terça-feira, 23 de novembro de 2010
GREVE GERAL
24 de Novembro é dia de Greve Geral. Sim, façamos Greve Geral. Paralisemos todas as nossas actividades, como protesto contra um país mal organizado, mal governado, eticamente decadente e social e economicamente injusto, cada vez mais vergado à grande finança internacional, à ganância dos especuladores e ao consequente desprezo pelas necessidades básicas da população. Paremos totalmente, como protesto contra um país refém dos grandes grupos e potências económico-financeiras em todas as áreas, do trabalho à saúde, educação e política.
Façamos pois Greve Geral, em protesto contra todos os governos e oposições que, não só agora, mas desde a fundação de Portugal, contribuíram para o estado em que estamos. Todavia, façamos Greve Geral sobretudo em protesto contra nós próprios, que maioritariamente votamos sempre nos mesmos ou nos abstemos de votar e, principalmente, de criar alternativas à classe política e aos partidos em que desde há muito não acreditamos. Façamos Greve Geral, sim, mas também à nossa passividade e conformismo cívicos, à nossa preguiça e indolência, à nossa tremenda indiferença. Façamos Greve Geral ao nosso hábito inveterado de criticar tudo e todos e nada fazer, ficando sempre à espera que alguém faça, que os outros resolvam, que D. Sebastião apareça. Façamos Greve Geral à ideia de que basta fazer um dia de Greve Geral exterior, em prol de mudanças sociais, económicas e políticas, deixando tudo igual nos outros dias e dentro de cada um de nós. Sim, façamos definitivamente Greve Geral à demissão de sermos desde já, sempre e cada vez mais a diferença que queremos ver no mundo, em todas as frentes, sem exclusão de nenhuma: espiritual, cultural, ética, social, económica e política.
Façamos pois Greve Geral à nossa cumplicidade com o rumo de uma civilização que caminha aceleradamente para a sua perda, à nossa colaboração com a ganância e futilidade da hiperprodução e do hiperconsumo que violam a natureza e instrumentalizam e escravizam os seres vivos, homens e animais, em nome de um progresso e de um bem-estar que é sempre apenas o de uma pequena minoria de senhores do mundo. Façamos Greve Geral à intoxicação quotidiana de uma comunicação social que só deixa passar a versão da realidade que interessa aos vários poderes e contrapoderes. Façamos Greve Geral à imbecilização colectiva de muitos programas de televisão e seus outros avatares informáticos, que nos deixam pregados no sofá e nos ecrãs quando há crianças a morrer de fome, mulheres apedrejadas até à morte, velhos abandonados, defensores dos direitos humanos torturados e a apodrecer nas prisões, trabalhadores explorados, povos vítimas de agressão militar e genocídio, animais produzidos em série para os nossos pratos e a agonizar nos canis, matadouros, laboratórios e arenas, a natureza e o planeta a serem devastados… Façamos Greve Geral a todas as nossas ilusões e distracções, a todo o fazer de conta, a toda a conversa fútil no café, telemóvel, blogues e facebook, a todo o voltar a cara para o lado ante a realidade profunda das coisas e toda a nossa hipócrita cumplicidade com o que mais criticamos e condenamos.
Sim, e sobretudo façamos Greve Geral à raiz de tudo isso, a todos os nossos pensamentos, emoções, palavras e acções iludidos, inúteis e nocivos a nós e a todos. Greve Geral a todos os juízos e opiniões que visam sempre autopromover-nos em detrimento dos outros. Greve Geral a colocarmo-nos sempre em primeiro lugar, a nós e aos “nossos”, familiares, amigos, membros da mesma nação, clube, partido, religião ou espécie, em detrimento dos “outros”, sempre a menorizar, desprezar, combater, dominar ou abater. Pois façamos Greve Geral, total e radical, não só um dia, mas para sempre, a toda a ignorância dualista, apego e aversão e à sua combinação em todo o egocentrismo, possessividade, orgulho, inveja e ciúme, avareza e avidez, ódio e cólera, preguiça e torpor. Paremos para sempre de produzir e consumir isto, cessemos de poluir mental e emocionalmente o planeta e deixemos espaço para que em nós floresça e frutifique a sabedoria, o amor, a compaixão imparciais e incondicionais, a paz e a alegria profundas e duradouras.
Façamos Greve Geral, agora e para sempre! E deixemo-nos contaminar pela Revolução doce e silenciosa de uma mente desperta e sensível ao Bem de todos os seres sencientes, que nada pense, diga e faça que não o vise, a cada instante, seja em que esfera for, também na economia e na política. Desta Greve Geral sai um Homem e um Mundo Novo.
Paulo Borges
23.11.2010
Façamos pois Greve Geral, em protesto contra todos os governos e oposições que, não só agora, mas desde a fundação de Portugal, contribuíram para o estado em que estamos. Todavia, façamos Greve Geral sobretudo em protesto contra nós próprios, que maioritariamente votamos sempre nos mesmos ou nos abstemos de votar e, principalmente, de criar alternativas à classe política e aos partidos em que desde há muito não acreditamos. Façamos Greve Geral, sim, mas também à nossa passividade e conformismo cívicos, à nossa preguiça e indolência, à nossa tremenda indiferença. Façamos Greve Geral ao nosso hábito inveterado de criticar tudo e todos e nada fazer, ficando sempre à espera que alguém faça, que os outros resolvam, que D. Sebastião apareça. Façamos Greve Geral à ideia de que basta fazer um dia de Greve Geral exterior, em prol de mudanças sociais, económicas e políticas, deixando tudo igual nos outros dias e dentro de cada um de nós. Sim, façamos definitivamente Greve Geral à demissão de sermos desde já, sempre e cada vez mais a diferença que queremos ver no mundo, em todas as frentes, sem exclusão de nenhuma: espiritual, cultural, ética, social, económica e política.
Façamos pois Greve Geral à nossa cumplicidade com o rumo de uma civilização que caminha aceleradamente para a sua perda, à nossa colaboração com a ganância e futilidade da hiperprodução e do hiperconsumo que violam a natureza e instrumentalizam e escravizam os seres vivos, homens e animais, em nome de um progresso e de um bem-estar que é sempre apenas o de uma pequena minoria de senhores do mundo. Façamos Greve Geral à intoxicação quotidiana de uma comunicação social que só deixa passar a versão da realidade que interessa aos vários poderes e contrapoderes. Façamos Greve Geral à imbecilização colectiva de muitos programas de televisão e seus outros avatares informáticos, que nos deixam pregados no sofá e nos ecrãs quando há crianças a morrer de fome, mulheres apedrejadas até à morte, velhos abandonados, defensores dos direitos humanos torturados e a apodrecer nas prisões, trabalhadores explorados, povos vítimas de agressão militar e genocídio, animais produzidos em série para os nossos pratos e a agonizar nos canis, matadouros, laboratórios e arenas, a natureza e o planeta a serem devastados… Façamos Greve Geral a todas as nossas ilusões e distracções, a todo o fazer de conta, a toda a conversa fútil no café, telemóvel, blogues e facebook, a todo o voltar a cara para o lado ante a realidade profunda das coisas e toda a nossa hipócrita cumplicidade com o que mais criticamos e condenamos.
Sim, e sobretudo façamos Greve Geral à raiz de tudo isso, a todos os nossos pensamentos, emoções, palavras e acções iludidos, inúteis e nocivos a nós e a todos. Greve Geral a todos os juízos e opiniões que visam sempre autopromover-nos em detrimento dos outros. Greve Geral a colocarmo-nos sempre em primeiro lugar, a nós e aos “nossos”, familiares, amigos, membros da mesma nação, clube, partido, religião ou espécie, em detrimento dos “outros”, sempre a menorizar, desprezar, combater, dominar ou abater. Pois façamos Greve Geral, total e radical, não só um dia, mas para sempre, a toda a ignorância dualista, apego e aversão e à sua combinação em todo o egocentrismo, possessividade, orgulho, inveja e ciúme, avareza e avidez, ódio e cólera, preguiça e torpor. Paremos para sempre de produzir e consumir isto, cessemos de poluir mental e emocionalmente o planeta e deixemos espaço para que em nós floresça e frutifique a sabedoria, o amor, a compaixão imparciais e incondicionais, a paz e a alegria profundas e duradouras.
Façamos Greve Geral, agora e para sempre! E deixemo-nos contaminar pela Revolução doce e silenciosa de uma mente desperta e sensível ao Bem de todos os seres sencientes, que nada pense, diga e faça que não o vise, a cada instante, seja em que esfera for, também na economia e na política. Desta Greve Geral sai um Homem e um Mundo Novo.
Paulo Borges
23.11.2010
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7 comentários:
Meu caro Paulo,
Que bela e revoltadamente pacífica litania esta, que nos convoca a que, do piorzinho de nós e do piorio em nós, possa brotar o melhor que desde sempre em nós permanece: à espera de nós, apenas!
Que tremenda convocação esta, ao despertar da vergonhosa dormência em que nos quedamos, no sofá da nossa imensa hipocrisia quotidiana e respectivo refastelamento no "não é nada comigo!"!
E que belo poema este, poema do real, que, a um tempo, nos grita ao ouvido quase entupido, à força de tanto embutirmos de ilusões e auto-convencimentos a nossa mais que auto-desprezada autenticidade, e nos sussurra o que muito bem sabemos, mas que de todas as mais subreptícias e desavergonhadas maneiras tentamos esconder de nós próprios!
Que grave é tudo isto!
E que greve, pois, não merece isso!?
Achamos grave?
Gravemos em nós!!!!
Merece greve?
Grevemos!!!!!(em nós, também)
Abraço de sangue,
isto é, de sal,
isto é, de seiva,
isto é, de sémen,
isto é, de mel,
isto é, de leite,
isto é, de luz,
isto é, de fogo,
isto é, de paz!
P.S.
Lapdrey, Damien, Donis de Frol Guilhade, Luiz Pires dos Reys e os restantes sem-vergonha-na-cara estão aqui comigo, a dar a cara à palmatória e ao manifesto!!
À Fausta (permita-me ela) dou uma piscadela de olho ao apimentado da forma, que não tanto ao vinagrete do conteúdo.
Paralizemos, pois, e grevemos de tal "mesmice" e contra nós levantemos os protestos, pois que a ordem das palavras só pode ser a das palavras desordenadas que a esmo se espalham como um clamor de vozes que se nos dilaceram de revolta as reservas de paciência para nós que em tudo nos amesquinhamos; que cobardemente acenamos um "Não" interior e vamos dizendo a tudo que Sim, que Sim Senhor...
Grevemos, pois "todas três, ai floridas, sob aquelas avelaneiras floridas..." - Não sei bem se é assim! Façamos greve a isso também! Deixemos de pensar com o pensamento enterrado no sofá, e a "dormência" até no gesto de pensar realmente se fazer greve nos faz "calcar os souquetes" e ir para o exterior de nós, gritar o interior em greve desde há muito, desde o princípio do Mundo, e que nos faz esperar por D. Sebastião à janela de uma alma que nem é nossa. Grevemos também a essa que nos compõe poemas de muito mar e pássaros doirados e azuis e nos faz ter saudades dos dias em que acordamos com o mundo inteiro: os governos, o trabalho, a maledicência, a hipocrisia; o desejo; a indolência; a indiferença em cima das costas que nos doem de tanto consentir no sofrimento e na nossa mesma apatia e passividade!
Por uma Revolução Silenciosa!
Eu grevo; tu grevas; ele greva...
E quem não greva nem grava, que atire a pochete ao ar e... como a Fausta, não acreditemos em Revoluções pacíficas!
Pacifique-mo-nos docemente no rumor desse "Não" directo ao coração do Homem Velho!
Digamos "Sim!" ao que há-de vir, pois que não há greve convocada para tanta greve de nós!
Mandato de despejo a nós mesmos!
Morra o Dantas e o "dantes" em nós!
Acredito:
Na Paz que resulta de uma tal greve!
Mandato de despejo a nós!
Deixemos que a greve nos invada!
Já!
Aghora!
Abraço, Paulo!
Os dois últimos comentários foram tão veementes, que tive que fazê-los calar desgravado-os!
Pois ue façam greve, também!
Eram meus os comentários que apaguei, obviamente. Vieram em triplicado, como nos documentos que se faziam(fazem) em serviços públicos! Greve, pois, à burocracia em que nos transformamos em nós mesmos, repetidamente!
!!!
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