O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


domingo, 17 de fevereiro de 2008


Todos os desertos são multidões esquecidas de se enumerar....

11 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem!Uma articulação feliz entre o que se mostra e o que se diz!

Anónimo disse...

Curioso ! Esta fotografia é como a forma como te vestes! Não sei explicar mas sente-se... é também uma imagem do teu rosto-alma.Porque não a utilizas para o BI? Assim andavas com a alma mais a nu isto é, com o rosto mais despido!

Ana Moreira disse...

Já me informei, a D.G.R.N. não aceita fotografias de corpo inteiro. Os nus, ainda que, artísticos, também estão fora de questão. As almas não são reconhecidas e não têm direito de cidadania na República Portuguesa. Francamente, ainda chamam a isto democracia!

fas disse...

No ponto

Anónimo disse...

Desertos, desertos e desertos...
E sobre os desertos,
A sepente circula:
Está em cima
Mas não passou por lá...
Está em baixo,
Mas ultrapassou-o sem deixar vestígio: Grandes são os desertos, ó minha alma!...
Grandes são as almas, ó deserto de mim!...

Anónimo disse...

Desertos de nós, somos infinitos. Deserto de mim, a tudo incluo.

Paulo Borges disse...

"Deve-se ir ainda além de Deus"

"Onde é a minha morada ? Onde eu e tu não estamos.
Onde é o meu fim último, para o qual devo ir ?
Aí onde nenhum se encontra. Para onde irei então ?
Devo ir ainda além de Deus, para um deserto.

- Angelus Silesius, "Peregrino Querubínico", I, 7.

Anónimo disse...

Ainda bem que lembrou Silesius:«A rosa não tem porquê. Floresce porque floresce. Não cuida de si mesma. Nem pergunta se alguém a vê...".
Vêm-me à memória outros ecos: «Olhai os lírios do campo...(...)»
Que bela evocção! Obrigado.
Ainda o deserto onde a serpente deixa o rasto, zero infinito ou o oito deitado?
«Além-Deus, Além-Deus!».

Paulo Borges disse...

O oito deitado inscreve-se no zero infinito como a imitação que o nega duplicando-o: Uroboros apenas simula, mas nada tem a ver com a serpente que voa sem rasto e sem direcção, sem partir nem chegar.

Anónimo disse...

Caro Paulo Borges,

Vou transcrer a citação de entrada do blogue: "Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...].

E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

Fernando Pessoa, «O Caminho da Serpente»

... a de Silesius:

«Aí onde nenhum se encontra. Para onde irei então ?
Devo ir ainda além de Deus, para um deserto.»

Chegar aí, de fora,é o que eu digo.

Saudações

Anónimo disse...

Curioso aquele "transcrer" no lugar de "transcrever". Não há, de facto, acasos... talvez só casos.