O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 22 de novembro de 2008

Recital de Pedro Casteleiro e Manu Clavijo na Corunha


Vale a pena, amigos, voltar da mão de um amigo. Aqui vai este recital que recentemente nos deram Pedro Casteleiro e Manu Clavijo na Corunha.


http://www.udc.es/dep/lx/cac/sopirrait/sr090.htm

9 comentários:

Anónimo disse...

E um sorriso feliz por ver o regresso do Jose Antonio Lozano pode ser um recital de quê? (...)

Bem-vindo!

Paulo Borges disse...

Um Abraço, Chiqui! Gostei de te ver em Santiago e de te rever aqui! Continua a aparecer nas asas da Serpente!

José Leite disse...

Parabéns! Continua!

Anónimo disse...

Grande Galiza, nossa noiva de sempre! Para quando as Núpcias!? Para quando a libertação do raptor castelhano?

José António Lozano disse...

Espero voltar, até porque tenho dívidas pendentes para com os amigos da Serpente mas ando, como já te disse, Paulo, muito atarefado ultimamente.

Eu também fiquei contente de termo-nos encontrado em Santiago embora tivesse gostado que fosse com mais tempo e mais vagar.

Serpente finistérrea,
Inês de Castro era galega e essa é uma dura verdade para todos nós. O namoramento entre a Galiza e Portugal levanta grandes paixões mas é necessário que os nacionalismos (português, galego, espanhol) se transformem numa forma mais evoluída de consciência política e social. Eu penso sobretudo numa acção de carácter cultural no seu sentido mais amplo. Em todo o caso Deus sabe melhor. Um abraço amigo.

Quanto à Isabel, estou quase envergonhado de apresentar-me assim, sem nada. Digo "quase" porque conhecendo a Isabel(um pouco) seria uma vergonha envergonhar-se diante dela, generosa que ela é. Envio-te um beijo sorridente da Galiza. Com o fim de ser perdoado construi estas "Quadrinhas imperfeitas" que vão dedicadas também a Luiza Dunas

"Quadrinhas imperfeitas"

Á noite escrevo meu cantar de amigo
sem pena e tinta, sem triste penar
escrevo à noite como um rei antigo
que deixou o trono para poder reinar

Mas o dia borra o que a noite armou
como um mendigo enviado a mandar
o trovador da noite que tanto amou
passa pelo mundo sem passar.

Rei, mendigo, também senhor
aqui tendes o segredo mais fundo
do que perde e encontra seu amor
e não cabe, amigos, neste mundo.

Anónimo disse...

Belas quadras!

Anónimo disse...

José António adorei as "quadrinhas imperfeitas". Mas imperfeitas só face ao Amor sentido que não é deste mundo; na linguagem dos homens parecem-me muito bem. Vi agora e para agradecer o que de belo e fundo partilhaste comigo, fui procurar um texto antigo meu, sobre o bailado de "Pedro e Inês" da Olga Roriz. Para te agradecer o beijo e o "envergonhamento", se a palavra existisse, mas é engraçada e diz mais do que estar envergonhada/o. Um excerto do texto sobre o amor e a morte.


No Amor o estranho pode ser o anjo. E, se pensarmos apenas e só nos exemplos da Bíblia, a presença inesperada do anjo anuncia sempre o início da luta de nós connosco próprios. O anjo não é o arauto de um conflito externo ao sujeito. O anjo do Amor e o anjo amado são um mesmo e só, porque o que eles nos pedem é que deixemos de ser o que somos e nos possamos tornar noutros para além de nós. O anjo do Amor, porque estar amando é estar sendo visitado por um anjo, o anjo da Morte, significa a agonia de um certo que temos sido. Da morte de si mesmo. Desse pouco que se era, desse ser normal e idêntico aos outros que éramos e temos sido. Deus não quer tornar Abraão num homicida. Quer apenas que ele se converta ao que ainda não era. O Amor é o anjo dos múltiplos que há em nós. Esse é o seu mistério. O de proporcionar o nascimento daquele que ainda não éramos. Pedro era infante mas não o rei trágico. Mas morre na infância para não se tornar rei e homem, humano, mas inumano. O mistério que não passa por tornar os outros mortais, como na guerra, mas por tornar-nos imortais a nós, com os anjos que nos salvam da nossa miséria e da nossa solidão. Anjos que não nos pedem outros sacrifícios para além do sacrifício de um certo eu que pode agigantar-se, como Orfeu e Pedro, ao reino dos Mortos para onde partem os e as que foram amados e amadas, homens e mulheres que nos chamam com uma voz que não é deste mundo. Para o Amor ser a essência musical do mundo é preciso que os seus Anjos tenham voz melodiosa, ou sejam portadores dos sagrados instrumentos de Apolo ou Diónisos: ou de uma cítara ou de uma flauta. Ou porque são criadores de um véu ou manto que a salva, feito de pranto e canto, como consente o poema da Fiama Hasse Pais Brandão: Teceram-lhe o manto/ para ser de morta/ assim como o pranto/ se tece na roca (…) Também de pranto/ a vestiram toda/ era como um manto/ mais fino que roupa; ou inspiradores de um grito que nos redime de uma linguagem que nos privou de ensinar, pelas emoções, o grito de luto e de exaltação aos pássaros inumanos do céu, todo o poder de uma alegria e de uma dor como a que está escondida no Amor. Porque, ainda que possamos dizer que a poesia é linguagem, e que é nela e por ela que se canta o Amor, em humana verdade ela não é nem linguagem, nem humana. Ou todos seríamos poetas, ou todos seríamos Pedro e Inês. A poesia, por ser linguagem de Amor e da dor, não é senão a prova mais decisiva do carácter inumano e profético do anjo a falar-nos de si, dos amantes e do jogo da liberdade da alma que é o poder de pela memória ressuscitar os mortos. O poeta apresenta o Amor porque ele é um profeta, um Hermes: viajante do mundo superior e do mundo inferior, do céu dos anjos e do degredo dos mortos.


Recebe um sorriso de quem tem nome de Santo da Galiza...

Anónimo disse...

Muitas graças, Isabel, pelo teu texto. Concordo plenamente com o seu sentido e dá no alvo realmente. Lembra-me isto obviamente Rilke mas penso também em Ibn al Arabi, quem defendeu uma posição muito semelhante e lhe valeu a imcomprensão dos teólogos islâmicos. Ainda também, e na actualidade,Sayd Bahodine Majrouh ("Le voyager de minuit" e "Le rire des amants")onde poeticamente exprime o seu diálogo com o anjo da morte de um jeito enigmático mas muito pouco literário (no sentido em que ele realmente fala de uma experiência contemplativa). Ele foi assassinado pelos fundamentalistas e é surpreendente como ele dialoga com o seu anjo.

Emfim, Isabel, agradaria-me muito continuar mas estou entre duas aulas.(Agora não tenho internet na minha casa pois mudei para Pontedeume, perto da Corunha)

Gostaria, isso sim, de que algum dia tenhamos a oportunidade de conversar, recitar, ler...

Um forte abraço.

Anónimo disse...

Obrigada pelo convite e magníficas sugestões de leitura. Boas aulas, também!