segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
Apolo-Dioniso
O Ocidente desorientou-se em relação ao que se entende por uma espiritualidade eficiente, principalmente devido à aversão ao cristianismo. A ascese e a disciplina, que fazem parte da natureza humana (diria até da natureza universal), passaram a ser vistas exteriormente, ou seja, moralmente, sem qualquer relação com a consciência. Abster-se voluntariamente de fazer sexo ou de comer determinados alimentos é, para a generalidade dos ocidentais, uma questão moral, muito raramente uma relação de consciência com o universo, com a sua própria natureza e com o espírito, aquilo que entendo por "saúde integral", algo que está muito para além da saúde vista de uma perspectiva unicamente médica. O que nos resta (para além do cristianismo) da antiga tradição ascética representada por Apolo e Zeus é o desporto, que exige uma disciplina integral a vários níveis, inclusive alimentar e sexual, mas que se desenraizou da sua espiritualidade original, degenerando em espectáculo competitivo, comercial, hiper-profissionalizado, etc. Encontram-se, contudo, algumas pessoas que praticam desporto por conta própria e que o integram nas suas vidas como disciplina espiritual, o que é muito louvável. A educação física ensinada nas nossas escolas raramente contribui para para uma devida consciencialização do que significa o verdadeiro espírito olímpico, ficando-se pela técnica e pela competição, esquecendo o mais importante e fundamental: o mito que se encontra na sua base, o elemento divinizador.
O lado dionisíaco não é menos triste, pois a celebração dissolvente, quer através da sexualidade quer através da "festa", perdeu todo o seu simbolismo ritual, ou seja, a sua ligação ao espírito, à integração no cosmos, mais uma vez, à "saúde integral e universal". As pessoas saem à noite para "se divertirem", para dançarem, para se embebedarem, para encontrarem sexo e também amor, mas nunca para celebrarem Dioniso.
É ao Oriente, onde o mito ainda está vivo e operante, que os Ocidentais têm recorrido para reencontrarem formas de espiritualidade que promovam o equilíbrio Apolo-Dioniso, ascese-dispersão, ainda que muitas vezes, influenciados pelo cristianismo, permaneçam com uma perspectiva moralista em relação ao aspecto dionisíaco do espírito, reconhecendo unicamente a sua contraparte apolínea. Recorde-se que esse equilíbrio foi alcançado pelos gregos através do orfismo, escola iniciática em que se praticava a ascese e o vegetarianismo: Orfeu é filho de Apolo e celebra Dioniso; o Drama é um dos resultados, mas o cinema, seu sucedâneo actual, desenraizado do mito, poucas vezes representa um ritual de verdadeira comunhão espiritual (o jogo das máscaras).
O mito do deus indiano Shiva, por exemplo, representa claramente esse equilíbrio, de uma forma aparentemente contraditória, quer a ascese (através de várias formas de yoga) quer a dispersão (através de diversos rituais): no primeiro caso opera o "Olho de Shiva", a "terceira visão", a "luz da consciência"; no segundo opera o "Ligam" o "Falo de Shiva", o impulso vital básico; os dois aspectos juntos são o "Shiva Nataraja", os ciclos ascese-dispersão, criação-destruição-renovação, a eterna dança (ou o eterno drama) do Cosmos.
"O mito é o nada que é tudo"...
DesDramatizemos!
O lado dionisíaco não é menos triste, pois a celebração dissolvente, quer através da sexualidade quer através da "festa", perdeu todo o seu simbolismo ritual, ou seja, a sua ligação ao espírito, à integração no cosmos, mais uma vez, à "saúde integral e universal". As pessoas saem à noite para "se divertirem", para dançarem, para se embebedarem, para encontrarem sexo e também amor, mas nunca para celebrarem Dioniso.
É ao Oriente, onde o mito ainda está vivo e operante, que os Ocidentais têm recorrido para reencontrarem formas de espiritualidade que promovam o equilíbrio Apolo-Dioniso, ascese-dispersão, ainda que muitas vezes, influenciados pelo cristianismo, permaneçam com uma perspectiva moralista em relação ao aspecto dionisíaco do espírito, reconhecendo unicamente a sua contraparte apolínea. Recorde-se que esse equilíbrio foi alcançado pelos gregos através do orfismo, escola iniciática em que se praticava a ascese e o vegetarianismo: Orfeu é filho de Apolo e celebra Dioniso; o Drama é um dos resultados, mas o cinema, seu sucedâneo actual, desenraizado do mito, poucas vezes representa um ritual de verdadeira comunhão espiritual (o jogo das máscaras).
O mito do deus indiano Shiva, por exemplo, representa claramente esse equilíbrio, de uma forma aparentemente contraditória, quer a ascese (através de várias formas de yoga) quer a dispersão (através de diversos rituais): no primeiro caso opera o "Olho de Shiva", a "terceira visão", a "luz da consciência"; no segundo opera o "Ligam" o "Falo de Shiva", o impulso vital básico; os dois aspectos juntos são o "Shiva Nataraja", os ciclos ascese-dispersão, criação-destruição-renovação, a eterna dança (ou o eterno drama) do Cosmos.
"O mito é o nada que é tudo"...
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3 comentários:
Com razão diz Teixeira de Pascoaes que deveria surgir um novo tipo de forma artística, um novo tipo de Drama, de origem lusa.
A alternativa é cada um de nós ser, desde já, Apolo-Dioniso e os dois aspectos de Shiva... E, como dizia o Agostinho da Silva, "contagiar" o mundo desta "louca sabedoria" !
Estamos cá para isso!
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