O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Tudo isto é lindo

Não procuro o incriado, o tal nada diferente de coisa nenhuma, por oposição ao criado. Na verdade, agora que penso, fascina-me mais o nada que é coisa nenhuma, o inexistente, do que o incriado. Sim, o incriado envolve-me nos mais loucos delírios e iluminações mas, como estou agora, e só como agora estou posso estar, fascina-me absolutamente mais nada que é coisa nenhuma, o inexistente, o que poderia ter existido mas que não chegou a existir. Nas visões que temos, vermos o que não pôde ser visto, porque não chegou a acontecer. Neste sentido, a vida é não só feita de um eterno perder, desde amados a ilusões, mas de um enorme nada, de um não vir a ser. E isso, mais do que entristecer-me, comove-me, porque tem uma beleza e potência tais escondidas, ou mesmo visíveis, que só os poetas podem descrever. Tenho plena consciência de que sou não só fruto do que fui mas, também, e quem sabe se com igual ou maior pujança, do que não fui. Tudo isto é lindo, sentimentos (tristezas, alegrias), inexprimibilidades (perdoem-me a palavra horrenda). Mas quem sou eu para afirmar tanto? Um em seis biliões, uma cosmovisão. Paz.

Sem comentários: