O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Programa de tv - Parte II

– Escreves aí umas piadas tipo Jay Leno e tipo outros todos, que isso já é prata da casa.


Ninguém se satisfaz sem entrances de abertura, não interessa a piada, basta a entoação que lhe dão, entoação que não têm de aprender ou ensaiar.
Confia em mim, estes apresentadores “são assim”, “dentro da casa é igual ao fora de casa, pode crer que sim”.


A piada cairá no goto porque não te esqueças que temos a população a achar piada ao mesmo, a rir-se da mesma coisa, é só observares as pessoas na rua, grupos, dois, telemóvel, puxa palavra, Avenidade da Liberdade, Pontinha, Valongo, vais ver do que se riem umas com as outras e como puxam outras para a risota, é assim que se faz a cumplicidade.


Ouve-as só, não precisas de olhar para todas, podes ir de costas para elas e de walky talky na mão.
Terás um programa.


-- E os convidados?


-- Os convidados são os que vão ou foram aos outros programas. É um mundo pequeno, sabes como é. E quem tem disponibilidade para um programa terá por supuesto para outro. Mais um, menos um. Aqui a diferença é que não entrevistamos propriamente a pessoa.


-- Ah não? Atão?


-- O convidado faz parte do cenário como mobília ou amigo da casa.


O convidado quando entra é impelido, como se tivesse bebido um licor das índias, a apertar a mão com fervor ao apresentador, e vais ver que a estupidez contagia, sempre ouvi dizer.


Mandas uma coisa para o ar e o convidado responde só a um bocadinho da coisa ou outra coisa qualquer diferente da coisa que lhe puseste.


Esperas meio minuto, na “Regi” gritam-te “Passa para outra coisa, põe-te a andar, foge, roda o palco!”, tipo pop up, estás a perceber?
É isso que deixa um gajo a olhar para este programa.


Além disso, o convidado sabe ao que vem. Se não sabe é estúpido e isso é um ponto a nosso favor.


A seguir espetas com uma rubrica ou um jogo de perguntas e respostas cronometradas, 1 minuto, sem esquecer o separador de cada rubrica para o espectador saber ao que vai e para saber que se vai passar algo completamente diferente do emitido até àquela altura do programa.


Entretanto palmas e gritos de guerra do lado da plateia.


Hás de reparar que até políticos que não vão a programas de entretenimento,
Hás de vê-los a vir a este, como iam ao gato fedorento tudo camaradagem em fila para entrar, unanimidade gostosa.
É que, se não fossem lá, iam ostracizados!


Vais ver se não hão de entrar nesta modernice tão oficial e cavalheira.
Rtp2, meia noite, directo, queres o quê?
Só pode ser prestigiante uma aventura calculada para pôr no currículo.


-- E reacções do público, tens alguma ideia?





[A Parte I do Programa de tv encontra-se há sete posts]

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