sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Perda e Luto
Que me perdoe Giorgio Agamben pelo furto de duas epígrafes de Stanze. La parola e il fantasma nella cultura occidentale:
"Ora a perda, por cruel que seja, nada pode contra a posse: ela completa-a, se quisermos, afirma-a: ela não é, no fundo, senão uma segunda aquisição - completamente interior, desta vez, e de todo igualmente intensa" - Rilke
"Muitos procuraram em vão dizer alegremente o extremo da alegria: ele acaba aqui por se exprimir no luto" - Hölderlin
"Ora a perda, por cruel que seja, nada pode contra a posse: ela completa-a, se quisermos, afirma-a: ela não é, no fundo, senão uma segunda aquisição - completamente interior, desta vez, e de todo igualmente intensa" - Rilke
"Muitos procuraram em vão dizer alegremente o extremo da alegria: ele acaba aqui por se exprimir no luto" - Hölderlin
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7 comentários:
Agamben perdoa porque é um Benjaminiano...e sabe o que é colher citações.
Sem morte e mortos haveria poesia? Holderlin diz após a "morte" de Diotima:
"Os bem-aventurados, junto de quem se encontra agora Diotima, não falam muito; na minha noite, no abismo dos enlutados, também as palavras escasseiam. (...) Mas o mundo a que regresso não é o mesmo de antes. Sou um estranho, como os insepultos quando sobem ao Aqueronte, e mesmo que estivesse na minha ilha natal, nos jardins da minha juventude [depois da morte de Diotima] (...)nenhum deus me volta a ligar ao passado." E No Requiem Rilke sabe que música escrever sobre Clara Westthoff e compõe, não sei se música só ou um poema:
"desde há uma hora existe uma coisa mais
na terra: mais uma coroa.
Há pouco era uma folhagem leve...Eu teci-a:
E agora esta hera é estranhamente pesada
e tão cheia de escuridão como se bebesse noites futuras das minhas coisas.
Agora quase me assuta a póxima noite
só com esta coroa que entreteci
sem suspeitar que algo ganha existência
quando os ramos se enroscam no anel;
só é preciso compreender uma coisa:
que algo possa deixar de ser. Como se extraviado em pensamentos nunca trilhados em que há coisas maravilhosas
que devo ter visto alguma vez antes...
(...)
A tua morte era já velha
quando começou a tua vida;
por isso a tomou
para que não lhe sobrevivesse.
(...)"
Sem a morte de Diotima e Clara haveria Orfeus? A lira tocaria para fazer a pergunta: por que é que alguma coisa tem que deixar de ser? Por que é que há também não ser?
E haveria Klimt? Como faríamos a aprendizagem do incerto? A Morte torna os que partem eleitos para uma cerimónia. Para essa cerimónia para que só alguns são escolhidos, desde a vida, a Morte entrega convite. Entre a Morte e a Vida os poetas, os músicos e alguns pintores mais não são do que Hermes. Não aprendemos a morrer, mas tornam-nos mais mortais os imortais. O que torna a aprendizagem do incerto a aprendizagem da leitura. Só os poetas sabem o consolo: só eles sabem o que está para lá. Só eles acolhem o que sofremos por deixarmos de ser, e ser também com os que são a nossa força que circula, como no poeta, na coroa, no anel da despedida.
Feita a passagem para as questões da democracia teologia e ecónomia, religião e imaginação lidadas às quetões da sociedade contemporânea. Conforme Giorgio Agamben: «Não é o possível que exige ser realizado, mas é a realidade que exige tornar-se possível. Pensamento, práxis e imaginação (três coisas que jamais deveriam ser separadas) convergem nesse desafio comum: tornar possível a vida».
A vida e as suas perdas que a consolidam,enquanto posse, quando se perdem, por assim dizer. Isto levar-nos-ia, na interpretação que faço, a considerar, num outro nível, a saudade como «uma segunda aquisição», a posse da perda,se assim podemos dizer, purificada pelo sentimento da perda do mundo ou no mundo físico. A expressão do luto é o diálogo que a filosofia pode ter com a poesia, enquanto acto religioso.
Será assim?
Saudações
Agora que reli o post reparei na
confusão contida na minha expressão. Não foi só devido ao cansaço, mas também. No meio daquele caos discursivo, não sei se consegue compreender para além das palavras "infelizes"...
Paulo Borges, poderá dar-me uma luz?
Nem mesmo a poesia me salva do desastre ou só ela...
No soalho da casa das memórias/Oiço estalar o tempo./Os odores e as vozes cantam para adormecer o passado/Limpo o meu rosto/Velho sudário...//A voz da Mãe, grandisa e única/Ecoa por todos os lugares da casa./Então choro em silêncio/Para não acordar os fantasmas/Que a saudade alimenta no seu colo.
Tenho a impressão que desencobri uma parte do obscuro: Perdeu a sua Mãe. Por morte física ou afastamento geográfico?
Ou seria esta Mãe uma Avó, duas vezes Mãe?
É que parece que não houve "a posse da perda" que se dá quando a pessoa amada desaparece do mundo físico ...
Será que essa "Mãe" então não morreu fisicamente? Será que o que morreu foi uma realidade? Um modo de vida, talvez, através da divisão de uma família e o consequente afastamento geográfico?
Quem sabe, para além-fronteiras?
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