O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


terça-feira, 30 de novembro de 2010

Inverno

a natureza reclama em silêncio  a mudança do tempo presente.
as abelhas morrem antes do tempo, neste inverno que se prolonga.
o sol nasce timidamente, o dia despede-se cedo

é surdo o lamento do tempo 

ganhou o inverno saudade do tempo, quer ser inverno sempre.
nasce a flor de laranjeira, fora de tempo
anuncia a sombra o espanto
deste tempo que recusa a ser tempo
tão fora do tempo está

o velho declara amor eterno à beira da morte 
a velha sorri no leito do amado
muda o tempo e eu permaneço neste inverno que se prolonga teimoso.

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