O CAMINHO DA SERPENTE

"Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo [...]".

"Ela atravessa todos os mistérios e não chega a conhecer nenhum, pois lhes conhece a ilusão e a lei. Assume formas com que, e em que, se nega, porque, como passa sem rasto recto, pode deixar o que foi, visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Éden como pele largada, as formas que assume não são mais que peles que larga.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ela, como não teve caminho, passa para além de Deus, pois chegou ali de fora"

- Fernando Pessoa, O Caminho da Serpente

Saúde, Irmãos ! É a Hora !


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Eu não existo

Se não há mente, por que motivo nos convencem de que ela se situa na parte superior do corpo, ou seja, na cabeça, no mesmo sítio onde se encontra o cérebro?

Porque se usam, com muita frequência e indiscriminadamente, os termos "mente" e "cérebro" para designar a mesma realidade?

Porque motivo nos ensinam obsessivamente que as emoções, os sentimentos e as sensações não têm realidade própria e que só existem na "mente"? (ou será no cérebro?)

Se as emoções, os sentimentos e as sensações são impulsos electroquímicos conduzidos através do corpo por uma rede neuronal até a um centro processador chamado cérebro, qual é então a relação entre "sistema nervoso", "percepção", "sujeito que percepciona", "eu", "cérebro" e "mente"?

Se é impossível encontrar a mente, onde nasce então o ilusório "sentimento de si"? O que suporta esse sentimento feito de impulsos electroquímicos? Se é ilusório, porque parece tão real?

Porque determinados pensamentos (mente) dão origem a determinadas emoções e sentimenos (corpo)? Porque determinadas emoções e sentimentos (corpo) dão origem a determinados pensamentos (mente)?

Se o "eu" ou o "si próprio" tem origem no fenómeno da percepção (percepção de si = sensação de si = sentimento de si = consciência de si), qual a relação entre neurologia, estética, psicologia, ontologia, fenomenologia, quântica, existencialismo e Budismo? E o Amor e o sentimentalismo cristão?

Que tem a Saudade a ver com tudo isto?

Quando se fala em António Damásio, por que motivo algumas pessoas fazem uma cara muito assustada e ficam de cabelos em pé como se estivéssemos a falar do "bicho papão", e acusam escandalizadas: substancialista!

Se algumas conclusões a que chegam António Damásio e o existencialismo vão ao encontro da insubstancialidade do "si" e da doutrina da vacuidade tal como propõe o Budismo, de que estamos à espera para fazer a aproximação Ocidente/Oriente, de forma a proporcionarmos um alívio mais eficaz ao sofrimento dos seres, sofrimento esse causado pela fé, ao que parece infundada, num "eu"?

4 comentários:

Anónimo disse...

E eu, não tenho nada a dizer sobre o assunto?

Anónimo disse...

Pois, Gautama antes de ser Buda era hindu, não é verdade?

Luar Azul disse...

Uma vida sem sofrimento é como uma comida sem sal. Há quem goste, mas são poucos. para quem não gosta é fácil, é só escolher "sem": coisa mais simples não há. mas não dá gozo, é mais picante haver bons e maus, injustiças e justiceiros, sábios e iludidos. Assim sim, tem SABOR! Ai que bom!!! hummm, sou tão sábio e iluminado... ^_^ coitados dos "outros"... vamos lá à missão... isto sim, tem SAL, sabor intenso!! sentido!

João Beato disse...

;)