O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Um excerto do Upanixade A lição suprema

"Sono Profundo

Tal como um falcão ou uma águia, depois de voar impetuosamente pelo céu, dobra as asas de cansaço e desce voando até ao seu ninho, assim também o Espírito do homem se apressa até àquele lugar de repouso onde a alma não tem desejos e o Espírito não vê qualquer sonho.

O que foi visto num sonho, todos os medos do acordar, tal como o de ser assassinado ou oprimido, perseguido por um elefante ou de cair num abismo, tudo se vê ser apenas ilusão. Mas quando, tal um rei ou um deus, o Espírito sente que 'eu sou tudo', entao está no mais elevado dos mundos. É o mundo do Espírito, onde não há desejos, de onde toda a maldade desapareceu, e onde não há medo.

Tal como um homem, nos braços da mulher amada, sente apenas paz em seu redor, assim também a Alma no abraço de Atman, o Espírito da visão, sente apenas paz em seu redor. Todos os desejos são alcançados, pois o Espírito que tudo é já foi alcançado; ali não há desejos e também não há pesares.

Lá um pai não é mais pai, nem uma mãe é lá uma mãe; os mundos não são mais mundos, nem os deuses continuam a ser deuses. Lá os Vedas desaparecem; e o ladrão não é ladrão, nem o assassino é mais assassino; o pária já não é pária, nem o mal nascido é mal nascido; o peregrino não é mais peregrino e o eremita não é mais eremita; porque o Espírito do homem atravessou as terras do bem e do mal e ultrapassou as tristezas do coração.

Lá o Espírito não vê; contudo, mesmo não vendo, ele vê. Como poderia o Espírito deixar de ver se ele é Tudo? Mas não há aí qualquer dualidade, nada há separado dele que ele possa ver. (...)

Porque só lá onde parece existir uma dualidade, aí um vê ao outro, sente o perfume do outro, toma o gosto do outro, fala com o outro, ouve o outro, toca no outro e conhece o outro.

Mas no oceano do Espírito o observador está sozinho admirando a sua própria imensidade.

Esse é o mundo de Brahman, ó rei. Esse é o caminho supremo. Esse é o supremo tesouro. Esse é o mundo supremo. Esse é o supremo júbilo. Numa porção desse júbilo vivem todos os outros seres."

Upanixade A lição suprema , in Upanixades, Vida Editores, pp. 147-150.

1 comentário:

Paulo Borges disse...

Há que esclarecer que o "sono profundo" é a suma consciência... Chegaremos lá quando pudermos consciencializar que dormimos, mesmo estando acordados...