domingo, 24 de fevereiro de 2008
estar sempre a partir
nada se detem
o rio é interior
e arrasta árvores de raízes rasgadas
e cadáveres de crianças que já foram
labaredas de alegria e contentamento
e sonhos
mesmo os mais acalentados nos dias de desilusão
quanto mais os cravamos na dureza da terra
mais eles mergulham na corrente da noite que trazemos no coração
mais os dias são desgarrados e pesados
mais a vida é a margem onde se acumulam destroços e coisas inúteis
trazemos o mundo todo desmantelado e apodrecido
no lado de dentro dos olhos
onde o mar não é mar
e a noite é ter os olhos fechados
e o deserto é sentir a pele desistente por dentro
a boiar turvamente na lentidão das horas
por isso
pássaro
rumo ao reverso do entardecer
pássaro urgente
pássaro todo
sem interioridade
e o sol será essa queimadura de não conhecer fronteiras
essa alucinação de não ter que sim nem que não
para quê mais do que isso?
pássaro-me
e do avesso
o mundo que visto
parece sempre novo
e isso basta
para que as torradas todas as manhãs me saibam ao mesmo
o sabor da manteiga não se desgasta
e as flores na berma da estrada são sempre iguais ao que são
e o mesmo que nunca fui
não pode ser exilado
da terra a que pertence
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