mim. Eis pela arte e o modo.


Excerto de Assaz in Textos para nada | Samuel Beckett
1.ª Edição. Lisboa. Publicações Dom Quixote

2 comentários:

Anónimo disse...

Rui,

Logo pela manhã, vejo a imagem, leio, releio, seguro ao de leve o silêncio.Atrás do que escrevo está a imagem... "Eu não posso muito ao mesmo tempo."

Posso, isso sim, deixar o silêncio lá atrás...

Ir lá buscá-lo, para dar à palavra espaço para sair...

Um abraço

Paulo Borges disse...

Assaz. Sagaz.