O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


sábado, 23 de fevereiro de 2008

Não acredito em religiões ensinadas

Houve, em tempos, um mestre budista que disse algo do género de que estaria satisfeito quando cada ser humano tivesse criado a sua própria religião. Na verdade, podemos perguntar-nos se existem religiões universais, para lá do seu carácter aparente e formal, porque, penso, a religiosidade é vivida intimamente e, no íntimo, é impossível desprezar-se a unicidade de cada um e, portanto, qualquer relação religiosa que se estabeleça entre a pessoa e outra coisa (Deus, o mundo, um aspecto do mundo...), tem necessariamente aquela propriedade.

Acredito que cada um de nós tem, dentro de si, a sua própria visão do mundo, única; que nós próprios, muitas vezes, desconhecemo-la discursivamente, mas entendêmo-la e usamo-la, na acção e tomada de decisões, intuitivamente. Penso que a religiosidade está relacionada com essas cerca de seis biliões de visões do mundo, e que, por isso, há tantas religiosidades quanto seres conscientes, pelo menos humanos.

Não acredito em religiões ensinadas, porque não são espontâneas mas, antes, estranhas e exteriores ao suposto aprendiz, alheias à sua visão do mundo. É possível, no entanto, que existam religiões universalmente formais, mas cujo conteúdo é dado pelo praticante na sua prática, única. Aliás, atrever-me-ia a afirmar que um praticante não tem duas práticas iguais, porque, entretanto, já viveu.

A religião de cada um é indissociável da sua experiência de vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

Anónimos

Se não existe a teoria como chegaremos à prática?

Haverá sempre uma base ensinada pelos mestres para que os aprendizes possam aprender e posteriormente escolher o seu caminho.
Ninguem nasce ensinado, no entanto livre é a escolha de quem quer seguir seu próprio destino!
Será que já está marcado?