domingo, 17 de fevereiro de 2008
...
Dois são nenhum
sabias?
Ter uma espiral de medos e culpas em fuga
a vertiginar por dentro dos olhos
caracol que o orvalho do tempo não desperta
para o sol de haver um dia novo em cada dia
e uma eternidade de não haver dias iguais
em cada hora de cada segundo de cada minuto de ser o tempo a alar-se
é isso que torna o amor urgente
o saber que tocar-te é destocar-me
o abraçar-te é desabraçar-me
o viver-te é desviver-me
astro esquecido das combustões que criam mundos
sabias?
Nos teus seios a minha angústia é todo o néctar
de todas as vinhas
de todos os secretos desejos do deus que se quer perder de si
nas guelras das tardes em que a tristeza mergulha nos ritmos de nunca
ter havido homens
nem mulheres
apenas sedes
de pele cravada de espínhos do Impossível
e no amor não há encontro
só desabituação se o amor é vero
só morte completa se o amor é fero
a morte dançarina
o não princípio
o não fim
o não em mim
o não em ti
a impetuosa ascenção ao coração fulgurante do Abismo
os teus olhos a brilhar estrelas de não ter sido
e o silêncio
a serrilhar a armadura de gesso
das palavras que pronunciamos para nos dizermos
quando acreditamos que somos pedaços de ânsia metafísica
que a vida desgasta na incomburência dos perdidos
a tua carne florescida
a tua pele na musicalidade da respiração que se exalta
a viridiscência de estarmos no rebordo da perdição
que torna as palavras desmoronamentos do sentido
dos sentidos
da necessidade de sentir
a desnecessidade de nos amarmos
sabias?
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1 comentário:
BELÍSSIMO!
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